28/11/2021 - 15:25
Os portões de acesso aos locais de prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foram fechados às 13h (horário de Brasília) em todo o País. A aplicação do segundo dia começou às 13h30 e segue até 18h30 deste domingo, 28, quando os candidatos terão de responder a questões de matemática e ciências da natureza.
O segundo dia ocorre após uma abstenção registrada de 26% entre os 3,1 milhões de candidatos inscritos. O número total de estudantes deste ano é o menor desde 2005, como mostrou o Estadão. As dificuldades impostas pela pandemia e as suas repercussões socioeconômicas afastaram milhares de alunos do exame, que é o principal caminho de acesso à universidade no País.
O estudante Kaíque Octávio, de 18 anos, já estava à frente da Universidade Paulista (Unip) de Sorocaba, no interior de São Paulo, duas horas antes da abertura dos portões. “Moro em um bairro um pouco distante e não quis dar margem a algum imprevisto”, disse.
Apesar de gostar de exatas, Kaíque pretende cursar medicina – ele acaba de concluir o ensino médio. Na prova de domingo passado, ele conseguiu fazer uma boa redação sobre o tema “Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil”, mas ainda não conferiu o gabarito da prova. “Prefiro esperar a prova de hoje e depois ver como foi meu desempenho nas duas provas, mas estou otimista”, disse.
Também uma das primeiras a chegar ao local de prova, a candidata Lorrane Pietro, de 22 anos, se dizia bem preparada para enfrentar a segunda prova do seu terceiro Enem. Em janeiro deste ano, ela fez a prova presencial, mesmo com a pandemia. “Consegui ir bem até, mas agora estou mais preparada. Fui bem na prova de domingo, apesar de ter achado difícil o tema da redação. Como tinha treinado bastante, consegui desenvolver. Sou melhor em humanas do que em matemática”, disse. A jovem pretende fazer medicina veterinária. “Gosto muito de animais”, revelou.
A estudante Flávia Lavyne Santos Ferreira, de 17 anos, chegou uma hora antes da abertura dos portões em Salvador, onde a chuva foi apenas um problema secundário, depois de um ano conturbado de estudos. Ela é estudante da rede pública de ensino e não conseguiu se adaptar às aulas remotas, está fazendo a prova pela primeira vez e quer estudar odontologia.
“Eu tenho uma filha de dois anos, foi bastante dificil. Dentro da escola eu tinha um foco maior, mas em casa a minha filha não entende que estou ali, mas não posso estar à disposição dela enquanto estou em aula. Mas também é por ela que estou aqui, a educação vai transformar as nossas vidas”, comentou.
Já Eronaldo Silva Santos, de 40 anos, já fez o Enem mais de dez vezes e não desiste. “Estou aqui por um sonho, um projeto de vida, já trabalho, já tenho uma vida mais estabilizada, mas os sonhos nunca morrem e o ensino superior nunca vai deixar de ser um sonho e meu projeto de vida.
Alexia Fernanda De Oliveira Moraes, que sonha em estudar medicina e está fazendo o Enem pela terceira vez. Ela quer a Universidade Federal da Bahia e está confiante.
“Fiz um cursinho EAD, estudei em casa, estou nervosa porque é inevitável, mas fui bem na semana passada e sei que irei bem hoje. Quando o nervosismo apertar, irei até o banheiro, lavo o rosto e focarei na prova novamente. Quero cuidar das pessoas através da medicina e quero ser uma médica negra. Quero mostrar para outros jovens negros que a medicina também é uma possibilidade para nós.”
A Bahia foi o Estado com maior número de estudantes que declararam carência e que se autodeclararam pretos ou pardos. Segundo o IBGE, Salvador é a cidade mais preta do País, com 744 mil habitantes autodeclarados pretos.
Pensando nesses estudantes, quarenta professores do coletivo Afronte, iniciativa antirracista, se voluntariaram para fazer um aulão pré-vestibular intensivo, durante o mês de novembro e acompanharam a entrada de alguns desses estudantes que estão fazendo a prova na tarde deste domingo, no Colégio Central, em Salvador.
“Nós que fomos frutos da vitória das cotas, que fomos os primeiros das nossas famílias à ingressar numa universidade e tivemos nossas vidas completamente transformadas pela educação, sabemos a importância da entrada dos estudantes negros nas universidades para a transformação do País, por isso, nos unimos para ajudá-los”, comentou Priscila Costa, coordenadora do Aulão Enem Popular.
Aluno do curso técnico de Mecatrônica no Cefet-MG, em Belo Horizonte, o estudante Luis Eduardo Donizete, 18 anos, chegou para fazer o segundo dia de provas do Enem, no campus da UNA, em Belo Horizonte mais confiante do que no primeiro. Embora não goste de conferir gabaritos, ele diz acreditar ter se saído bem na primeira etapa.
No sábado, nada de livros ou aulas online. O dia foi de passeio com a namorada e os amigos. “Tinha que aliviar o estresse e o nervosismo”. Afinal, ele passou a semana revisando os conteúdos do cursinho. “Fui fazendo resumos e exercícios, que me deram uma base maior para as provas de hoje”, disse.
Primeiro dia
O primeiro dia do exame, no domingo passado, trouxe um trecho da música Admirável Gado Novo, de Zé Ramalho, questões sobre racismo, desigualdade de gênero, temática indígena e sobre a luta de classes, a partir de um texto de Friedrich Engels, coautor do Manifesto Comunista, com Karl Marx. Incluiu, ainda, um item com a música Sinhá, de Chico Buarque, além de trechos de outros cantores nacionais.
Já o tema da Redação foi “Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil”. O Enem 2021 está sendo marcado por polêmicas envolvendo tentativa de controle sobre o conteúdo da prova e crise com os servidores do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), responsável pelo exame.
A prova ocorre com previsão de medidas de segurança contra a covid- 19. Assim como na edição de 2020, o uso de máscara facial é obrigatório desde a entrada até a saída do local de provas. Participantes que estejam com covid-19 ou com outras doenças infectocontagiosas não devem comparecer ao exame e podem solicitar a reaplicação na Página do Participante.