27/10/2022 - 8:23
Imagine o seguinte anúncio de emprego. “Somos uma das maiores empresas do mundo e estamos contratando. Aqui, você trabalhará sob comando de um chefe que despreza mulheres, humilha negros e homossexuais e permite o trânsito livre de armas. Além disso, somos uma empresa que orgulhosamente destrói a natureza ao redor.”
Caso fosse real, não seria difícil imaginar a crise de imagem que o time de comunicação e marketing teria de administrar após a sua publicação. Ainda assim, por mais absurdo que pareça, não faltam vídeos em que o atual presidente da República e candidato à reeleição Jair Bolsonaro profira frases que comprovam que ele pensa e age exatamente como o chefe do anúncio fictício. Falar em ESG, neste Brasil distópico de Bolsonaro é greenwashing na veia.
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Mostra a governança de dados do Inpe que nos três primeiros anos do atual governo, o índice de desmatamento no País saltou de 6.947 km2 para 13.038 km2 (2021), alta de 87,7%. No acumulado do período, a área total de florestas derrubadas equivale a 5 milhões de campos de futebol. Árvores no chão e cofres vazios. Segundo estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Instituto Socioambiental (ISA), o orçamento dos órgãos federais com funções socioambientais caiu de R$ 13,1 bilhões em 2014 para R$ 3,7 bilhões em 2021, o menor em 17 anos. Sem o repasse de verbas, o governo sufocou o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o Ibama e a Funai. Em paralelo, desmantelou uma das mais eficientes políticas ambientais do mundo.
O Plano Nacional para Controle do Desmatamento Ilegal e Recuperação da Vegetação Nativa havia sido criado pelo Ministério do Meio Ambiente do governo Lula em 2004 quando o desmatamento bateu 27.772 km2. Daquele ano até 2010, no fim do segundo mandato do petista, o índice havia caído para 7 mil km2, redução de 74,8%. O trabalho foi para o ralo.
E quando o debate migra para o pilar social, a situação beira o grotesco. Em 2018, durante entrevista à Jovem Pan, Bolsonaro afirmou: “Trabalhadores têm que escolher entre ter direitos ou emprego”. Em outra ocasião, ao falar sobre homossexuais, disparou: “O filho começa a ficar assim meio gayzinho, leva um coro, ele muda o comportamento dele.” Com relação às mulheres, os ataques são inúmeros e acontecem das mais variadas formas, de agressões verbais até a tentativa de minimizá-las, como na ocasião que disse que elas deveriam “ganhar menos porque engravidam”. Tudo dito e gravado. Se o Brasil tivesse compliance, Bolsonaro seria demitido por justa causa.