28/12/2005 - 8:00
Os escândalos políticos tornaram-se parte integrante do cotidiano dos brasileiros nas últimas décadas. De tão recorrentes, acabam se assemelhando uns aos outros, com lances e desfechos que parecem saídos do mesmo enredo. No escândalo da vez, porém, há algo de novo no ar. Nunca na história recente do País, o mundo corporativo se envolveu tanto numa crise política como agora e, em alguns momentos, assumiu um papel na linha de frente das denúncias. Uma pesquisa no Wikipédia, a enciclopédia da internet, relaciona os nomes de mais de 50 companhias, privadas e estatais, ao escândalo do Mensalão. Lá estão desde as mais notórias, como o Banco Rural e a agência de publicidade DNA, de Marcos Valério, até alguns convidados de supetão, a exemplo da Somague, construtora portuguesa acusada de envolvimento com o ex-assessor de Antonio Palocci, Rogério Buratti.
O que motivou a participação empresarial nessa crise? A abrangência que o escândalo tomou, envolvendo setores da sociedade até então preservados. ?O avanço da democracia e a desarticulação dos partidos dão à atual crise política uma magnitude jamais vista?, diz o cientista político Fernando Abrúcio, professor da FGV, de São Paulo. Os efeitos dessa exposição indesejada podem ser efêmeros ou duradouros. Para companhias situadas no epicentro do terremoto político, as conseqüências são devastadoras. A DNA se viu tão contaminada pela crise que não resistiu e fechou suas portas. Também foi dramático o impacto sobre os bancos Rural e BMG, acusados de fazer empréstimos fictícios superiores a US$ 25 milhões para o PT por intermédio de Marcos Valério. A matéria-prima de qualquer instituição financeira é a credibilidade. O envolvimento na boataria política poderia causar uma corrida aos caixas e sangrar irremediavelmente suas finanças. O Rural, por exemplo, reduziu o patrimônio em 40%.
Mesmo para as companhias que não tiveram sua sobrevivência ameaçada, os arranhões na imagem tornam-se inevitáveis. ?Sempre que uma empresa é exposta negativamente à opinião pública ela tem a perder?, diz Ricardo Voltolini, da Ofício Plus, especializada em comunicação coporativa e gerenciamento de crises. ?Se as perdas são muitas ou poucas, isso depende de dois fatores: o grau de envolvimento na crise em que empresa mergulhou, e o tempo em que permanece nela. Mas em 100% dos casos o bem mais precioso da companhia é atingido: sua marca.? Durante anos, os Correios apareciam no topo da lista das instituições brasileiras mais confiáveis do País. Desde que um de seus diretores, Maurício Marinho, apareceu em um vídeo recebendo uma propina de R$ 3 mil, a situação mudou, pois parte desse patrimônio ficou danificado. Para Voltolini, empresas com uma história marcada pela transparência tendem a se recuperar mais rapidamente. A Coteminas, dona de marcas fortes como Artex e Santista, por exemplo, saiu rapidamente do foco da crise e provavelmente os efeitos no futuro serão limitados.