A empresa francesa de alimentos Lactalis anunciou nesta quinta-feira que foi indiciada por um escândalo global de cinco anos, no qual dezenas de bebês adoeceram devido ao leite em pó contaminado com salmonela, que levou à retirada em massa de produtos na França e em outros países, como Colômbia e Espanha, em 2017.

Os promotores apresentaram as acusações criminais, também visando a fábrica do grupo Celia Laiterie de Craon, por fraude grave, lesão corporal involuntária e falha em cumprir um pedido de retirada do leite contaminado, disse.

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A Lactalis, um dos maiores grupos lácteos do mundo, disse que está cooperando com a investigação. No Brasil, a companhia possui as marcas President, Parmalat, Elegê, Batavo, Itambé, entre outras.

Vários bebês foram diagnosticados com envenenamento por salmonela no final de 2017 na França, depois de receberem produtos lácteos de propriedade da Lactalis. Somente na França, 36 bebês apresentaram sintomas de salmonela três dias após a administração dos produtos Lactalis. Espanha e Grécia também relataram casos, com a Lactalis admitindo na época que seu leite em pó em mais de 80 outros países foi afetado.

Os sintomas de envenenamento por Salmonella podem variar de gastroenterite relativamente benigna a doenças graves em crianças muito pequenas, idosos e pacientes com imunidade enfraquecida.

Os promotores acusam a Lactalis de não realizar prontamente um recall para limitar os danos e disseram ter identificado vários problemas em sua cadeia de produção que levaram à contaminação em primeiro lugar. A Lactalis em meados de janeiro de 2018 retirou das prateleiras todo o leite em pó produzido pela Craon, mais de 12 milhões de embalagens.

A empresa e seu recluso presidente-executivo, o bilionário Emmanuel Besnier, foram duramente criticados por não terem abordado o problema publicamente por semanas. Em 2018, a Lactalis ainda alegou que a contaminação havia sido causada por trabalhos realizados na fábrica no primeiro semestre de 2017. Mas o principal órgão de bacteriologia da França, o Institut Pasteur, descobriu que a bactéria estava presente na produção do local desde 2005.

Várias centenas de pessoas entraram com ações judiciais contra a Lactalis, principalmente por fraude, e os investigadores coletaram dezenas de depoimentos de testemunhas. As acusações desta quinta-feira são “provas da existência de provas sérias e confirmadas neste caso”, disse Jade Dousselin, advogada de uma associação de consumidores dos reclamantes do caso. Ela disse que a medida foi “o primeiro passo para a condenação dos responsáveis ​​por este grande escândalo de saúde”.

Uma porta-voz da ONG Foodwatch, Ingrid Kragl, disse esperar “sanções exemplares” que acabariam com o que ela chamou de “clima de impunidade” para as empresas de alimentos.

Um estudo de 2022 do caso submetido aos investigadores descobriu que a Lactalis havia mostrado “falta de vigilância, ou mesmo cegueira” em relação aos sinais repetidos de que sua produção havia se tornado insegura.

A Justiça também impõe controle judicial a ambas as empresas sediadas no departamento francês de Mayenne (oeste), com uma fiança de 300.000 euros (R$ 1,7 milhão) cada, especificaram as mesmas fontes.

“Esta etapa marca o início da instrução judicial, da qual a Lactalis se compromete a participar, plenamente e com total transparência”, declarou o grupo, acrescentando que isso permitirá revelar a “verdade científica”.