Não estranhe se seu colega de trabalho negar o convite para o happy hour naquele bar famoso da Faria Lima alegando que terá uma aula de esqui. Ele não está arrumando desculpa para faltar ao encontro. Esquiar em São Paulo já não é mais um sonho impossível.

Um empresário do ramo da construção civil decidiu apostar em um novo negócio e trazer para a região da Faria Lima simuladores que oferecem a experiência de esquiar, sem precisar viajar até uma região de neve. No último dia 7 de outubro, Marco Parizotto inaugurou a escola Born to Ski e já na primeira semana a lotação se esgotou.

Com um investimento de R$ 10 milhões, Parizotto trouxe para o Brasil dois simuladores holandeses, onde pretende oferecer aulas que prometem aperfeiçoar aspectos técnicos dos mais experientes e ensinar àqueles que ainda não têm familiaridade com o esporte.

“Para um principiante ou para quem esquia pouco, se a pessoa fizer dez aulas comigo eu garanto que ele vai esquiar no primeiro dia na neve”, disse o empresário durante conversa com a IstoÉ Dinheiro.

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Da neve para a Faria Lima

A ideia para o projeto saiu a partir das viagens do próprio empresário para esquiar. Praticante de esqui desde os dez anos de idade, percebeu que o número de brasileiros interessados em esquiar estava crescendo.

“Antigamente eu ia esquiar e encontrava três, quatro brasileiros, era muito pouca gente. Eu fui para o Club Med em janeiro [de 2025] e 70% eram brasileiros. Hoje, no Club Med da França tem mais brasileiro do que francês. Pensei: tem um business aí”, disse.

escola de esqui na Faria Lima

Na mesma viagem, foi para a Espanha testar o primeiro equipamento. A tese era: “o brasileiro não tem essa oportunidade. Ele vai esquiar uma vez por ano e os três primeiros dias são caóticos. Se a gente tiver a oportunidade de oferecer alguma coisa que traga uma experiência de simulação concreta, deve funcionar”.

Em maio deste ano, Parizotto fechou a aquisição de dois simuladores e o aluguel do espaço próximo à avenida Brigadeiro Faria Lima, onde hoje está instalada a Born to Ski. Era dado o start para o projeto que, cinco meses depois, abriria suas portas no coração financeiro de São Paulo.

Não existem dados oficiais do número de brasileiros que praticam com alguma regularidade o esqui. Estima-se que 100 mil pessoas já tenham alguma familiaridade com o esporte, das quais cerca de 50 mil sejam de São Paulo.

O equipamento

Os simuladores adquiridos por Parizotto não são exatamente uma novidade no mundo do esqui. Já são bem comuns ao redor do mundo e, só na Holanda, de onde foram importados, existem 69 centros de treinamento onde são utilizados. Modelos semelhantes também podem ser encontrados em fornecedores chineses e ucranianos.

Na prática, são duas esteiras de corrida em tamanho família, onde é possível controlar a inclinação e a velocidade. O modelo usado pela escola de esqui da Faria Lima comporta até três pessoas ao mesmo tempo, mas Parizotto conta que, em um primeiro momento, trabalhará com uma capacidade de dois alunos por uma questão de segurança durante um período de adaptação.

Os equipamentos utilizados são os mesmos tradicionalmente alugados em estações pelo mundo. A diferença é que os esquis não têm as laterais afiadas, já que não existe neve para ser “cortada”, nem encerados. Eles são apenas molhados para reduzir a aderência ao carpete sintético que faz as vezes de neve.

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Modelo de negócio

O modelo de negócio criado para a Born to Ski é uma mistura do que se pratica na Europa e nos Estados Unidos. Durante a semana, a empresa vai funcionar como uma escola (modelo americano). Por R$ 1.300 no plano mensal ou R$ 1.200 mensais no plano semestral, o aluno faz quatro aulas por mês (uma por semana), de uma hora cada, em dia e horário fixo.

Aos fins de semana, o aluno seguirá o modelo europeu. Ele contrata aulas avulsas de uma hora, divididas em três séries de 10 minutos. “Tem uma hora de aula onde você esquia 10 minutos e descansa 10 minutos. Três grupos revezam a pista durante uma hora. Esse modelo simula uma situação mais parecida com a realidade, onde você desce uma pista em 10 minutos e depois sobe pelo lift [teleférico] por mais 10 minutos”, explica Parizotto.

Escola de esqui na Faria Lima

Em média, cada aula de uma hora na escola de esqui da Faria Lima sai por R$ 300. Para efeitos comparativos, uma hora de aula na estação de esqui de Val Thorens, na França, não sai por menos de R$ 500 para a próxima temporada de neve na Europa.

“Na montanha, o professor vai na frente, você vai atrás e por mais que você tente imitar, ele não consegue fazer correções imediatamente. A aula de 45 minutos aqui vale mais do que meio dia na montanha. É aqui que geramos valor para o cliente”, afirma Parizotto.

A Born to Ski é um negócio familiar. Parizotto, sua irmã e seu genro são os sócios controladores do negócio. Contudo, outros membros da família possuem uma participação minoritária na operação.

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Quem é Marco Parizotto

Formado em administração de empresas, Marcos Parizotto começou a trabalhar com seu pai no segmento de varejo. Filho do fundador do Atacadão, Alcides Parizotto, migrou para o ramo da construção civil quando fundou a incorporadora Inpar, em 1991.

Em 2007, abriu o capital da empresa na bolsa. Para seguir o ritmo de crescimento que o mercado exigia, tentou um follow-on em 2008, ano da crise imobiliária dos Estados Unidos, que acabou atingindo todo o mundo. Sem a capitalização, buscou alternativa em uma emissão de debêntures no mesmo ano, mas as janelas já haviam se fechado.

A alternativa para levar capital foi buscar um novo sócio que injetasse dinheiro na companhia. Em 2008, um fundo imobiliário administrado pela Paladin Realty Partners comprou o controle da empresa. Sob nova gestão, Parizotto se afastou do dia a dia da companhia em 2009 e assumiu uma cadeira no Conselho de Administração, onde ficou até 2010.

Ao deixar o conselho, vendeu sua posição e deixou a empresa que havia fundado. Em 2011 a empresa mudou seu nome para Viver Incorporadora e, em 2016, entra com pedido de recuperação judicial. Em meio à RJ, a Jive assume o controle da construtora em 2018 e conclui o processo de recuperação.

Depois de sair da empresa, Parizotto continuou atuando no segmento de construção. Entre 2008 e 2020, executou pelo menos 35 projetos residenciais de alto luxo no condomínio Fazenda Boa Vista. Também se envolveu em um empreendimento de multipropriedade em Angra dos Reis (RJ).

Nos últimos anos, havia decidido deixar de lado os negócios na construção e administrar seu patrimônio e outros investimentos, até entrar no projeto de sua escola de esqui.