Com o aumento da demanda por metais como o níquel, a fitomineração pode se tornar um negócio lucrativo e mais sustentável que a mineração convencional, mas em menor escala.Em um campo no norte da Albânia, agricultores trabalham entre fileiras amarelas de mostarda em flor. O que eles colhem? Níquel.

A planta é uma das cerca de 700 espécies hiperacumuladoras, ou seja, que têm a propriedade de acumular grandes quantidades de metais do solo, como níquel, zinco, cobre, até mesmo ouro e elementos de terras raras.

Elas evoluíram para armazenar esses metais em seus brotos, folhas ou seiva, e usam esse pequeno truque tóxico para se defender contra predadores e patógenos. Para as próprias plantas, os metais são inofensivos.

De limpeza de solos contaminados a mineração de metais

O uso dessas plantas para limpar solos que haviam sido contaminados por minas ou fundições começou na década de 1980. Uma planta foi capaz de remover pequenas quantidades de césio radioativo do solo do local do desastre nuclear de Chernobyl.

Mas foi somente na década de 1990 que os cientistas se perguntaram: e se utilizássemos todos esses metais preciosos coletados pelas plantas? Eles chamaram a ideia de fitomineração.

Trinta anos depois, plantar flores para fins de mineração está prestes a se tornar um negócio. Mas será que ele pode realmente competir com as grandes minas industriais?

Modelo de negócio

Nos campos da Albânia, há níquel demais no solo, o que impede boas colheitas. Mas também não há níquel suficiente para montar uma mina convencional. Isso torna o local ideal para a fitomineração, de acordo com Eric Matzner, cofundador da startup Metalplant, responsável pelo campo de dez hectares perto da cidade de Tropoje.

“A meta mínima que buscamos é cerca de um terço de tonelada de níquel por hectare”, disse ele.

As plantas do gênero Odontarrhena absorvem o metal e o armazenam. Depois de colhidas e secas, cerca de 2% do seu peso seco é níquel. A Metalplant tritura e queima as plantas, deixando um concentrado cinzento, ou “bio-minério”. As cinzas são lavadas e, com o uso de ácido sulfúrico, transformadas em líquido. Em seguida, são filtradas e cristalizadas em sulfato de níquel, um recurso muito procurado para uso em baterias de grande porte, como as de carros elétricos.

Rejeitos e resíduos tóxicos na mineração convencional

“O impacto ambiental da fitomineração é baixo”, defende Antony van der Ent. Pesquisador da Universidade de Wageningen, na Holanda, ele é um dos pesquisadores mais ativos do mundo na área de fitomineração e consultor da Botanickel, outra empresa do ramo.

O setor espera ganhar relevância diante dos danos ao meio ambiente causados pela mineração convencional, como o desmatamento de grandes áreas de terra e a produção de muito mais resíduos e detritos tóxicos, que podem vazar para o meio ambiente e envenenar pessoas e ecossistemas. Devido ao processamento intensivo em energia, a atividade é responsável ainda por altas emissões de gases de efeito estufa. Com 10 a 59 toneladas de emissões por tonelada de metal, o níquel é especialmente poluente.

A fitomineração propõe mitigar esses impactos. “Uma quantidade enorme de carbono é capturada pela cultura metálica. Ela é liberada de volta na atmosfera durante a incineração das plantas, mas isso significa que você obtém níquel altamente puro com emissões de carbono próximas de zero”, afirma van der Ent.

A fitomineração também tem como alvo terras áridas e consideradas inadequadas para a agricultura devido aos metais presentes no solo.

“Essas terras estão sendo limpas dos metais presentes no solo. Depois disso, provavelmente poderão ser usadas para silvicultura ou fins recreativos”, pontua Rupali Datta, bioquímica da Michigan Tech University que realizou uma extensa pesquisa sobre fitomineração.

Demanda de baterias para veículos elétricos

Embora as plantas sejam capazes de absorver diferentes tipos de metais, cientistas e empresas têm aplicado a fitomineração quase exclusivamente à colheita de níquel: o metal é conhecido por ser abundante na camada superficial do solo em muitas partes do mundo, em países como Brasil, Indonésia, Filipinas, África do Sul ou Estados Unidos.

Enquanto isso, a demanda por níquel deve crescer rapidamente, de acordo com a Agência Internacional de Energia, com expectativa de dobrar até 2050, impulsionada pela demanda global por baterias para veículos elétricos. No entanto, a maior parte do fornecimento vem de minas de propriedade da China na Indonésia, onde as concentrações no solo são altas. A fitomineração poderia servir como uma alternativa em países com menor teor de níquel, ajudando-os a garantir seu próprio abastecimento.

Vale a pena?

A empresa de pesquisa estratégica BloombergNEF estimou que a fitomineração seria muito cara para os compradores de níquel. A Metalplant não divulgou quanto custou para eles extrair o metal, mas afirma que seu objetivo é igualar o preço de qualquer outro níquel no mercado.

“O objetivo é obter demonstrações da paridade de preços. Chamamos isso de vantagem verde ou dividendo verde, em que você obtém um produto melhor pelo mesmo custo”, disse Matzner, da Metalplant. A startup também combina a agricultura com a captura de carbono, pela qual eles podem vender créditos de carbono, para que valha a pena.

Em sua terceira temporada, a Metalplant disse ter colhido mais de três toneladas de níquel em seu campo de 10 hectares na Albânia. Isso é o que cientistas de outros lugares também esperam alcançar. Mas é insignificante em comparação com as minas convencionais, onde a mesma quantidade é extraída em apenas meia hora.

Fitomineração pode substituir minas convencionais?

Para igualar a produção anual de uma mina de níquel convencional, um campo precisaria ter cerca de 200 mil hectares, o que representa 2,5 vezes o tamanho da cidade de Nova York. Para substituir totalmente a produção global convencional atual de níquel, seriam necessários 15 milhões de hectares de campos — uma área do tamanho da Tunísia.

“As economias de escala realmente desempenham um papel fundamental”, disse Kwasi Ampofo, analista de mercado de metais da BloombergNEF. “Quanto maior, mais barato fica. Mas, para a fitomineração, o desafio não tem sido o custo. Tem sido a terra.”

“A fitomineração definitivamente não pode substituir a mineração convencional. Ela pode ser um processo adicional”, aponta a bioquímica Rupali Datta. E campos de monocultura na escala de milhares de hectares não seriam tão ecológicos, no fim das contas. “Onde quer que você esteja fazendo agricultura intensiva, você está usando fertilizantes, pesticidas, água — tudo isso também se aplica à fitomineração”, observa.

Para o pesquisador van der Ent, as comunidades menores que não têm sucesso em cultivar alimentos em suas terras são as que mais têm a ganhar com esse tipo de mineração. Enquanto limpam o solo, moradores podem obter um pequeno lucro com a venda do níquel. “É aí que vejo o potencial”, acredita.