A Parmalat levou 15 anos para conquistar 30 países. E menos de cinco minutos para anunciar que irá riscar do mapa 20 deles. A notícia foi dada por Enrico Bondi, o interventor italiano da empresa de Parma, em evento que reuniu credores a acionistas da companhia no último dia 19 em Milão. O corte de mercados faz parte de um plano de recuperação que inclui, ainda, a demissão de 15 mil funcionários, redução da linha de produtos ? de 120 para 30 marcas ? e a transformação da parte da dívida de 14 bilhões de euros em novos títulos que serão repassados aos credores. Ao final do encontro,
o interventor fez um pedido aos representantes de 30 bancos presentes ao evento: ?As medidas de ajuste estão sendo feitas. Mas de nada vão adiantar se não houver a colaboração de vocês.? Por colaboração entende-se a reabertura de linhas de crédito e o alongamento dos prazos para pagamento de dívidas. Pelo menos enquanto a Parmalat tenta respirar.

 

A empresa já começou a vender ativos nos EUA e México. Na Europa, o corte de Bondi atinge Hungria, Irlanda e Inglaterra. Na América Latina, Chile, Equador, República Dominicana e Argentina saem de cena. Outras onze nações serão anunciadas em breve. No Brasil, Bondi ainda terá que aguardar alguns dias para implementar seu plano de reestruturação. Isso porque a matriz acaba de retomar o controle da filial e precisa de ajustes antes de colocar em prática a operação resgate. Nos últimos dois meses, a Parmalat do Brasil esteve nas mãos de um interventor nomeado pela Justiça brasileira. Mas na semana passada, o juiz Carlos Henrique Abrão, responsável pelo caso Parmalat, concordou com a realização de uma assembléia para eleger um conselho de executivos que irá administrar a companhia. Entre os notáveis do novo grupo, um nome de peso: Paulo Villares. Há quem garanta que ele é forte candidato a assumir a presidência executiva da empresa, cargo que será preenchido nas próximas semanas. Embora livre da intervenção judicial, a Parmalat do Brasil deverá deixar a Justiça local ciente de qualquer medida de reestruturação.

?Existe uma pressão para que haja um afinamento com os objetivos da Itália, mas precisamos ver se eles poderão ser aplicados aqui?, diz Nelson Bastos, outro integrante do novo conselho. Tal objetivo da matriz é encolher as atividades da Parmalat do Brasil. A empresa ficará 25% menor, com a já anunciada venda de fábricas e de algumas divisões de negócios. A decisão foi aplaudida pelos credores. O Banco do Brasil, que tem R$ 120 milhões a receber, já cogitou até a possibilidade de financiar possíveis compradores dos ativos da Parmalat. Entre eles Itambé, Elegê e Moinho São Jorge.