30/01/2023 - 12:42
Só em 2023, a onda de demissões das big techs chegou à casa de 55 mil profissionais cortados. Mesmo ocorrendo em outros setores, a Tecnologia é a mais afetada no chamado ‘pós pandemia’: segmento não performou o prometido e tenta compensar a perda de ganhos com o conhecido layoff – período de demissão.
Para especialistas, quem mais sofre no momento são os próprios demitidos. Para os demais, sobra talvez um ‘pagamento de contas’, já que podemos ver o preço de produtos mais caros e um atraso em inovações.
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“Muito do que aconteceu nesse cenário resulta de um ajuste de comportamento e de expectativas, levando em consideração o volume de contratações no mercado de tecnologia nos últimos 2 anos, e que as empresas precisariam entregar resultados maiores do que conseguiram.
As bigtechs são as únicas afetadas? O setor de startups também pode sofrer com demissões?
“As demissões nesse início de ano não são só em big techs, mas as delas chamam atenção pelo número mais significativo. No Brasil, tivemos os cortes da CVC, por exemplo. Esses processos são ajustes da operação às expectativas do mercado. Isso não é exclusivo das techs. Mas qualquer movimento delas, há uma gritaria no mercado”, avalia o pesquisador nas áreas de Comportamento e Finanças e pró-reitor no IBMEC RJ, Samuel Barros.
As startups, que tiveram um ano ruim no Brasil, vão sofrer impacto na medida em que o mundo não opere com resultados tão bons como os projetados, acredita Barros. “Assim, também podemos esperar cortes nas folhas das startups. Também podemos esperar profissionais ‘mais baratos’ no mercado, o que só é bom para as empresas: haverá mais ofertas de pessoas aptas para as funções a preços menores”, explica o pesquisador.
Quais as causas desses cortes no setor de tecnologia? O que fez a ‘bolha’ estourar?
Para Barros, não havia ali uma ‘bolha’ do setor. “O que tínhamos era uma necessidade de profissionais para um conjunto de entregas que ao fim do período não se cumpriu. Uma necessidade de contratação de equipe grande para entregar ‘sonhos’ grandes que não se cumpriram. Empresas existem para gerar resultados e lucros, e a falta de entrega pode gerar uma reestruturação”, defende.
“A vida off-line ficou no passado e retomou de forma veemente na medida em que o processo de vacinação contra a Covid-19 acelerou. O risco de recessão fez o temor da inflação minar cada vez mais o plano de expansão das big techs. Essa dinâmica fez com que os internautas comprassem menos, bem como houvesse menos investimentos, o que gerou um abismo entre consumidores e big techs”, acredita Juliano Sanches, doutorando em Política Científica e Tecnológica pela Unicamp.
Como isso afeta as pessoas? Teremos queda na produção de celulares, eletros – como tem ocorrido na China?
O primeiro afetado é o próprio profissional dispensado; mas há contratações, ainda que haja um volume grande de demissões, avalia Barros. “Para quem não é do setor, ou seja, a população, pode ser afetada pela entrega de novidades, inovação. Isso pode atrasar projetos, algumas das nossas expectativas fiquem frustradas”, pondera.
, explica ele, quando mantemos a demanda e diminui a oferta, temos aumento de preços. Portanto, podemos nos deparar com custo maior dos techs. “Ainda temos demanda de produtos de tecnologia e podemos sim esperar queda na produção, como já acontece com a produção de chips, por exemplo. Essa é uma crise que não passou, ainda temos falta de semicondutores. No mercado chinês, o lockdown e o fechamento de indústrias também é um fator de redução da capacidade produtiva”, finaliza.
A crise de semicondutores começou ainda em 2021, provocada pela covid-19. Fabricantes na China e outros países da Ásia fecharam as portas diante das regras de restrição e a cadeia de produção foi afetada. Segundo a Associação Brasileira do Setor Elétrico e Eletrônico (Abinee), mais de 62% das empresas brasileiras que precisam do produto relataram queda. O item é usado em automóveis, smartphones, televisores, videogames e computadores, entre outros.
“A queda da produção tem sido mais em computadores, laptops e desktops. O efeito disso é reduzir a necessidade de chips, mas com o ajuste via produtividade por inteligência artificial, isso pode ajudar a reduzir o preço dos produtos”, defende Vivian Almeida, doutora em Economia e professora do IBMEC.