26/08/2017 - 10:43
Um empresário de 44 anos foi detido na sexta-feira, 25, em Aldeota, bairro nobre de Fortaleza (CE), acusado de manter os seis filhos – com idades entre 4 e 19 anos – e a mulher em cárcere privado. De acordo com a Defensoria Pública do Estado do Ceará, denúncias anônimas indicam que os filhos não saem do apartamento, não têm nenhuma convivência social e não praticam esportes.
O pai sofreria de problemas psiquiátricos, com relatos de alucinações. Há denúncias de que a filha mais nova teria nascido dentro do cárcere, em procedimento realizado pelo pai, e que duas crianças não têm nem sequer registro de nascimento civil.
Os filhos e a mãe foram encontrados em um apartamento localizado no segundo andar do prédio onde a família mora, na Rua Visconde de Mauá. O apartamento é composto por cinco cômodos, divididos entre cozinha, quarto, sala, área de serviço e banheiro. Não há móveis no local e todos dormiam em redes. Ali há somente eletrodomésticos – como fogão, geladeira e máquina de lavar.
Eles foram direcionados a uma unidade de acolhimento cujo nome não foi revelado por motivos de segurança. Após a libertação da família, a polícia levou o pai à Delegacia de Combate a Exploração de Crianças e Adolescentes (Dececa).
De acordo com informações da polícia, o homem tem descendência japonesa e foi identificado como Massaharu Nogueira Adachi. Ele mora em Fortaleza há 19 anos. A suspeita é de que o crime aconteça desde quando o empresário chegou à capital cearense. Adachi é filho de um empresário que possui um comércio na parte de baixo do prédio.
Prédio fechado
O imóvel tem três andares. De acordo com o relato de um comerciante que trabalha na região, o prédio onde a família mora é fechado. “O imóvel é da família e poucas pessoas têm acesso ao local”, afirmou. Sobre o casal e os filhos, o comerciante disse que as crianças chegaram a brincar no caminhão do pai e ficavam na rua de vez em quando. “O que eu sei é que a família tinha conhecimento, e ele (Massaharu) não escutava ninguém”, disse.
O crime foi revelado depois de denúncia anônima ao Conselho Tutelar feita na sexta-feira da semana passada. A Defensoria Pública do Estado do Ceará solicitou, por meio do Núcleo de Atendimento da Defensoria da Infância e da Juventude (Nadij), ação urgente de medida protetiva para acolhimento institucional dos irmãos.
O pedido foi acolhido na sexta pela juíza da 3.ª Vara da Infância e Juventude, Mabel Viana Maciel. Sobre o cuidado com as crianças, a defensora pública e titular do Nadij, Ana Cristina Barreto, que acompanha o caso, afirmou que “é preciso aplicar a medida protetiva de acolhimento institucional às crianças e adolescentes em uma unidade de acordo com suas características individuais, mantendo, dentro do possível, os irmãos na mesma unidade, de forma a assegurar a proteção integral de seus direitos”.
Garantia do ECA
A defensora pública afirmou que a realidade dessas crianças está longe de alcançar o que garante o Estatuto da Criança e Adolescente (ECA). “Pelos fatos apontados não há dúvidas quanto à incapacidade dos genitores de manterem os filhos sob sua guarda e responsabilidade”, destacou Ana Cristina Barreto.
Procurada pela reportagem do jornal O Estado de S. Paulo para comentar a prisão do empresário, a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) declarou que o caso está sob segredo de Justiça e que não se manifestaria. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.