Competir com chineses é o que se pode chamar de uma tarefa ingrata, especialmente na fabricação e venda de uma parte significativa de produtos de consumo e industriais. Agora, ter em seus calcanhares, além dos asiáticos, que atuam com custos que beiram o absurdo de tão baixos, também os americanos e os europeus pode soar como uma espécie de suicídio empresarial para a maior parte dos empreendedores. A despeito dos riscos, é o que acontece exatamente no segmento de geradores de energia elétrica no País. Aqui, concorrência estrangeira à parte, quem dá as cartas é a gaúcha Stemac, cuja receita atingiu a marca de R$ 782,9 milhões em 2013.

Dona de uma fatia de 60% do mercado de equipamentos de porte médio, usados por pequenos comércios e edifícios residenciais, a empresa cresceu adotando uma estratégia que passa ao largo das recomendações da maioria dos manuais de gestão. Primeiro porque opera apenas com estrutura própria de venda e assistência técnica. No total, são 600 funcionários espalhados por 38 filiais que operam nos 26 Estados. Nada de terceirização. Cada um dos funcionários de campo visita pelo menos uma vez por mês os clientes. Segundo porque a Stemac apostou todas as suas fichas na fabricação de um único item. “Esse modelo de negócio diferenciado acabou sendo nossa principal virtude”, afirma Jorge Luiz Buneder, acionista e CEO da fabricante de geradores.

“Os clientes valorizam o contato direto com funcionários, pois sabem que estamos comprometidos com os produtos que levam nossa marca.” Mais que apenas a confiança dos clientes, o sucesso da Stemac está ligado também à competitividade de seus produtos. Afinal, muitos dos compradores de seus geradores são da área pública ou fazem aquisições a partir de concorrências, nas quais as decisões de compra levam em conta, principalmente, o preço de venda. Foi o caso dos estádios da Copa do Mundo, em que a Stemac deu uma goleada nos adversários: a empresa, baseada em Porto Alegre, vai equipar nove das 12 arenas, com seus geradores preparados para suprir eventuais apagões energéticos.

Não venceu apenas em Cuiabá, Brasília e Curitiba. Para se manter na dianteira, a empresa adotou uma política agressiva de controle de custos. Foi isso que fez com que Buneder, integrante da terceira geração da família controladora, decidisse transferir o parque fabril da capital gaúcha para Itumbiara, cidade no interior de Goiás, distante 400 km da divisa com São Paulo. Até então, a produção ficava a 1.100 km dos principais centros consumidores. “Somos uma empresa gaúcha, mas somente 6% de nossas vendas são feitas no Estado.” O investimento na unidade, que começou a funcionar em setembro do ano passado, foi de R$ 170 milhões, bancados com recursos próprios.

“Para nos mantermos competitivos precisávamos ficar mais perto dos clientes”, diz Buneder. O empresário garante, contudo, que as raízes gaúchas continuarão a ser cultivadas. A antiga fábrica está em processo de desmonte e o terreno dará lugar a um empreendimento imobiliário de alto padrão, reunindo torre de escritórios, centro comercial e prédios residenciais. O projeto, orçado em R$ 200 milhões, foi a forma encontrada pela fabricante de geradores para bancar a transição e participar dos ganhos do mercado imobiliário, nas cercanias do aeroporto Salgado Filho. “A vocação dessa região mudou e decidimos aproveitar esta oportunidade de negócio”, afirma.

Trata-se da segunda guinada na trajetória da empresa fundada há 64 anos, em meio à chegada da indústria automotiva ao País. No começo, a Stemac se limitava a importar peças e componentes para veículos e máquinas agrícolas. Em 1980, migrou para a produção de geradores, que inclui as versões a diesel e a gás. “O produto começou a ser encarado como um seguro, em caso de falta de energia”, diz Buneder. Esse conceito foi difundido a partir da verticalização das construções nas capitais e também do crescimento da indústria de informática e de telecomunicações, segmentos nos quais o suprimento contínuo de energia elétrica é vital para as operações.