Os portões dos 10.718 locais de aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foram fechados às 13h (Horário de Brasília) deste domingo, 11 de novembro, em 1.725 municípios de todo o Brasil. A partir das 13h, os alunos devem estar em sala de aula e serão realizados procedimentos de segurança. A prova acaba às 18h30 e os alunos só poderão sair com o caderno de prova a partir das 18h.

Neste ano, os candidatos terão 30 minutos a mais para fazer a segunda prova. Ao todo, serão cinco horas para responder às questões de Matemática e de Ciências da Natureza, que incluem Biologia, Física e Química. No primeiro fim de semana, foram aplicadas as provas de Linguagens, Ciências Humanas e Redação.

Abraços grátis e atrasados

Às vésperas de fechar os portões, um estudante despontou na esquina. “Corre! Corre!”, gritavam as pessoas da calçada. Sem afrouxar o passo, o rapaz apanhou uma caneta oferecida por um desconhecido, driblou curiosos e conseguiu atravessar a porta ainda aberta. Era o último a entrar, pontualmente às 13 horas. Todos do lado de fora aplaudiram.

Apesar de as matérias representarem o calo de muita gente, o clima entre os estudantes era de tranquilidade. “Eu me esforcei bastante, espero que caia o que eu estudei”, comentou Daniel Lima, de 17 anos, que prestava a prova pela primeira vez. Quer cursar jogos digitais. “Na semana passada, foi muito cansativo por causa da quantidade de textos. Para hoje, espero uma prova mais ‘direta’.”

Na Unip da Rua Vergueiro, no centro de São Paulo, centenas de vestibulandos ficaram reunidos na calçada até poucos minutos antes do horário da prova. Contra ansiedade para a prova, um grupo exibia cartazes de “abraços grátis”.

“A gente já passou pelo Enem, então sabemos que existe pressão das famílias, colegas, cursinhos”, disse Jéssica Günther, de 22 anos, estudante de Farmácia da USP e participante de um grupo de estudos bíblicos. “Nossa ideia é animar os estudantes. Há três anos a gente vem dar uma força”, contou Samuel Jardim, de 24, também membro do grupo.

Para revisão de última hora, os estudantes usavam celulares em vez de livros. Postulando uma vaga no curso de medicina, a estudante Isabela Formice é uma “veterana”, embora tenha apenas 20 anos. Está fazendo Enem pela sétima vez – três delas como treineira.

“Para chegar a algumas respostas vai ter de usar fórmulas, mas todas as questões são contextualizadas”, previu a vestibulando, que neste ano seguiu uma rotina de estudo das 7h às 21h30, entre os livros em casa e cursinho.

Também concorrendo por uma vaga em medicina, o estudante Alex Gonçalves, de 18 anos, antecipou o almoço para aguentar as 5 horas de prova. “O segredo é fazer 30 questões e depois dar uma descansada. Depois mais 30 e descansa. E assim vai”, planejou.

Morador do Cambuci, na zona sul, Gonçalves saiu de casa com antecedência, porque vinha de ônibus. “Cheguei cedo para evitar imprevisto.”

Faltando menos de 15 minutos para fechar o portão, o garçom Ayrã Xavier, de 22 anos, chegava esbaforido. Morador de Prado, cidade no interior da Bahia, está hospedado desde a semana retrasada na casa dos pais em Santa Cruz, na zona sul, e usou o metrô.

“Fiz a inscrição antes de me mudar, não ia perder”, disse. Xavier concluiu o Ensino Médio em 2012, mas não fez Enem depois disso – o objetivo é passar no curso de audiovisual. “A prova daquela época foi bem mais fácil”, opinou. “Não pensava em fazer faculdade, mas estou tentando ter uma vida mais estável.”

Sorocaba

Duas candidatas chegaram às 13 horas para prestar a segunda prova e reclamaram que o portão já estava fechado. “Não acredito, ainda eram 12h59, a gente podia ter entrado. Houve rigor da parte dele”, disse, referindo-se ao fiscal da prova. Ele alegou ter fechado o portão quando soou a campainha, após cravar o horário. A candidata, que não quis se identificar, disse que seu carro quebrou e ela teve de pegar um táxi. “Paguei R$ 50 pela corrida para nada. Pior que fui bem na primeira prova”, lamentou.

O caminhoneiro aposentado Edivaldo da Silva, de 61 anos, chegou com quase duas horas de antecedência para prestar o Enem, “em busca de um sonho”, como disse. Ele quer se formar em agronomia em universidade pública ou, ao menos, com bolsa de estudo. “Trabalhei desde pequeno e não pude estudar na época certa, agora estou correndo atrás desse sonho.”. Silva morava em São Paulo até ser “atropelado” por seu cachorro, um cão da raça fila, e perder os movimentos do braço. “Fiquei impossibilitado de dirigir caminhão e decidi voltar ao estudo.” Ele havia parado os estudos na quarta série do ensino básico e conseguiu, em escola de adultos, concluir o ensino fundamental e o médio.

Silva está fazendo o terceiro Enem. “Em 2016, consegui nota para bolsa em faculdade particular, mas estava me recuperando do acidente e não pude ir atrás.” Na prova de domingo passado, ele diz não ter feito uma boa redação. “A mudança no número de questões, de 45 para 90, me atrapalhou muito. Quando vi, faltava pouco tempo para terminar e tive de acelerar a redação. Não ficou como eu queria.” O ex-caminhoneiro previa dificuldade na prova deste domingo. “Tenho problema com matemática, mas se não der este ano, estarei aqui em 2019”, prometeu.