Os números da bolsa não andam animadores. O volume de negócios de outubro foi US$ 34 bilhões, queda de 61% ante o mesmo mês de 2014. No entanto, ainda há empresários dispostos a cortejar investidores em busca de recursos. Em meados de outubro, cinco companhias participaram da décima edição do Fórum do Mercado de Capitais, promovido pela BM&FBovespa. A intenção era mostrar números, contar histórias e medir o humor dos interessados. Essa cena será cada vez mais frequente.

Em tempos de retração do crédito bancário, faz sentido para os diretores financeiros diversificar as fontes de recursos. E, apesar da retranca da economia, as estimativas da Bolsa são de que existem pelo menos 300 nomes com porte ou perspectivas de crescimento suficientes para enfrentar o mercado. “Eles estão melhorando sua governança e se preparando para abrir capital”, diz Cristiana Pereira, diretora da Bolsa. Vale a pena apostar nas calouras?

O caso da paranaense GT Foods, que produz frango, carnes suínas e está expandindo suas atividades para os alimentos congelados, é emblemático. Proprietária de marcas com força regional como a Frangos Canção, ela exporta para 80 países e teve um faturamento de R$ 1,3 bilhão em 2014. É uma empresa familiar e, segundo Rogério Gonçalves, um dos fundadores, a meta é captar até R$ 650 milhões para proporcionar liquidez à primeira geração de empresários. Outro uso para os recursos é sair às compras. “Queremos ser uma empresa maior para podermos atuar como consolidadora”, diz ele.

As estratégias das candidatas variam. Eduardo Muszkat, diretor-executivo da incorporadora You, Inc, quer capital para investir mais nos próprios empreendimentos, que hoje são incorporados com uma grande fatia de dinheiro de terceiros. “Com recursos próprios ganhamos mais”, diz ele. “E, no longo prazo, o dinheiro dos investidores é mais barato e mais estável, algo essencial para um setor como o nosso, onde as obras demoram pelo menos dois anos para maturar.” Fábio Mengozi, da empresa paulista de comércio eletrônico Gera, busca atrair sócios para financiar sua expansão internacional.

“Já estamos em seis outros países da América Latina e queremos intensificar nossas atividades neles, crescendo de maneira orgânica ou por meio de aquisições”, diz. O evento também contou com a participação de nomes menos conhecidos em São Paulo, como a capixaba Time-Now Engenharia, que gerencia grandes obras, ou a mineira Labtest, que produz reagentes para exames in-vitro. Todas em busca de recursos para crescer. Compensa comprar essas ações? Voltando à GT Foods, a maior delas.

“O setor de alimentos é relativamente imune às flutuações da economia e o Brasil é muito competitivo nesse negócio”, diz o analista independente Clodoir Vieira. O investidor que apostar em um papel como esse– se ele chegar ao mercado – poderá capturar uma valorização como a registrada por gigantes como BRF e JBS, modelos para companhia. Mas Vieira adverte que a conta não é tão simples. “Empresas recém-chegadas ao mercado, ainda que grandes e consolidadas, são mais arriscadas do que as que têm uma tradição na bolsa”, diz ele. “A liquidez será menor até a empresa se tornar conhecida, o que aumenta as oscilações das ações e os riscos.”