Composto pelo Grupo Comporte e a empresa chinesa CRRC, o consórcio C2 Mobilidade sobre Trilhos fez a única oferta no leilão da concessão de implementação da linha de trem expresso de passageiros entre as cidades de São Paulo, Jundiaí e Campinas na tarde da última quinta-feira, 29, na B3.

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A parceria público-privada (PPP) prevê também a criação de um ramal ferroviário que interligue Jundiaí, Louveira, Vinhedo, Valinhos e Campinas, no interior paulista, assim como mudanças na Linha 7-Rubi, da CPTM.

O consórcio fez a proposta de 0,01% de desconto na contraprestação que será paga pelo governo do Estado, cujo teto era de cerca de R$ 8 bilhões.

Ligado à família Constantino, fundadores da Gol Linhas Aéreas, o Grupo Comporte é responsável pela operação do VLT da Baixada Santista, que liga São Vicente a Santos, e do Metrô de Belo Horizonte, na capital mineira, dentre outras atividades no ramo de transportes. Já a CRRC (sediada em Pequim) é uma das maiores referências internacionais no fornecimento de equipamentos ferroviários.

O Estado de São Paulo será responsável por pagar quase R$ 9 bilhões dos R$ 14,2 bilhões a serem investidos em infraestrutura, ficando o restante para o consórcio. Parte dos recursos estaduais virá do empréstimo de R$ 6,8 bilhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Após o resultado do leilão, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) destacou a vontade de dar prosseguimento aos planos de outras interligações ferroviárias de passageiros da capital. A mais avançada é com Sorocaba, cujo estudo de viabilidade está em desenvolvimento e há leilão previsto para 2025. São José dos Campos e Santos também estão nos planos, com alguns desafios maiores, especialmente no caso da Baixada Santista (pelo relevo da Serra do Mar).

“É inovador, é o primeiro trem de média velocidade do País”, afirmou Tarcísio.

“Imagina como a dinâmica, a vida das pessoas, vai mudar. As pessoas vão poder morar em Campinas e Jundiaí e trabalhar em São Paulo. E vice-versa”, acrescentou.

Tarcísio também citou outras concessões previstas para os próximos meses, como das Linhas 11-Coral, 12-Safira e 13-Jade (todas da CPTM) e dos serviços lotéricos estaduais, além das vendas da Sabesp e da Empresa Metropolitana de Águas e Energia (Emae), dentre outras.

“Vamos frequentar bastante a B3 neste ano”, afirmou o governador.

O projeto da linha de trem que liga São Paulo à Campinas era discutido há pelo menos 20 anos. O interesse do consórcio formado pela Comporte e a CRRC já era discutido nos bastidores há semanas. Na segunda-feira, a CRRC teve uma reunião com o governador no Palácio dos Bandeirantes, conforme consta na agenda oficial, divulgada pelo Estado. Outro compromisso do tipo já havia ocorrido em agosto do ano passado.

Não foram apresentadas outras propostas no leilão.

“Esse trem vai mudar muito a história da nossa região”, afirmou o secretário de Parcerias em Investimentos, Rafael Benini, após o anúncio do resultado do leilão.

O prefeito de Campinas, Dário Saadi (Republicanos), celebrou o resultado.

“É uma conquista histórica. O trem vai impulsionar os negócios da região, facilitar o deslocamento das pessoas entre as cidades, abrir oportunidades, gerar emprego e renda”, relatou.

Diretor institucional da Comporte e coordenador-geral do consórcio, José Efraim Neves da Silva, agradeceu ao governo por apresentar um projeto “exequível”.

“Para que possamos dar continuidade e gerar exemplos, para que outros também venham a participar e contribuir para o crescimento do Estado e da nossa nação”, declarou.

Detalhamento do projeto

Chamado de Trem Intercidades (TIC), o expresso tem trajeto com duração estimada de 1h04 a 1h15, entre o Terminal Palmeiras-Barra Funda, na zona oeste paulistana, e Campinas, com parada em Jundiaí. A velocidade média prevista é de 95 km/h. O valor médio estimado do bilhete é de R$ 50, com teto de R$ 64 (a ser atualizado anualmente, com base principalmente no IPCA).

A operação das linhas do leilão desta quinta envolve construir novas vias para a circulação de trens, ao longo do trajeto já existente (utilizado para transporte de carga e, no trecho até Jundiaí, pela CPTM).

O traçado adotado data do século 19, de modo que envolve estações tombadas como patrimônio cultural na esfera estadual – as quais precisarão passar por restauro, readequações e, em alguns casos, conversão para novo uso, opção no caso de locais que terão uma nova estação. Segundo o Estado, optou-se pela implementação das novas linhas em vias ao longo do caminho já em atividade (pela CPTM e pelo transporte de cargas) para reduzir o custo com desapropriações.

Há também uma determinação de implementação do chamado Trem Intermetropolitano (TIM), com estações em Jundiaí, Louveira, Vinhedo, Valinhos e Campinas. O trajeto seria de cerca de 44 km, com tempo estimado de 33 minutos e velocidade média de 80 km/h.

Nesse caso, a tarifa dependerá da distância percorrida. O previsto é que chegue a cerca de R$ 14 no trecho entre Jundiaí e Campinas, com menor valor em trajetos mais curtos. A estimativa é de que cada trem transporte 2.048 passageiros.

Na Linha 7-Rubi, o Estado calcula que a operação poderá ficar mais ágil. A estimativa é que caia em quase pela metade o intervalo entre trens nos horários de pico, chegando a cerca de 3,5 minutos. Estima-se que a soma do TIC, do TIM e da Linha 7-Rubi chegue a transportar mais de 550 mil pessoas diariamente no primeiro ano.