Desde o início da semana, as redes sociais entraram em ebulição após a produção do Big Brother Brasil, na voz do apresentador Tadeu Schmidt, intervir no programa para alertar o casal Gabriel Tavares & Bruna Griphao de que a relação que estavam criando era tóxica e abusiva. “Em uma relação afetiva, certas coisas não podem ser ditas nem de brincadeira”, disse o apresentador. “Estou aqui para fazer um alerta antes que seja tarde.”

Mesmo com certas particularidades – o BBB é um jogo e a relação contratual dos participantes com a Globo é temporária – o episódio pode servir às empresas: elas devem ou não intervir quando há sinais de que funcionárias são vítimas de relacionamentos abusivos?

Entenda o que é relação tóxica, problema trazido à tona no BBB23

Intervir, verbo usado propositalmente na pergunta acima, é uma ação forte demais. Intervir em relações pessoais, só cabe ao Estado quando há sinal de risco de vida para os envolvidos. Mas existem diversas maneiras possíveis da empresa ajudar a colaboradora ou o colaborador. E a total omissão, não é uma delas.

Só que na prática, a grande maioria não olha para o problema. Segundo a pesquisa ‘Violência e Assédio Contra a Mulher sob a perspectiva do mundo corporativo’, realizada pela empresa de recrutamento Talenses, somente 17% das empresas nacionais possuem alguma ação ou política para apoiar funcionárias de violência doméstica. O percentual sobe a 22% entre empresas estrangeiras com operações no País. É muito baixo, ainda mais em um país onde quatro mulheres são vítimas de feminicídio por dia.

Várias dessas mulheres mortas trabalham em algum lugar e raramente a primeira agressão acaba no assassinato. Começa com uma ofensa, com xingamentos, com supressão do direito de fala, com uma relação que no começo é tóxica ou abusiva. Só que é difícil de percebê-la, até mesmo para a vítima. No menor sinal de reação ou denúncia, o abusador alegará inocência. “Era apenas uma brincadeira, “eu não estava falando sério”, são frases comuns.

Como são comumente desacreditadas, as vítimas se calam e se culpam. Terreno fértil para que o abusador cresça ainda mais e avance mais seguro na jornada da violência. Sem informação ou apoio, a mulher se submete. E aqui está uma oportunidade para empresas: educar os funcionários e criar canais para que exponham o problema de forma que se sintam seguros e amparados.

O desafio não é fácil. Muitas empresas vão optar por não se meter ou nem mesmo saber. Desculpas surgirão aos montes, mas a escolha por uma atitude responsável exige coragem e investimento. Para que? Para que o discurso de responsabilidade social não seja só uma narrativa vazia instrumento de marketing ou de relações públicas. Para garantir que sua funcionária tenha a quem recorrer antes que, como disse Tadeu Schmidt, “seja tarde”.