EXPERIÊNCIA INESQUECÍVEL:
o empresário David Appel carrega as uvas para o vinho que o grupo produzirá.

ACOMPANHEI A VIDEIRA DE UVA merlot em todas as fases. Podei a planta, colhi, selecionei as melhores uvas, carreguei caixas, empurrei barris, misturei a levedura até encontrar o ponto certo. Não foi fácil, mas valeu.? Este relato poderia ser de um enólogo especializado na produção de vinhos finos. Mas não é. O autor desse depoimento emocionado é David Appel, empresário paulistano que há 12 anos se interessa por vinhos. Ele e outros 22 colegas aprenderam, na teoria e na prática, como se produz a bebida de Baco e estão criando uma safra premium a partir da vinha que ajudaram a cuidar. O grupo, na verdade, faz parte da primeira turma do programa Winemaker, um curso oferecido pela vinícola Miolo, inédito na América do Sul, que começou em agosto de 2008 e terminará em janeiro de 2010. No final, cada um receberá dez caixas do vinho, com nome e rótulo personalizados. Uma das etapas de produção da bebida aconteceu na segunda quinzena de março e DINHEIRO acompanhou todos os passos dos enólogos de fim de semana, na sede da Miolo, em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, onde se reuniram pela terceira vez para a colheita e vinificação da uva. A rigor, a Miolo está tentando replicar o mesmo modelo de sucesso das vinícolas californianas, que já formaram cerca de 750 mil enólogos amadores. ?O curso é muito enriquecedor. E é bom para mostrar que estamos fazendo vinho de qualidade?, diz Adriano Miolo, diretor técnico e um dos herdeiros da vinícola.

EXPERIÊNCIA INESQUECÍVEL: o grupo dos winemakers se reúne na vinha para a colheita

O verde dos vinhedos surpreende os olhares dos aprendizes que, em outras visitas, chegaram a ver a videira praticamente sem folhas e depois em fase de maturação. Na colheita, o clima de animação do grupo torna-se crescente à medida que as melhores uvas são selecionadas para produzir o vinho. Depois disso, as uvas são levadas para a sede da vinícola, onde se segue um complexo processo de vinificação. O programa todo, que custa R$ 6 mil e inclui hospedagem no Hotel Villa Europa, do qual a Miolo é acionista, terminaria nesta última visita. Mas os participantes preferiram estender a experiência para acompanhar o corte da bebida e o engarrafamento após seis meses de maturação. ?Passei a valorizar cada taça de vinho que tomo. É muito trabalhoso produzir?, revela Fátima Mendonça, advogada baiana que fez o curso para entender mais sobre a bebida. Um propósito diferente do que motivou o casal carioca Renato Moura e Andrea Rangel. Há três anos eles se aposentaram e compraram uma fazenda de café de 400 hectares na cidade de Baependi, no sul de Minas Gerais. Lá plantaram 400 mudas das uvas sirah, cabernet sauvignon e cabernet franc. No primeiro ano, quase tudo se perdeu devido a um fungo na plantação. Agora, com o curso e apoio técnico de entidades do setor, pretendem fazer 800 garrafas até o final do ano. ?Com esta safra vamos tentar entender o nosso potencial. Para nós, só faz sentido fazer um vinho premium porque nossa produção será pequena?, diz Moura.


EXPERIÊNCIA INESQUECÍVEL:
a comemoração da colheita com ato simbólico de pisar nas uvas

O objetivo dos produtores brasileiros é conseguir a denominação de origem controlada, que é um certificado de qualidade mais rígido para os vinhos brasileiros. ?Apesar de os vinhos finos representarem apenas cerca de 15% da produção nacional, eu os tenho apresentado a pessoas muito exigentes e eles têm se saído bem?, afirma José Albano do Amarante, autor do livro Os segredos do vinho (Editora Summus). A própria Miolo, que passou a fazer vinho em 1989, tem contribuído para a imagem do vinho brasileiro. Com videiras espalhadas no Rio Grande do Sul e no Vale do São Francisco, na Bahia, ela produz sete milhões de litros. Deste total, 10% é exportado para mais de 20 países. São 30 rótulos dentre os quais se destacam o Brut Millésime (R$ 55) e o Lote 43 (R$ 70), ambos só produzidos em safras de qualidade excepcional, sendo que o Lote 43 foi elaborado com a consultoria do enólogo francês Michel Rolland, um dos mais influentes do mundo. A próxima visita de Rolland à Miolo será em julho. Para o grupo de enólogos amadores pode ser a chance de encontrar um dos maiores professores do planeta em seu hábitat: as videiras.