comunicação.jpgO colapso financeiro, logo após a quebra do Lehman Brothers, quarto maior banco de investimentos dos Estados Unidos, Nizan Guanaes mandou imediatamente trocar toda a decoração da sede de seu grupo, o ABC, em São Paulo. Era uma forma de mostrar à concorrência e ao mercado que sua empresa não ficaria de braços cruzados diante da crise. E, de fato, não ficou. O ABC, liderado pelo empresário e publicitário baiano, não só não se deixou abater pelo gás paralisante da crise como aproveitou 2009 para fortalecer e aumentar seus negócios. Segundo a revista americana Advertising Age, especializada em publicidade, o ABC fechará este ano como um dos 20 maiores grupos de comunicação e serviços de marketing do mundo – o único brasileiro da lista. Um salto espetacular para uma companhia que até 2007 era apenas voltada à publicidade. Hoje, o ABC, fundado em 2002, é um conglomerado de 18 empresas, com cerca de 1,5 mil colaboradores, que organizam desde eventos de moda até seminários cujas estrelas são personalidades internacionais do porte de Bill Clinton. Sua receita alcançou US$ 280 milhões em 2008 e deve crescer consideravelmente em 2009, com as novas aquisições. Por todos esses feitos e conquistas, Nizan Guanaes foi escolhido o empreededor do ano na comunicação.

O meu objetivo é fazer o ABC, que ainda é uma criança de sete anos,crescer com os pés no chão e responsabilidade

Em setembro de 2008, quando o mundo entrou em

O ABC tem o ritmo de seu sócio-fundador. Na tarde em que recebeu a reportagem da DINHEIRO, na sede da agência Africa, em São Paulo, Nizan Guanaes permaneceu poucos minutos sentado. Hiperativo, levantou-se várias vezes para checar e cobrar informações com suas secretárias. O publicitário tem um lema: “Só o lucro liberta.” Liberta – é bom que se diga – dele próprio, Nizan. “Se algo vai bem, dando lucro, eu deixo de cobrar, a pessoa fica livre de mim por um tempo”, diz Nizan. Como suas empresas vão muito bem, obrigado, o publicitário deixou o grupo nas mãos de Guga Valente, CEO do ABC, e mudou-se para Nova York – a ideia é passar metade do tempo lá e metade aqui. Ele está perto de alugar um escritório em um dos bairros mais elegantes da cidade. “Ter tempo é o maior bem que eu tenho hoje”, afirma Nizan. “Se a empresa está dando resultado, está fazendo direito, ninguém verá minha cara. Cada vez mais estou envolvido na questão estratégica das empresas e menos na gerencial.” “Rose, meu remédio!”, grita Nizan, desta vez sem se levantar. O publicitário não consegue vencer uma tendinite nas mãos, que pelo jeito não será curada tão cedo. Culpa do paciente, que costuma passar quase 20 horas por dia operando de seu BlackBerry, seja de onde for, da Tanzânia ou de Nova York, do Rio ou de Pequim. “Olha só, acabo de receber mais uma mensagem de um empresário querendo ajudar no Parceiros pela Educação”, diz Nizan, de olho grudado em seu BlackBerry. O projeto social Parceiros pela Educação, realizado com o apoio do ABC, ajuda 1.800 crianças de escolas públicas de São Paulo.

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Nizan decidiu passar metade do ano em Nova York, onde alugará escritório em um dos bairros mais importantes da cidade

“Eu não ajudo porque sou ‘bonzinho’. Ajudo porque tenho a plena consciência de que a sociedade precisa também fazer sua parte, não só o governo”, afirma Nizan. Do BlackBerry chegam outras mensagens. Boa parte delas dos Estados Unidos. Nizan tem os dois olhos apontados para o país mais rico do mundo, “sem jamais deixar de ser brasileiro”. Tem negócios por lá – é sócio da Pereira & O’Dell, agência americana de marketing pela internet – e cada vez mais interesses estratégico no país. Em setembro, o grupo ABC foi a única empresa brasileira a participar da quinta edição do Clinton Global Initiative Annual Meeting, fórum sobre saúde global, educação e economia criado pelo ex-presidente Bill Clinton. Por três dias, 60 atuais e ex-chefes de Estado debateram com os empresários mais poderosos e influentes do mundo.

Nizan não se sentiu um estrangeiro. “O Brasil conquistou uma posição de destaque e agora tem direitos e deveres no cenário mundial”, afirma o empresário. “Precisamos aproveitar essa onda para internacionalizar o País, sem que ele perca a identidade.” Nizan e Clinton irão juntar esforços para comandar uma campanha contra o abuso sexual de crianças, que começará em 2010 pela África e seguirá pelo mundo.

 

O projeto Parceiros pela Educação, realizado com o apoio do ABC, ajuda 1.800 crianças de escolas públicas de São Paulo

E tome BlackBerry. É compreensível que Nizan seja refém das ferramentas virtuais. Não importa onde ele esteja, na Tanzânia com Bill Clinton ou em Nova York com Kofi Annan: um negócio pode surgir. Em 2009, vários projetos de negócios saíram do papel. Em parceria com a Doria Associados, grupo de comunicação e marketing de João Doria Júnior, o Grupo ABC criou a Seminars, empresa especializada em palestras e seminários de grandes personalidades nacionais e internacionais. Também em 2009, o ABC e o grupo Luminosidade, de Paulo Borges, acertaram uma associação que permitirá uma grande expansão da atual plataforma brasileira de moda. A Luminosidade é a responsável pelos grandes eventos do setor, como o São Paulo Fashion Week, o Fashion Rio e o Rio Summer, além da feira de negócios em moda e design Rio-à-Porter, que ocorrerá em janeiro de 2010.

“Agora meu objetivo é fazer com que o ABC, que é ainda uma criança de sete anos, cresça com os pés no chão e responsabilidade. Nada de oba-oba”, afirma Nizan, sem antes soltar a velha máxima do lendário empresário Andy Grove, um dos fundores da Intel: “Só os paranoicos sobrevivem.” “Mesmo com os pés no chão, estou sempre atento, em vigília, pronto para fechar outro bom negócio.” A melhor definição sobre Nizan Guanaes, porém, parte de Sérgio Valente, sócio do ABC e presidente da DM9. “Eu sou sócio e concorrente de Nizan. Conheço, portanto, muito bem a figura. Ele tem uma qualidade que poucos empreendedores possuem: a de fazer com que toda a sua equipe salte junto com ele”, afirma Valente. Daqui a dez anos, Nizan Guanaes pretende que o ABC esteja entre os dez maiores grupos do mundo. Haja remédio para tendinite.