27/04/2020 - 10:37
A terceira economia europeia continua em marcha lenta pelo coronavírus, mas as empresas estratégicas italianas retomaram suas atividades nesta segunda-feira (27), com medidas drásticas de segurança para evitar uma segunda onda epidêmica.
A Itália enfrenta uma equação difícil: como conter a pandemia e evitar danos “irreversíveis” à economia, nas palavras de seu chefe de governo, Giuseppe Conte?
No domingo, ele estabeleceu um cronograma para a retomada da atividade econômica do país, o mais atingido da Europa, com mais de 26.000 mortos.
Nesta segunda, empresas “estratégicas” puderam reabrir. Em particular, “atividades produtivas e industriais mais orientadas para a exportação”, como automóvel e moda, para evitar penalizá-las ainda mais em relação a seus concorrentes estrangeiros.
Assim, em Mirafiori, Turim (norte), uma centena de funcionários atravessou o portão da fábrica da montadora Fiat Chrysler (FCA).
Os engenheiros e líderes de equipe primeiro, e depois os trabalhadores, passam por um scanner térmico, antes de receber o equipamento de proteção: máscara, luvas e óculos.
Eles precisam trabalhar em protótipos do novo Fiat 500 elétrico, assim como 60 trabalhadores de outro local de Turim.
“Um novo começo que leva a muitos outros”, escreveu o jornal La Stampa, de propriedade da família Agnelli-Elkann, referindo-se aos muitos subcontratados da indústria automotiva.
Na Sevel, joint-venture da Fiat e da fabricante francesa PSA (Peugeot-Citroën) especializada na produção de veículos utilitários e minivans, 6.000 do total de 6.700 funcionários também estão retornando às oficinas para reiniciar a produção dos Ducatos, em Atessa (centro), perto da costa do Adriático.
A planta de 300.000 m2 foi desinfectada, 130 dispensadores de álcool em gel estão à disposição, bem como 600 pontos equipados com desinfetante para que os funcionários possam limpar seus equipamentos.
“O que demonstramos hoje é o exemplo concreto do nosso compromisso prioritário com a proteção dos nossos funcionários (…) fruto de um extenso trabalho com especialistas e virologistas, e concluído por um acordo com todas as organizações sindicais”, afirmou em comunicado à imprensa Pietro Gorlier, um dirigente da FCA.
A indústria automotiva, que contribui com 5,6% do PIB italiano, não é a única a recomeçar.
– Tudo reabrirá em 4 de maio –
Perto de Bolonha (centro), é a fábrica das famosas motocicletas Ducati que retorna gradualmente à normalidade nesta segunda-feira, privilegiando o trabalho remoto para atividades relacionadas a vendas, marketing e finanças.
Os estaleiros Fincantieri reabriram há uma semana, com 10% dos funcionários a princípio. O retorno ao normal com todos os funcionários é esperado para entre o final de maio e início de junho.
No sul do país, as grandes empresas também estão voltando a funcionar, como a gigante de eletrodoméstico Whirlpool, que reabriu sua fábrica em Nápoles para 420 trabalhadores. Ainda mais ao sul, em Reggio di Calabria, é a fábrica da Hitachi Rail, que produz elementos ferroviários para o mundo inteiro, que gradualmente retoma sua produção.
O gigante da aeronáutica e defesa Leonardo S.p.A quase não cessou suas atividades, mas reforçou suas equipes nesta segunda-feira em Grottaglie, perto de Taranto (sul), onde produz duas seções da fuselagem de fibra de carbono do Boeing 787.
E, a partir de 4 de maio, a Itália reabrirá “todo o setor de fabricação e construção, bem como o comércio atacadista desses setores”, disse Conte.
A pandemia e as medidas de confinamento paralisaram a economia italiana. Segundo previsões do governo, o país deve entrar em recessão este ano, com uma queda de 8% em seu Produto Interno Bruto (PIB).
Consequência: em 2020, o déficit público subirá para 10,4% do PIB, contra 2,2% esperado antes do início da pandemia, enquanto a dívida pública deve saltar para 155,7% do PIB, ou 20 pontos mais do que o esperado antes desta crise global de saúde.