O dólar e as taxas futuras de juros dispararam nesta quarta-feira, 12, em meio a ruídos políticos e preocupações do mercado com o equilíbrio fiscal brasileiro após nova derrota do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O dólar chegou a bater R$ 5,42 e encerrou o dia cotado a R$ 5,4036 reais na venda, em alta de 0,82%. Este é o maior valor de fechamento desde 4 de janeiro de 2023, quando encerrou em 5,4513 reais. Desde aquela data — um dos primeiros dias do governo Lula — o dólar não encerrava acima dos 5,40 reais. Veja cotações.

+ Lula afirma que aumento da arrecadação e queda de juros permitirão reduzir déficit

No fim da tarde a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2025 — que reflete a política monetária no curtíssimo prazo — estava em 10,72%, ante 10,63% do ajuste anterior. A taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 11,34%, ante 11,192% do ajuste anterior, enquanto a taxa para janeiro de 2027 estava em 11,72%, ante 11,503%.

O que explica a reação dos mercados

As taxas futuras abriram a sessão já em alta no Brasil, após o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ter anunciado na terça-feira a decisão de devolver ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva trechos da Medida Provisória do PIS-Cofins que restringiram a compensação de créditos do tributo.

A ação de Pacheco foi vista como uma derrota para o governo e, em especial, para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que buscava com a MP cobrir perdas de arrecadação com a manutenção da desoneração da folha de pagamento. A expectativa era de que a MP fosse gerar aumento de R$ 29 bilhões na arrecadação em 2024.

Às 9h30, a divulgação de dados favoráveis da inflação nos EUA deu um impulso de baixa para os rendimentos dos Treasuries, com investidores elevando as apostas de que o Federal Reserve poderá iniciar o ciclo de corte de juros já em setembro.

O Departamento do Trabalho dos EUA informou que o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) ficou inalterado em maio, após ter subido 0,3% em abril. Nos 12 meses até maio, o indicador avançou 3,3%, ante 3,4% em abril. Economistas consultados pela Reuters projetavam alta mensal de 0,1% e anual de 3,4%.

Na esteira dos números norte-americanos, o câmbio e as taxas dos DIs chegaram a virar para queda, em meio à queda firme dos yields dos Treasuries. No entanto, o movimento durou pouco.

Fala de Lula

Nas mesas de operação, o mal-estar em torno da situação fiscal brasileira foi reforçado por declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante evento no Rio de Janeiro. Segundo ele, o aumento da arrecadação do governo federal e a queda na taxa de juros permitirão uma redução do déficit nas contas governamentais sem impactar os investimentos públicos.

“Estamos arrumando a casa e colocando as contas públicas em ordem para assegurar o equilíbrio fiscal. O aumento da arrecadação e a queda da taxa de juros permitirão a redução do déficit sem comprometer a capacidade de investimento público”, disse.

O fato de Lula vincular a redução do déficit ao aumento da arrecadação — e não a cortes de despesas — foi mal-recebido por parte do mercado. Além disso, circulava nas mesas avaliações de que Haddad, em função das derrotas políticas recentes, estaria enfraquecido.

Decisão do Fed também pesou

No início da tarde, as taxas futuras desaceleraram um pouco no Brasil, ainda que tenham permanecido no território positivo. Mas o anúncio da decisão do Comitê de Mercado Aberto (Fomc) do Fed, às 15h, deu novo impulso a desvalorização do real.

Apesar de ter mantido a taxa básica na faixa de 5,25% a 5,50%, como esperado, o Fed indicou que vê apenas um corte de juros em 2024 — e não dois cortes como vinha sendo precificado na curva norte-americana. Além disso, a instituição citou “avanços modestos” em direção à meta de inflação de 2%.

Após o anúncio do Fed, os rendimentos dos Treasuries reduziram as perdas, enquanto no Brasil as taxas dos DIs voltaram a acelerar as altas. Este movimento manteve a precificação, na curva brasileira, de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central não cortará a taxa básica Selic na próxima semana.

Quanto mais o Fed cortar os juros, pior para o dólar, que se torna comparativamente menos interessante quando os rendimentos dos Treasuries diminuem, o que tende a provocar uma desvalorização da divisa frente a outras moedas.

Mercado precifica que não haverá corte na Selic

Perto do fechamento a precificação da curva indicava 85% de chances de manutenção da Selic em 10,50%. Havia outros 15% de probabilidade precificados que o colegiado poderá aumentar em 25 pontos-base a Selic este mês — uma probabilidade que apareceu na última sexta-feira, em meio aos ruídos sobre a área fiscal.

Na terça-feira, a probabilidade de manutenção estava em 92% e havia outros 8% precificados no sentido de alta da Selic.

“O governo federal está pressionado para reduzir gastos, visto que o aumento de arrecadação vive um cenário mais delicado. A partir da derrota, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pode ter que repensar gastos para respeitar o arcabouço fiscal aprovado em 2023”, afirma Paulo Cunha, CEO da iHUB Investimentos.