A empresa de cimentos francesa Lafarge, agora propriedade da suíça Holcim, anunciou nesta terça-feira (18) que concordou em pagar uma multa de US$ 778 milhões aos Estados Unidos e se declarar culpada de ajudar organizações terroristas na Síria, incluindo o grupo Estado Islâmico (EI), entre 2013 e 2014.

“Em meio a uma guerra civil, a Lafarge fez a escolha impensável de colocar dinheiro nas mãos do EI, uma das organizações terroristas mais brutais do mundo, para continuar vendendo cimento”, disse Breon Peace, promotor federal do Brooklyn.

Enquanto a Síria estava mergulhada no caos, a empresa também “solicitou a ajuda (do grupo terrorista) para prejudicar a concorrência da Lafarge em troca de uma parte” de suas vendas, ressaltou o promotor.

A Lafarge “aceitou a responsabilidade pelas ações de seus executivos envolvidos, cujo comportamento foi uma violação flagrante dos códigos de conduta”, afirmou a empresa em um comunicado, no qual “lamenta profundamente” esses atos.

De acordo com a justiça dos Estados Unidos, a Lafarge pagou cerca de seis milhões de dólares ao grupo EI e à Frente Al-Nostra entre agosto de 2013 e outubro de 2014, além de US$ 1,1 milhão a intermediários. Esses acertos teriam lhe rendido cerca de US$ 70 milhões em vendas.

A sanção financeira inclui uma multa de 91 milhões de dólares e outros US$ 687 milhões correspondentes aos ativos obtidos ou mantidos ilegalmente.

A número dois do Departamento de Justiça americano, Lisa Monaco, explicou à imprensa que “quando as empresas ou seus dirigentes adotam um comportamento que ameaça nossa segurança nacional – neste caso apoiando uma organização terrorista violenta – o Departamento reagirá com determinação”.

– “Crimes contra a humanidade” –

A empresa é acusada na França de “cumplicidade em crimes contra a humanidade”, devido às suas atividades até 2014 na Síria.

A investigação das autoridades francesas considerou que a empresa pagou ao EI valores entre 4,8 e 10 milhões de euros. Ao mesmo tempo, está sendo investigado se a Lafarge vendeu cimento a esse grupo e suspeita-se que tenha pago a intermediários para estocar matérias-primas com facções jihadistas.

O processo, que inclui eventos parcialmente cometidos na França, ainda está coletando informações, segundo a Procuradoria Antiterrorista da França (Pnat).

Um juiz de instrução francês agora poderá solicitar provas relacionadas à sanção americana para anexar ao caso.

Ao contrário do processo nos Estados Unidos, a empresa não poderá negociar uma multa ou convenção judicial de interesse público (Cjip) para encerrar investigações criminais na França, uma vez que está envolvida em cumplicidade em crimes contra a humanidade.

A Lafarge sublinhou em seu comunicado que continua cooperando plenamente com a investigação das autoridades francesas, mas disse estar disposta a “se defender de qualquer ação judicial que considere injustificada”.