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por idealismo: em 2004, após o falecimento de Dilor de Freitas, da Cecrisa, os filhos levaram o sonho adiante e concluíram as obras da Villa Francioni, hoje uma premiada vinícola de São Joaquim (SC). Ao lado, Daniela Freitas, uma das herdeiras, participa da colheita com o enólogo Orgalindo Bettú

 

Após uma bem-sucedida carreira no ramo da cerâmica, o empresário Dilor de Freitas, fundador da Cecrisa, empresa que só no ano passado faturou R$ 600 milhões, vislumbrou um empreendimento em que pudesse reunir a família, os amigos, e que o deixasse próximo das artes e do vinho, suas maiores paixões. Nasceu então a ideia de construir uma vinícola. Em 2000, Dilor adquiriu uma propriedade de 300 hectares na cidade de São Joaquim, em Santa Catarina, e iniciou o plantio de uvas. Em maio de 2004, Dilor reuniu seus quatro filhos e netos para uma viagem pelas principais vinícolas da França para que todos pudessem se familiarizar com o universo de Baco.

Alguns meses depois, Dilor faleceu, aos 72 anos, devido a um infarto. Faltavam apenas duas semanas para que o seu sonho, a vinícola Villa Francioni, estivesse realizado. Os filhos optaram por levar o idealismo do pai adiante e abriram a vinícola em dezembro de 2005. Tudo foi feito como Dilor queria. O interior da vinícola é revestido com porcelanato e mobiliado com obras de arte, como a porta de entrada, que é originária de um templo da Indonésia.

Hoje a segunda geração, além de administrar a Cecrisa, transformou o nome Villa Francioni em uma marca premiada. “A razão de ter dado certo se dá pelo fato de uma vinícola ser um tipo de negócio muito envolvente. Quanto mais se conhece, mais se apaixona”, diz Daniela Freitas, filha de Dilor e diretora da Villa Francioni. Assim como os herdeiros de Dilor, é cada vez maior o número de empresários produzindo o próprio vinho.

Entre eles estão nomes como o de Raul Randon, fundador do Grupo Randon; Eurico Benedetti, diretor da fabricante de móveis Bentec; Wandér Weege, da Malwee Malhas; e Maurício Grando, da madeireira Madepinus. Eles empregaram e ainda empregam o mesmo esforço com que construíram seus negócios para produzir vinhos de sucesso. É, contudo, um esforço que custa caro.

“O investimento mínimo para abrir uma vinícola é estimado em R$ 10 milhões. O negócio acaba sendo levado a sério, pois ninguém quer perder dinheiro”, aponta Gustavo Andrade de Paulo, presidente da Associação Brasileira de Sommeliers de São Paulo. A falta de experiência destes empreendedores no negócio do vinho é substituída pela contratação de enólogos de renome ou pela associação a uma vinícola que possui uma estrutura maior.

Este é o caso de Raul Anselmo Randon e Eurico Benedetti. Randon, fundador do grupo que leva seu sobrenome e faturou R$ 4,5 bilhões em 2008, fornece uvas do tipo merlot e cabernet sauvignon, cultivadas em suas propriedades, para a Miolo produzir um vinho que ele possa chamar de seu. Batizado de RAR, as iniciais de seu nome, ele é vendido em todo o Brasil. “Em quatro anos vou completar 50 anos de casado e vamos fazer um rótulo comemorativo”, planeja Randon. Outro associado da Miolo é Eurico Benedetti, diretor da fabricante de móveis Bentec e da vinícola Lovara.

Os executivos do vinho e suas empresas

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Wandér Weege

Empresa: Malwee Malhas Quando entrou no negócio do vinho: 2007
Principal rótulo: Taipa Rose 2008 (R$ 40)

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Maurício Grando

Empresa: Madepinus
Quando entrou no negócio do vinho: 2003
Principal rótulo: Innominabile II (R$ 82)

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Raul Anselmo Randon

Empresa: Randon
Quando entrou no negócio do vinho: 2004
Principal rótulo: RAR 2005 (R$ 58)

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Eurico Benedetti

Empresa: Bentec
Quando entrou no negócio do vinho: meados dos anos 80
Principal rótulo: Gran Lovara 2006 (R$ 48)

Eurico pertence a uma família de imigrantes italianos que chegou ao Brasil em 1875 e se especializou em carpintaria e na produção de recipientes para guardar vinho. Em meados da década de 80, os Benedetti fundaram a Lovara, em uma propriedade de 30 hectares.

A parceria com a Miolo veio em 1997, quando a Lovara passou a receber assistência da vinícola gaúcha. Em 2004, as duas unificaram a estrutura de vendas. “O negócio dos móveis complementa o dos vinhos”, diz Eurico Benedetti, que divide seu tempo entre a vinícola e a Bentec.

Outra associação de sucesso foi a da vinícola Pericó, de Wandér Weege, dono da Malwee, com as vinícolas Monte Reale e Fabian. Desde 2003, Weege, que já era um grande apreciador da bebida, produz vinhos com as uvas cabernet sauvignon, merlot e pinot noir cultivadas em sua propriedade de 12 hectares, também na cidade de São Joaquim.

Há planos de construir uma vinícola, mas por enquanto a Pericó se utiliza da estrutura da Monte Reale e da Fabian. Assim produz anualmente 80 mil garrafas com o rótulo da Pericó. “O nome de uma empresa de sucesso por trás de um vinho imprime credibilidade à vinícola”, aponta Fabio Fiorini, da consultoria de marcas Net Branding.

A paixão pelo negócio é tanta que há quem pense em se dedicar apenas ao vinho. Maurício Grando, dono da madeireira Madepinus e da Villaggio Grando, é um deles. Em 2003, um amigo francês que produzia armagnac (bebida semelhante ao conhaque) visitou a propriedade de Grando, na cidade de Água Doce, em Santa Catarina, e lhe disse do grande potencial da região. Foi o suficiente para que se iniciasse o plantio.

Hoje, ele produz 155 mil garrafas distribuídas em seis rótulos. “Estamos mantendo a madeireira em paralelo. Mas, aos poucos, estou me livrando dos ativos e daqui a quatro ou cinco anos quero ficar só na vinícola”. Tim-tim!