18/01/2025 - 15:00
Uma série de vídeos viralizou nas redes sociais nesta semana, em que pessoas mostravam como era o processo de ganhar dinheiro por “vender’ a íris de seus olhos. Nas redes, internautas afirmam ter faturado entre R$ 300 e R$ 700.
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Com isso, surgiram questionamentos sobre a real segurança dos dados fornecidos nesse tipo de “negócio” e qual a intenção da empresa que realiza a compra.
Mas quem está por trás de tudo isso?
A empresa por trás dessa história é a World, um projeto da WorldCoin, criada pelo cofundador da OpenAI, Sam Altman, em parceria com a empresa Tools for Humanity, que é responsável pela operação no Brasil. Vale lembrar que a OpenAI é criadora do ChatGPT.
Segundo a empresa, mais de 400 mil brasileiros já tiveram a íris escaneada. A ideia é que cada usuário tenha um World ID, uma “prova de humanidade”, que comprove que o dono desse registro é um humano.
Para isso, o World utiliza a Orb, uma máquina que conta com uma espécie de câmera fotográfica, e que é responsável por fazer o registro da íris dos usuários. Depois que o registro é feito, os usuários ganham o World ID e uma “recompensa”.
Em entrevista ao site IstoÉ Dinheiro, Rodrigo Tozzi chefe de Operações no Brasil da Tools for Humanity, explicou que o principal objetivo do projeto é diferenciar seres humanos reais de criações feitas por inteligência artificial.
“A IA é a próxima grande fronteira que a humanidade vai passar, ela vai trazer desafios como a diferenciação de humanos e robôs, no futuro teremos dúvidas de quem realmente é um ser humano e quem não é. Será uma realidade onde vamos necessitar provar que somos reais, e o World ID será essa verificação”, explicou.
Como funciona a “venda” da íris?
A empresa alega que não existe uma relação comercial em momento algum do processo de “verificação de humanidade”. O que as pessoas recebem são criptoativos, que posteriormente podem ser vendidos e convertidos em dinheiro. “Não é um processo de compra e venda, é uma participação no projeto”, disse.
Para ter a íris escaneada, é necessário baixar o aplicativo WorldApp, realizar o cadastro e agendar um dia e horário para realizar o processo verificação.
Ao chegar no centro de verificação, as pessoas se posicionam em frente à Orb, que tira três fotos que capturam: rosto, olho esquerdo e olho direito.
A partir daí é realizado o processamento dentro do equipamento, verificando o usuário. Segundo Tozzi, todas as informações são criptografadas para serem enviadas para o celular do usuário. O executivo também garante que não é possível para a empresa identificar de quem é cada World ID.
Segundo Tozzi, toda informação dos usuários é permanentemente apagada da Orb no momento em que é gerado um código de verificação único, que comprova que aquela íris foi verificada.
O Código em questão é fragmentado e enviado pra um servidor diferente na internet. O destino desses fragmentos são universidades que colaboram com o projeto da World e armazenam esses códigos.
“Tudo isso é feito para garantir a privacidade dos usuários, assegurando que esses dados são anônimos e que os usuários sejam donos da sua própria informação. Assim nada fica armazenado na nuvem ou em propriedade da Orb, ou seja, é impossível a Orb comprar os dados do usuário, porque a Orb não fica com o dado”, argumenta Tozzi.
Preocupação com dados pessoais
Luiz Fernando Plastino, especialista em Direito Digital, Proteção de Dados e advogado do Barcellos Tucunduva Advogados, explicou que o negócio promovido pela World é extremamente delicado.
“Essa coleta de dados demandaria muito cuidado e teria dificuldades para ser algo completamente legal. Alguns países, que tem legislação parecida com a nossa, consideraram que esse tipo de atividade seria proibido. Depois que uma empresa tem acesso aos dados pessoais de alguém, é difícil controlar se está realmente cumprindo o que prometeu ou se está compartilhando ou utilizando os dados em desacordo com o que foi divulgado”, explicou Plastino.
Na onda dos questionamentos, nesta semana a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), enviou uma nota à imprensa informando que questionou a Tools For Humanity em vários pontos, principalmente relacionados à proteção de dados dos indivíduos que toparam escanear a íris.
Questionado, Rodrigo Tozzi disse que já foram enviadas as respostas solicitadas pela ANPD e ainda disse que as dúvidas e preocupações não surpreenderam a empresa.
“É natural que um projeto como esse gere perguntas, e isso faz parte do processo de lançamento de uma nova tecnologia que chega ao mercado. Para nós é importante que tenha essa exposição que houve na última semana, queremos esse debate”, disse Tozzi.
Afinal, o que torna a íris tão especial?
A íris tem papel importante na regulação da luminosidade do olho humano, por meio do seu orifício chamado pupila, que se contrai ou dilata de acordo com a quantidade de luz.
Dr. Alexandre Kazuo Misawa, médico do Corpo Clínico e coordenador de retaguarda de oftalmologia do Hospital Sírio-Libanês, explicou que a íris pode ser considerada uma “impressão digital”, pois possui uma arquitetura única para cada indivíduo, com pigmentações e elevações singulares que só sofrem alteração com intervenção cirúrgica.
Cada íris possui uma forma única definida aleatoriamente no período mesmo antes do nascimento, e até mesmo a íris dos olhos direito e esquerdo de um mesmo indivíduo se diferem, o que a torna uma maneira extremamente única de reconhecimento biométrico.
*Estagiário sob supervisão