15/04/2025 - 16:31
Ano de 2024 foi o mais quente desde o início dos registros, com consequências alarmantes, até mortes. Europa é continente mais atingido. Mas relatório do Serviço Copernicus também traz sinais de esperançaNenhum outro continente está esquentando tão rápido quanto a Europa. O relatório State of the European Climate 2024, elaborado por cerca de cem cientistas do Serviço para a Mudança Climática Copernicus (CCCS) da Comissão Europeia, e divulgado nesta terça-feira (15/04), indica que diversos limites de temperatura foram ultrapassados, e recordes negativos, estabelecidos.
Desde a era industrial, toda a Terra se aqueceu, em média, 1,3ºC, enquanto na Europa foram 2,4ºC. As temperaturas em 2024 foram mais altas do que a média, com exceção da Islândia, que esteve mais fria do que o usual.
“Desde os anos 80, a Europa aqueceu-se mais rápido do que a média global”, confirma Samantha Burgess, uma dos principais autores do relatório. “As temperaturas marinhas foram extraordinariamente altas, o nível do mar continuou subindo, as calotas glaciais e geleiras seguem se derretendo.”
Também em âmbito global, o ano em questão foi o mais quente desde o início dos registros meteorológicos, enquanto a concentração dos gases do efeito estufa na atmosfera subiu mais ainda, voltando a quebrar recordes, frisa Burgess.
750 milhões de europeus cada vez mais afetados
As consequências das mudanças climáticas de origem humana são abrangentes: “A questão não são apenas as médias mundiais. Elas têm impactos no nível regional e local”, afirma Florence Rabier, secretária-geral do Centro Europeu de Previsões Meteorológicas de Médio Alcance (ECMWF), que coopera com o Copernicus.
Quer se trate de inundações, calor excessivo, tempestades ou secas, a vida dos 750 milhões de habitantes da Europa é cada vez mais afetada pela meteorologia extrema, intensificada pelas mudanças climáticas por obra humana.
Em Valência, Espanha, as inundações mataram mais de 220, em outubro e novembro de 2024. Num prazo de poucas horas, a precipitação pluvial bateu todos os recordes, destruindo carros, casas e infraestrutura, com danos totais de mais de 16 bilhões de euros.
Antes, o furacão Boris já causara enchentes ao longo de milhares de quilômetros de rios, em oito países europeus. Em Portugal, incêndios florestais consumiram mais de mil hectares de vegetação, colocando 400 mil cidadãos em risco. Em 2024, temporais e inundações afetaram, ao todo, 413 mil cidadãos na Europa, matando pelo menos 335.
O número de dias de calor extremo foi o segundo maior desde o início dos registros. Sobretudo o leste do continente esteve extremamente quente e seco; no sul houve sérias secas, mesmo no inverno. Em contrapartida, no oeste choveu mais do que em qualquer ano desde 1950. Uma combinação de seca e chuvas fortes eleva, ainda, o risco de enchentes, já que o solo duro e seco não tem capacidade de absorver grandes massas d’água em pouco tempo.
Cidades reagem, energias renováveis avançam
Os Estados precisam urgentemente adotar medidas de prevenção e adaptação, sobretudo quanto à proteção antienchentes e ao estresse térmico, urgiram os pesquisadores do CCCS. Segundo Burgess, um aquecimento global de mais de 1,5ºC em relação à época pré-industrial poderá acarretar até 30 mil mortes a mais na Europa, devido ao calor.
Do lado positivo, os cientistas citaram o fato de mais da metade das cidades europeia estar elaborando planos para se adaptarem ao tempo extremo e proteger melhor seus cidadãos. Paris, Milão, Amsterdã e Glasgow estão na dianteira, com a implementação de medidas de proteção climática, a ampliação das áreas verdes para refrescar as cidades e mecanismos antienchentes.
Outra boa notícia é que, apesar de as emissões carbônicas continuarem crescendo, em 2024 a Europa produziu mais energia do que nunca a partir do sol, vento e biomassa: 45% da eletricidade veio de fontes renováveis.
“Cada fração de grau adicional de temperatura tem significado, pois eleva os riscos para nossa vida, nossa economia e nosso planeta. A adaptação é indispensável”, comentou a secretária-geral da Organização Meteorológica Mundial (WMO), Celeste Saulo, durante a apresentação do relatório.