28/12/2021 - 8:31
Adeus aos marcos, francos, liras, ou pesetas. Em 1º de janeiro de 2002, três anos depois de seu nascimento oficial, os habitantes de 12 países europeus puderam, finalmente, ter euros nas mãos e nas carteiras.
A AFP visita seus arquivos para recuperar os primeiros dias deste salto histórico, marcado por um misto de euforia e de reservas.
“Café, croissant, baguete e flores: os franceses estreiam o euro nos pequenos comércios, com grande curiosidade”, relata uma matéria divulgada na manhã de 1º de janeiro.
“Alguns foliões, em particular, fizeram do saque de euros um dos atrativos de sua festa” para tocar na nova moeda o mais rápido possível. Cerca de 450.000 saques em dinheiro foram registrados na madrugada da virada nos caixas eletrônicos.
Em frente a uma dessas máquinas, uma mulher olhava para sua nota: “Há um ano que esperava por isso. Podemos, enfim, tocar neles (os euros)”.
– “Moeda de bárbaros” –
Para os primeiros gastos em espécie, os pequenos comerciantes abertos no primeiro feriado do ano estavam na linha de frente.
E procuraram seguir, na medida do possível, a obrigação de devolver o troco em euros, embora ainda recebessem em francos franceses. A antiga moeda continuou a circular por várias semanas.
Nos dias que se seguiram, a escala mudou. A rotina voltou ao normal, e as grandes lojas entraram na dança.
“As moedas são todas iguais”, reclamou a balconista de uma rede de roupas irlandesa, em Dublin. “E deveriam abandonar as menores, a moeda de 1 centavo, que é ridícula”.
Em Atenas, tudo parece funcionar, com uma reação bem-humorada da população local em relação à mudança.
Mas nem todo o mundo. No mercado central, um bairro popular localizado aos pés da Acrópole, o dracma continuava dominando os negócios em 3 de janeiro.
“Podem ficar com a moeda bárbara de vocês”, um açougueiro soltou.
Na Itália, onde o então governo de Silvio Berlusconi se dividia em relação à moeda única, filas intermináveis se formavam em bancos, correios e bilheterias das estações de metrô. A polícia intercedia, quando a situação se encrespava.
Em Nápoles, foi disponibilizado um número gratuito, o “SOS euro”, para que os consumidores italianos pudessem relatar erros e abusos na conversão da nova moeda.
– O teste do Big Mac –
Aproveitando-se a confusão momentânea, alguns ajustes de preços não passaram despercebidos.
No Vaticano, a “bênção papal” em um pergaminho passou de 5.000 liras para 3 euros, quase meio euro a mais. A entrada para os museus do Vaticano e para a cúpula da Basílica de São Pedro também ficaram mais caras.
Na Espanha, as famosas lojas de “tudo a 100 pesetas” (0,60 euro) passaram rapidamente a “tudo a um euro”. Na maioria dos 12 países, as histórias de “arredondamentos” exagerados se multiplicavam.
A Comissão Europeia garantiu, porém, que “nenhum excesso geral de preços foi encontrado”.
O então presidente do Banco Central Europeu, o holandês Wim Duisenberg, utilizou sua própria experiência para tentar convencer os cidadãos.
“Quando comprei um Big Mac esta semana, acompanhado de ‘shake’ de morango, custou 4,45 euros, ou seja, exatamente o preço que paguei por este mesmo lanche em marcos alemães” antes da mudança.
– Escassez –
No final daquela primeira semana, o principal problema era a escassez de moedas e os pequenos cortes no fornecimento de cédulas em vários países.
Na Holanda, aluno exemplar da mudança para o euro, supermercados e postos de gasolina sem dinheiro em espécie decidiram, por alguns dias, voltar a devolver o troco em florins.
Na França, o governo reconheceu ter ficado surpreso com “a pressa dos franceses em se livrar de todos os seus francos em poucos dias”: das notas de maior valor “escondidas debaixo do colchão” às “moedas guardadas no cofrinhos das crianças”.
Para não perturbar o sistema, as autoridades bancárias pediram aos franceses que não comprassem “sua baguete com uma nota de 500 francos”, o equivalente a mais de 75 euros.
Apesar destas dificuldades, os primeiros passos das notas e moedas de euro pelas mãos de mais de 300 milhões de europeus são amplamente celebrados como um sucesso.
“Nem mesmo o lendário apego dos alemães ao seu marco resistiu à febre”, dizia a AFP em 5 de janeiro.
“Estou convencido de que 1º de janeiro de 2002 ficará nos livros de história de todos os nossos países como o início de uma nova era na Europa”, afirmou o entusiasmado Wim Duisenberg, apelidado de “o pai do euro”.