TODAS AS TARDES DE QUINTA-FEIRA A SALA de estar da casa de Celso Moraes, dono da indústria de chocolates Kopenhagen, é invadida por câmeras, cabos e canhões de luz artificial. O silêncio impera no local. ?Gravando?, diz o diretor. Então, o local vira cenário para o programa de televisão Celso entre amigos, de transmissão nacional, que estreou na Rede Bandeirantes há cerca de um mês. No programa, exibido às quintas, à 0h30, Celso recebe um convidado, em geral um cantor da MPB, e ambos dirigem- se para o seu piano ? uma bela peça transparente, de acrílico, importada dos Estados Unidos. Ali, anfitrião e convidado tocarão e cantarão clássicos da bossa nova e, conforme a ocasião, algumas composições do empresário. Não existe pretensão de que o programa dê lucro – até porque a Kopenhagen, uma empresa de capital fechado, arrecada R$ 150 milhões por ano. ?Apresento o programa por hobby?, disse Moraes à DINHEIRO. Ele é o mais recente membro de um grupo de homens de negócios com um pé no estrelato. Antes dele, nomes como os de Roberto Justus, Álvaro Garnero e José Maurício Machline já se dividiam entre a vida no escritório e outra em frente às câmeras. E mais gente, como Abilio Diniz, do Grupo Pão de Açúcar, está se preparando para estrear.
Prazer e negócios se confundem na decisão dos empresários de buscar um espaço na ribalta. Nos Estados Unidos, a força da televisão ajudou a inflar as fortunas de gente que já era reconhecida no meio empresarial. Lá, os casos mais notórios são o de Martha Stewart, dona de uma fortuna de US$ 970 milhões e da empresa de marketing Living Omnimedia, e o do magnata do ramo imobiliário e dos cassinos Donald Trump, que ganhou fama mundial como apresentador do reallity show The Apprentice. Trump possui uma fortuna pessoal de US$ 3,5 bilhões e costuma associar sua marca pessoal a tudo o que faz. No Brasil, traduzido para O Aprendiz, o programa abriu as portas do estrelato para o publicitário Roberto Justus, que, no entanto, gosta de ressaltar as diferenças entre seu estilo e o do protagonista do show original. ?Temos estilos completamente diferentes?, diz Justus, CEO do Grupo Newcomm. Para ele, que prepara a sexta edição do reality show, o programa, além de informar sobre o mundo dos negócios, pode funcionar até como vitrine para os anunciantes. ?Alguns deles até já participaram. A Vivo e a Schincariol são exemplos de campanhas que foram ao ar no programa?, diz.

Outros, como Moraes, da Kopenhagen, preferem usar o tempo nas telas para falar de seus outros prazeres. O próximo a ser visto na televisão pode ser Abilio Diniz, que está em fase de negociações de um programa, com nome provisório de Escolhas, que deve ter como tema a procura de um estilo de vida saudável. Este também é o caso de Álvaro Garnero, um dos diretores da Brasilinvest e apresentador do 50 por 1, programa de viagens da Rede Record que está em sua segunda temporada. Pelo fato do programa exigir que Garnero vá a muitos lugares, a solução encontrada por ele foi trabalhar à distância. ?Só no ano passado foram mais de 200 dias fora do Brasil. Tive que despachar e participar de conference calls de toda parte do mundo. Mas deu certo?, conta.
?Nomes também são marcas, e como tal, estão sujeitas à aprovação do público?, afirma Guilherme Belluzzo, sócio da consultoria de marcas Top Brands. ?Na televisão, a visibilidade que se ganha é quantitativa e não qualitativa. No mundo dos negócios, há quem questione a superexposição?, diz. Para alguns, mais do que isso, a empatia com a nova atividade pode representar até uma mudança nos rumos profissionais. Foi o que aconteceu com José Maurício Machline, um dos precursores entre os empresários- apresentadores. Cantor e criador do antigo Prêmio Sharp de Música, Machline estreou diante das câmeras nos anos 90, quando era herdeiro e executivo do grupo que comandava, no Brasil, os negócios com a marca japonesa Sharp. Apresentava um programa de entrevistas com celebridades batizado de Por Acaso. A Sharp saiu da mão dos Machline e a atração foi extinta há cinco anos. Mas Machline não deixou o show biz. Hoje, atua nos bastidores do mundo artístico com a organização do Prêmio TIM, financiado pela operadora de celulares.