12/02/2025 - 15:00
A taxação em 25% sobre as importações de aço decretada por Donald Trump não irá prejudicar igualmente todas as empresas brasileiras. Análise feira pelo Itaú BBA aponta que ao menos uma companhia pode ser beneficiada pela medida: a Gerdau.
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Fundada em 1901 quando João Gerdau adquiriu uma fábrica de pregos em Porto Alegre, a Gerdau hoje possui indústrias em outros países que devem salvar a companhia dos impactos da taxação, diz o relatório.
O estudo do Itaú BBA aponta que o maior impacto cairá sobre as empresas não estão listadas na bolsa de valores. Responsáveis por cerca de 80% das exportações de aço do país. Duas empresas com capital fechado são destacadas no estudo pela sua exposição aos danos: a Ternium Brasil e a ArcelorMittal.
Outras siderúrgicas com capital aberto terão seus prejuízos atenuados devido à baixa participação dos Estados Unidos em seus negócios. Apenas cerca de 3% das receitas da Usiminas e 4% da CSN provém da América do Norte.
Gerdau fabrica aço nos EUA
Segundo o Itaú BBAA, a Gerdau tem capacidade instalada para produzir 3,8 milhões de toneladas nos EUA e 4,8 milhões de toneladas na América do Norte como um todo.
A companhia exporta cerca de 300 mil toneladas por ano de aço fabricado no Canadá para os EUA. No entanto, o relatório aponta que a empresa deve ter capacidade de transferir esta produção para o país de Donald Trump caso seus compradores não estejam dispostos a arcar com os custos extras de importação.
“Estimamos que um aumento de 5% no preço médio da Gerdau em seu portfólio de vendas nos EUA resultaria em um ganho de 12% no EBITDA da empresa”, calcula o Itaú BBA.
Representantes do setor esperam negociação
O Instituto Aço Brasil, principal representante do país, disse aguardar uma negociação entre os governos brasileiro e americano para melhorar as condições para as empresas exportadoras. A entidade recordou que, em seu primeiro mandato, Donald Trump instituiu imposto semelhante e, posteriormente, determinou cotas isentas para seus principais parceiros comerciais.
“Importante ressaltar que a negociação ocorrida em 2018 atendeu não só o interesse do Brasil em preservar acesso ao seu principal mercado externo de aço, mas também o interesse da indústria de aço norte-americana, demandante de placas brasileiras”, afirmou a principal entidade do setor siderúrgico nacional, que reúne empresas como Gerdau, Usiminas e ArcelorMittal.
Segundo dados da fabricante de aço Nucor citados no relatório do Itaú BBA, as isenções e cotas de livre comércio representavam cerca de 82% dos volumes de aço importados para os EUA em 2024.
Menos importações brasileiras
Outra entidade a comentar os novos tributos decretados por Trump foi a Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham), instituição multisetorial voltada para fortalecer o comércio e o investimento entre Brasil e Estados Unidos.
Em nota, a Acham lembra que o Brasil importa US$ 1,4 bilhão em carvão para ser utilizado na indústria do aço. Além disso, compra produtos feitos de aço como máquinas e equipamentos, peças para aeronaves, motores automotivos e outros bens da indústria de transformação.
“Com as sobretaxas, há o risco de redução das importações brasileiras desses produtos de origem norte-americana”, afirma a nota.
Dados do Instituto Aço Brasil apontam que, nos últimos cinco anos, os Estados Unidos tiveram superávit comercial médio de US$ 6 bilhões. Já ao considerar especificamente os principais itens da cadeia do aço – carvão, aço e máquinas e equipamentos – o comércio entre os dois países é de US$ 7,6 bilhões, sendo os Estados Unidos superavitários em US$ 3 bilhões.
Avanço da inflação nos EUA
As taxações sobre o alumínio e o aço anunciadas por Donald Trump podem ainda aumentar a inflação no país. “Aço e alumínio são produtos no começo da cadeia [de produção]. Então, esta taxação tem um efeito cascata para inflação alta, ainda que demore para chegar no consumidor”, explica o analista da Empiricus Matheus Spiess.
Dados oficiais divulgados nesta quarta-feira mostram que a inflação estadunidense subiu 0,5% no mês passado, depois de avançar 0,4% em dezembro. Em 12 meses, a alta acumulada chega a 3,0%, após registro de 2,9% em dezembro. Projeções de economistas consultados pela Reuters previam altas de 0,3% e 2,9%, respectivamente.
Os novos números mudaram a expectativa de analistas do mercado em relação aos juros nos EUA, que devem permanecer altos por mais tempo e manter assim a moeda do país mais valorizada.