DINHEIRO – Os problemas recentes da GE se originaram em seu braço financeiro, a GE Capital. Como está a situação dessa subsidiária hoje?
BRACKETT DENNISTON O sistema financeiro, nos EUA e em todo o mundo, enfrentou algo que não era visto desde o tempo de nossos pais e avós. Ele ficou à beira do abismo. Agora, a situação está se estabilizando e temos que trabalhar todos para sair da recessão. A GE Capital também está nesse estágio. O importante foi que permanecemos lucrativos por termos também uma área industrial.

DINHEIRO – E a GE deve se manter lucrativa?
DENNISTONCreio que sim. Talvez perto do ponto de equilíbrio (entre receitas e despesas). Reorganizamos a estrutura de nossa dívida, o que melhorou muito nossa posição de curto prazo. O fato é que já temos provisionados os recursos necessários para o pagamento das dívidas que vencerão neste ano e no ano que vem. E vamos continuar fazendo isso, reduzindo nosso risco de débito.

DINHEIRO – Qual o papel da GE Capital nesse novo cenário?
DENNISTONAinda haverá muito espaço para grandes negócios na área financeira. Acreditamos que poderemos nos beneficiar de nossa grande experiência e conhecimento desse mercado. Mas certamente a GE Capital deverá encolher, e responder por cerca de 30% de nosso faturamento, contra os atuais 50%. Há um bom futuro para a área financeira, embora seja importante lutar para sair intelidessa recessão. O bom é que temos os meios e estamos tomando as medidas apropriadas para atingir essa meta.

DINHEIRO – Isso quer dizer que a GE quer voltar a ser mais industrial?
DENNISTONSem dúvida. Estamos reorientando nossa empresa. Isso não quer dizer que deixaremos de atuar no segmento financeiro, mas certamente queremos que nossa atividade industrial responda por uma proporção maior de nosso faturamento.

DINHEIRO – Como a GE pretende evitar novos sustos na área financeira?
DENNISTONReduzindo nossa dívida e sendo muito transparentes nisso. Em março divulgamos informações detalhadas sobre nosso negócio financeiro.Antes mesmo que se falasse em “stress test”, pegamos as métricas que o governo dos EUA e o Fed tinham estabelecido e aplicamos para todos os nossos ativos globais. Fomos claros ao mostrar como víamos a nós mesmos. O resultado é que nossa área financeira está bem. Os negócios nessa área sempre voltam fortes. Acredito que estaremos preparados para quando isso ocorrer.

DINHEIRO – A crise afetou a área de energia da GE?
DENNISTONO mercado de energia continuou forte. Em parte porque temos uma carteira de pedidos muito boa. Mas também porque temos um backlog muito bom na área de serviços de energia. Conseguir casar nosso grande portfólio de energia com nossa oferta de serviços nesse segmento é o que garante a ele peso significativo no total de nossos negócios.

DINHEIRO – E daqui para a frente?
DENNISTON Achamos que o futuro será a energia. E que será energia limpa. Por isso, nossa aposta tem sido em fontes renováveis. Compramos nosso negócio de geração de energia eólica há poucos anos. Era uma empresa muito pequena, mas hoje já é um negócio de US$ 7 bilhões em receita e com um futuro brilhante. Temos ainda investimentos em energia solar e em baterias avançadas. Esses são componentes que consideramos fundamentais na construção de um futuro mais limpo.

DINHEIRO – E como ficam os investimentos em outras fontes energéticas?
DENNISTON Também temos nossas atividades em gás, pois consideramos que ele terá importante papel no futuro, já que é muito limpo e é cada vez mais eficiente. Outra matriz em nosso portfólio é o carvão. Trabalhamos na gaseificação do carvão, que, acreditamos, é o futuro para o uso desse combustível. Esse processo permite eliminar razoavelmente as emissões de carbono decorrentes de sua queima. E, claro, há também nossa divisão de petróleo, que está indo muito bem. Temos uma grande presença na América Latina, com o fornecimento de equipamentos, inclusive para exploração submarina.

DINHEIRO – Que outro investimento industrial a GE vê como promissor?
DENNISTONO investimento em água. Estamos apostando em água, pois acreditamos que será um ativo muito importante no futuro e cuja importância só deve crescer. Acredito que o mundo ainda tem que perceber a seriedade do problema de escassez de água e precificar esse problema. Ele ocorre aqui na América do Sul, assim como em muitos outros lugares. Por isso estamos otimistas com essa área de negócios.

DINHEIRO – O que a GE pensa da política de energia de Barack Obama?
DENNISTON É uma política inteligente e também muito boa para os EUA. Além disso, traz vantagens para os segmentos da indústria de energia que nos interessam. Para nós não há dúvida no que a ciência diz sobre o aquecimento global. E é algo que tem que ser resolvido. Nosso presidente [Jeff Immelt] esteve recentemente com o presidente Obama, numa reunião em que o principal tema foi exatamente a energia limpa. Sempre defendemos que a energia limpa é uma boa opção e ainda ajuda a diversificar a matriz energética. Isso significa que o país depende menos de petróleo e dos países que o produzem.

DINHEIRO – A GE se relaciona melhor com Obama do que com Bush?
DENNISTON Não colocaria nesses termos. O presidente Obama está adotando políticas que sempre apoiamos, especialmente com a criação de empregos em setores sustentáveis. Mas haverá também pontos em que discordaremos de Obama, assim como houve áreas em que concordamos com o presidente Bush. Isso é uma certeza. Pessoalmente, o que acho é que Bush falhou em não elaborar uma política abrangente para o setor de energia.

DINHEIRO – Em que ponto a GE discorda de Obama?
DENNISTONSe queremos resolver o problema do aquecimento global, necessariamente temos que passar pela geração nuclear. Mas, no governo Obama, essa alternativa parece ter ficado em segundo plano. Isso apesar de muitos países estarem investindo nessa tecnologia. A China, por exemplo, está construindo várias usinas, e o mesmo ocorre em outros países.

DINHEIRO – Como a GE vê a situação econômica nos EUA?
DENNISTON Acho que o sistema financeiro está um pouco melhor. Não estamos mais em fevereiro ou março, quando as pessoas estavam preocupados com o que viria após a implantação dos “stress tests”. As coisas parecem ter se estabilizado. Agora o desafio é a recuperação, sendo que isso vai levar algum tempo. A crise causou muitos danos. Acho que a retomada está começando, mas, do ponto de vista dos EUA, isso precisa ser acompanhado de um esforço para se criar uma base sólida para o crescimento.

DINHEIRO – Quais as consequências para a GE da redução de sua nota pela Moody’s e pela Standard and Poor’s?
DENNISTON As consequências foram muito limitadas. O rebaixamento foi de apenas um nível em uma das agências e de dois níveis na outra. Fora que ambas mantiveram as notas como estáveis, o que é muito importante. Nenhuma outra empresa financeira no mundo manteve suas notas, todas foram rebaixadas. Então, acho que foi uma decisão muito mais ligada ao sistema, ao tipo de atividade, do que particularmente à situação da GE. E apenas as dívidas de longo prazo é que foram rebaixadas. Mas, nesse caso, já fomos precificados pelo mercado. Perdemos o grau AAA, mas não houve prejuízo, exceto, talvez, de prestígio.

DINHEIRO – Mas o prestígio, nesse caso, não é fundamental?
DENNISTONNão me entenda mal, nós gostamos do AAA. Gostamos mesmo, eles eram um sinal da nossa força e poder. Mas o mundo mudou. E mudou de forma imprevisível. Considerando isso, acho que estamos bem. Nossa nota ainda é muito boa. Podemos fazer melhor num ambiente como esse? Acho que não, especialmente considerando que estamos na pior crise desde 1929.

DINHEIRO – Que oportunidades a GE vê nos emergentes?
DENNISTONVemos muitas oportunidades nos mercados em crescimento no mundo. Eles vão crescer muito mais rápido que o mercado dos EUA. E, como o objetivo da GE é elevar seu faturamento entre 3 e 4 vezes o PIB mundial, é preciso investir muito nos mercados em expansão.

DINHEIRO – O Brasil se encaixa nesse grupo de que forma?
DENNISTON O Brasil certamente é um desses mercados. Há algo de incrível no País. Venho para cá há 12 anos e a transformação que você nota no País impressiona. A América do Sul é importante, mas certamente o Brasil é o principal.

DINHEIRO – A receita da GE nos emergentes vai aumentar?
DENNISTON Não há dúvida que sim. Hoje temos mais de 50% de nossa receita vindo de fora dos EUA. Mas há alguns mercados que vão crescer muito mais que outros, especialmente entre os emergentes. Não há problema nisso, desde que você esteja bem posicionado. E acredito que estamos preparados para isso. Daí tiramos nossa força.

DINHEIRO – Qual sua opinião sobre o presidente Lula? Ele é mesmo “o cara”?
DENNISTON Ele tem se saído bem. Acho que ele é um dos caras.

DINHEIRO – E quem são os outros?
DENNISTON Barack Obama é certamente um dos caras. [O presidente da França, Nicholas] Sarkozy é outro. [O premiê britânico, Gordon] Brown não é um dos caras, não mesmo. A liderança na China também entra no grupo, pois tem feito um ótimo trabalho em meio à bagunça da crise. Esses são os caras. E a mulher é, certamente, a [premiê alemã, Angela] Merkel. Ela é uma ótima líder.