Um grupo de 27 empresas, incluindo gigantes do setor alimentício, como a francesa Danone, a suíça Nestlé e a rede de supermercados Sainsbury’s, assinaram o “Manifesto da Soja do Reino Unido”, documento em que se comprometem a cortar a exportação de soja de áreas desmatadas até 2025. Embora o Reino Unido não seja um dos maiores consumidores globais do grão (foram 3,5 milhões de toneladas em 2020), a decisão aumenta ainda mais a pressão sobre a agricultura brasileira, uma das principais exportadoras do planeta.

A sociedade britânica vem exigindo mais responsabilidade das empresas que atuam na região. No final de 2020, uma investigação apontou que mais de um milhão de toneladas usadas na produção de alimentos no Reino Unido vieram de áreas de desmatamento do Brasil, Argentina e Paraguai. Já naquela ocasião houve um debate sobre a necessidade de barrar as exportações de mercados considerados arriscados.

Agora, a decisão foi tomada e o prazo para regularizar a situação é curto. Além disso, o manifesto tem o potencial de criar um efeito em cadeia, com outros mercados consumidores adotando medidas similares para outros produtos, como carne bovina e óleo de palma, apenas para ficar em dois exemplos. Para muitos produtores brasileiros que já trabalham de forma sustentável, isso não é problema. Mas há uma parcela que precisa mudar suas práticas.

Há uma discussão sobre a necessidade de oferecer incentivos para que os agricultores adotem métodos de cultivo mais sustentáveis. Pode ser uma linha de crédito com taxas diferentes, ou acesso a tecnologias. De fato, existe uma resistência grande de muitos agricultores e mudar métodos tradicionais sem ter certeza da eficácia dos novos modelos. No caso de áreas desmatadas, no entanto, a questão vai além da produtividade.

E, talvez, o “incentivo” definitivo seja o fechamento do mercado para quem não produz de forma correta. O produtor que tiver qualquer passivo simplesmente não vai conseguir acessar os compradores. Pode parecer uma decisão radical, mas o que as discussões na COP26 deixam claro é que não há muito tempo para resolver a questão ambiental. É preciso agir agora.