O Brasil criou 147.358 novos postos de emprego em agosto, resultado de 2.239.895 admissões e 2.092.537 desligamentos. Os dados divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) referem-se ao Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e fortalecem a percepção de uma desaceleração na criação de vagas.

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Os números apontam uma queda de 38,4% em relação aos 239.069 postos criados em 2024. No ano, a criação acumulada de 1.501.930 postos de trabalho é 13,8% menor que o registrado no mesmo período de 2024, que foi de 1.742.664 vagas.

A queda no saldo de um ano para o outro é explicada pelo fato de que os desligamentos cresceram em um ritmo percentual (6,5%) mais acelerado que as admissões (4,5%). Os dados sinalizam assim uma desaceleração do mercado de trabalho.

O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, pontou a política monetária do Banco Central como principal fator para recuos, comparando seu impacto com o tarifaço de Donald Trump. “Eu diria que o maior impacto é dos juros, porque a tarifa impacta em alguns setores específicos”, disse. “Agora os juros impactam bastante porque interfere no conjunto da economia.”

Desde o mês de junho, a taxa básica de juros, a Selic, encontra-se em 15%, seu maior patamar desde o ano de 2006. O Banco Central busca com a alíquota elevada levar a média da alta dos preços para a meta de 3%, com tolerância de 1 ponto percentual para cima ou para baixo. No acumulado em 12 meses, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), considerado a inflação oficial do país, é de 5,13%.

Apesar do resultado, o ministro disse esperar saldo ainda positivo nos próximos meses, com exceção de dezembro, quando tradicionalmente há fechamento de vagas.

Resultado surpreende mercado

As instituições financeiras projetavam em geral um saldo positivo maior do que o registrado no Caged. Segundo o economista Étore Sanchez, da Ativa Investimentos, a mediana das projeções do mercado era de de 181,9 mil. O banco Daycoval chega a projetar 198 mil vagas.

Na visão da analista de macroeconomia da InvestSmart XP, Sara Paixão, o resultado mexe com as expectativas sobre o futuro dos juros. “O CAGED já apresenta o segundo mês consecutivo de surpresa negativa, o que reforça as expectativas de que o Banco Central deve iniciar o corte de juros durante o primeiro trimestre de 2026″, diz.

Agropecuária é o único setor com fechamento de empregos

No mês, quase todos os setores monitorados tiveram saldo positivo na criação de empregos, com exceção da agropecuária que fechou 2.665 postos. Nas demais, o crescimento ocorreu conforme segue:

  • Serviços: +81.002 postos.
  • Comércio: +32.612 postos.
  • Indústria: +19.098 postos.
  • Construção: +17.328 postos.

Em relação à distribuição, São Paulo liderou a criação de empregos com 45.450 postos (+0,31%); seguido por Rio de Janeiro com 16.128 postos (+0,41%) e Pernambuco com 12.692 postos (+0,82%).

Na outra ponta, o pior saldo foi registrado no Rio Grande do Sul, com fechamento de 1.648 postos (-0,06%). O estado voltou a sofrer com enchentes, apesar de menores do que a grande inundação no primeiro semestre. Depois, aparece Roraima com fechamento de 262 postos (-0,31%) e Santa Catarina, com saldo positivo de apenas 315 postos (+0,01%).