30/03/2023 - 12:30
A tão esperada proposta de arcabouço fiscal foi divulgada pelo Ministério da Economia nesta quinta-feira (30), três meses após o start do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O texto vai agora para avaliação no Congresso Nacional. Entre as metas divulgadas, estão:
- zerar o déficit público da União em 2024;
- limitar crescimento de gastos até 70% da receita dos últimos 12 meses;
- atingir superávit primário de 0,5% do PIB em 2025;
- superávit primário de 1% do PIB em 2026;
- estabilização da dívida pública.
+ Haddad diz que novo arcabouço tem regras de autocorreção e sana erros de regras anteriores
+ Arcabouço fiscal: o que é e para que serve o conjunto de medidas
O que significam as novas regras da proposta?
O professor de Economia do Ibmec RJ, Gilberto Braga, comenta o que ocorre com os pontos listados:
- A nova âncora tem 6 pilares: zerar déficit público em 2024, o que significa que os R$ 230 bilhões de déficit previstos precisarão ser zerados nas contas públicas; para 2025, isso representa um superávit de 0,5% do PIB, que passaria a ter uma conta equilibrada, com arrecadação superior às despesas e isso permitiria expansão futura, de acordo com a regra geral. Em 2026 também se espera crescimento de 1% do PIB, garantindo uma expansão econômica a partir deste ano”, explica.
- Portanto, a partir de 2026, teríamos a dívida pública completamente estabilizada a partir desse processo; teríamos limites para menor crescimento da despesa pública, com limitador de aproximadamente 75% da variação do PIB funcionaria como ‘teto’: um limite máximo para expansão das despesas, assim como um piso para que essa despesa não precise ser reduzida, como ocorre na regra atual de ajuste fiscal.
Haddad falou que o atual teto de gastos passa a ter banda com crescimento real da despesa primária entre 0,6% a 2,5% ao ano, com Fundeb e piso da enfermagem excluídos dos limites. “Esse cenário coloca uma expansão menor do crescimento da despesa pública”, acrescenta o professor.
- Uma nova âncora tem projeção de crescimento da despesa pública, determinado de acordo com as variações em relação ao PIB. Esse crescimento da despesa primária permitiria que o governo, em tese, venha a cumprir promessas de campanha, como recursos do FUNDEB, piso da enfermagem, e outros dentro das regras obrigatórias.
“Será necessário esforço da ala economia para esclarecer para a sociedade e parlamentares na medida em que isso vai como PL ao Congresso. Vale que Haddad aproveite os primeiros momentos para que o governo tenha espaço de tempo para vender as vantagens da proposta, fazendo com que tenha aceitação do mercado e sociedade”, avalia Braga.
Gabriel Quintanilha, professor convidado da FGV Direito Rio, detalha o foco da proposta: a manutenção do superávit é o foco principal, garantindo que haja aumento da arrecadação suficiente para fazer frente às despesas públicas; e essas ficam limitadas em 70%: se o governo teve um superávit de R$100, ele pode gastar até R$70, garantindo resultado positivo. Ao mesmo tempo se permite maior gasto de acordo com a arrecadação.
“É um sistema interessante, garante responsabilidade com a gestão do gasto público, permite que haja investimento público e ao mesmo tempo gera previsibilidade de gastos ao mercado, o que gera equilíbrio relevante para a economia”, avalia Quintanilha.
Qual o desafio de Haddad?
“A virtude da proposta é harmonizar a ideia de que o governo tenha comprometimento com freios na despesa pública sem torná-la engessada, como a regra fiscal que vale hoje. É uma proposta criativa, que não se sabe se vai funcionar, mas não traz ajuste imediato, e sim de transição”, afirma o professor do Ibmec.
“De alguma forma, o impacto muito positivo que se tinha reduzido, e pode estar associada a complexidade e no entendimento da proposta de arcabouço do governo federal; precisará de mais tempo para o mercado decifrar o pacote”, finaliza Braga.
O que é arcabouço fiscal?
Para rever as regras de gastos do governo, a gestão de Lula propôs o arcabouço fiscal. “Trata-se de um conjunto de regras na área fiscal que o governo irá enviar ao Congresso, como Lei Complementar, com o intuito de substituir a lei desde 2016, no governo Temer, conhecida como Teto dos Gastos”, explica Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Órama e professor IBMEC-RJ.
A medida faz parte da cartilha de promessas de Lula-Alckmin, que citava como prioridade “revogar o teto de gastos e rever o atual regime fiscal brasileiro, atualmente disfuncional e sem credibilidade”.
Pela regra atual do teto de gastos, as despesas do governo só poderiam aumentar pela correção da inflação anual. Ou seja, mesmo que o país tivesse um crescimento de arrecadação, isso teria que ser revertido para o aumento do resultado primário, ou seja, para o pagamento da dívida pública.
Um conjunto de regras pensado como projeto de longo prazo, segundo Haddad
Equipe fez apanhado de todas as regras fiscais de países importantes, afirma Haddad
Meta de superávit tem banda para evitar ‘sangria desatada’, destaca Haddad