Um pelotão de empresários está acelerando as corridas de automóveis no País. O mais novo nesse grid é o ex-banqueiro e atual consultor Antonio Hermann. Ele tornou-se dono, pelos próximos 30 anos, das Mil Milhas do Brasil, uma prova organizada há 49 anos em regime semi-amador. Nas suas mãos, a 50ª edição, em janeiro, terá no lucro a sua maior meta. Em troca de prover a infra-estrutura para alinhar 54 carrões em Interlagos, Hermann conquistou o direito de vender cotas de patrocínio, obter a renda dos ingressos, receber o dinheiro das inscrições de pilotos e equipes, comercializar um acordo com a tevê e ter participação em cada souvenir da corrida. Se vai dar certo? Já está dando.

Por R$ 900 mil cada uma, a empresa Mil Milhas do Brasil Ltda., de Hermann e do jornalista Ricardo Pereira, já vendeu cotas de patrocínio master para a TAM, a Shell, a Pirelli e o Hospital São Luiz. Valor semelhante foi pago pela TV Globo para transmitir a largada, dar flashs ao vivo e mostrar a chegada durante o Jornal Nacional. A rede de tevê já está em campo vendendo cotas de patrocínio por R$ 1,2 milhão. Em troca de exposição na pista, a Mapfre topou bancar sozinha os prêmios de seguros do evento. Outras 14 empresas estão finalizando a compra de espaços em cima dos boxes de Interlagos, onde haverá centros de hospitalidade com até mil metros quadrados de área. A longa duração da prova, com previsão de 8 a 10 horas, é um atrativo a mais para as companhias demarcarem seus espaços e convidaremos melhores clientes para o ambiente esportivo. ?É uma nova era para o automobilismo brasileiro?, define o engenheiro Francisco Rosa, administrador do autódromo paulistano. ?Vai ser absolutamente fantástica?.

O modelo de privatizar as corridas, em lugar de deixá-las nas mãos dos clubes de automobilismo, floresceu nos Estados Unidos. Ali, a Nascar, categoria de carrões de passeio modificados que empolga os americanos, movimenta cerca de
US$ 1 bilhão ao ano. Por aqui, o sucesso numa categoria muito semelhante vem sendo experimentado, nos últimos sete anos, pelo empresário Carlos Col. Ex-companheiro de kartismo de Ayrton Senna, ele é o dono dos direitos de comercialização do campeonato brasileiro de Stock Cars. As 12 corridas deste ano atraíram um total de 400 mil pessoas às pistas. O orçamento anual da categoria está estimado em R$ 120 milhões. Nada menos que 120 empresas já associaram suas marcas às corridas de Stock. O glamour (e as chances de lucros) desse campeonato, também transmitido pela Globo, atraiu mais dois empresários pesos-pesados para os bastidores do automobilismo: o publicitário Nizan Guanaes e o promotor de eventos Fernando Altério. ?Eles me procuraram e a parceria está fechada?, anunciou Col à DINHEIRO. ?O campeonanto cresceu muito. Nizan e Altério serão fundamentais, no marketing e na comercialização, para a Stock crescer ainda mais?. Este ano, 70 equipes participaram das corridas da categoria.

Na Mil Milhas Ltda., o instante é de plena efervescência. Hermann, ex-presidente da Associação Brasileira dos Bancos e piloto internacional de primeira linha ? venceu as arriscadíssimas 24 Horas de Nurburgring, na Alemanha, e foi tricampeão das Mil Milhas no Brasil ? já deu a largada. Ele está arcando com todos os custos para trazer da Europa os 12 primeiros colocados do campeonato mundial GT-1. Além dos automóveis ? Aston Martins, Audis, Ferraris, Masseratis e Lamborguinis ?, vai bancar a presença de mais de 100 pilotos, mecânicos e técnicos das equipes estrangeiros. Seu investimento na prova é de mais de R$ 4 milhões. ?Se no primeiro ano empatar ou perder de pouco, já está muito bom?, diz. Ele, é claro, vai correr, à bordo de um Saleen que pode chegar, no final da reta, à casa dos 300 quilômetros por hora. A coragem dos empreendedores, como se verá, Hermann tem de sobra.