Final de ano é um bom período para as empresas de varejo. Este ano, com a Black Friday, Natal e a Copa do Mundo, a movimentação do comércio pode resultar melhor. Mas há um senão: como as partidas da seleção brasileira serão em dias úteis, alguns setores do comércio esperam uma desaceleração, apesar de a procura de alguns produtos, como roupas, alimentos, bebidas e televisores, ser um fator que pode aumentar as vendas. A Copa, afinal, é boa ou ruim para a economia brasileira?

Levantamento das empresas de cartão Stone e PagSeguro prevê perda de processamento das duas empresas de até R$ 7 bilhões. Para as empresas de maquininhas, os jogos podem gerar uma redução no fluxo de clientes em diversos segmentos de serviços e comércio.

“Isso é um pouco relativo porque as pessoas deixam de consumir naquele momento para consumir dobrado depois. O impacto no comércio é sentido, tem um menor movimento no momento dos jogos, mas não significa que as pessoas deixarão de comprar permanentemente aquele consumo. A prova disso é que muitas vezes no mês seguinte aos jogos o comércio volta com mais força”, afirma o economista Vinícius Machado.

Bares e restaurantes

Para os donos de bares e restaurantes, o cenário muda. A primeira semana de Copa do Mundo de futebol foi bastante positiva. Segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), o faturamento desses estabelecimentos evoluiu 30% em relação a uma semana ‘normal’. O mercado tem sido impulsionado também pelas reservas de empresas nos horários de jogos da seleção brasileira.

“Isso era algo que tinha sumido que voltou agora com força e de forma antecipada. Mesmo os restaurantes que, em outras Copas, reclamavam que o movimento ia apenas para os bares, estão faturando muito bem”, afirma Paulo Solmucci, presidente daAbrasel.

Torcendo do hospital, Pelé posta foto de sua primeira Copa

Estudo da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) aponta que a realização da Copa do Mundo de Futebol deverá injetar R$ 864,49 milhões no faturamento de bares e restaurantes do país. Esse valor equivale a um aumento de 8,3%, já descontada a inflação, em relação ao Mundial da Rússia, em 2018. Mas a conta indica uma queda de 2,6% em relação à Copa realizada no Brasil, em 2014.

Historicamente, nos meses em que são disputados os Mundiais de Futebol, o faturamento desse segmento costuma crescer 2,52%, em relação à média mensal dos meses imediatamente anteriores. Além disso, o fato de o campeonato estar sendo disputado no período de pagamento da primeira parcela do 13º salário favorece a expansão dos gastos neste ano.

“Uma das boas notícias deste fim de ano é que o aumento do movimento em bares e restaurantes para assistir aos jogos da Copa do Mundo vai ocasionar maior contratação de trabalhadores temporários para atendimento aos clientes extras desse período”, pontua o presidente da Confederação, José Roberto Tadros.

Conforme o economista da CNC Fabio Bentes, responsável pela apuração, a estimativa é que 7,7 mil vagas extras sejam geradas. O salário médio de admissão de funcionários temporários deverá chegar a R$ 1,5 mil. Nas Copas de 2014 e 2018, os salários médios de admissão foram de R$ 920 e R$ 1,2 mil. Entre as principais vagas, estão garçons e auxiliares, que respondem por 23,4% dos postos, cozinheiros, 15,6%, e atendentes de lanchonete, 15%.

Roupas, alimentos e bebidas

Consultados em todas as capitais brasileiras, os consumidores pretendiam gastar, em média, R$ 211,21 entre os principais produtos associados ao Campeonato de Futebol, mostra outro estudo da CNC. Roupas, alimentos e bebidas são os itens preferidos para as compras durante o período: 14,9% buscam vestuários temáticos para adultos e crianças e 14,6% planejam consumir alimentos e bebidas em casa. Apenas 3,8% dos consumidores consultados afirmaram que pretendiam adquirir televisores e smart TVs.

“As estimativas da CNC mostraram que o segmento de móveis e eletrodomésticos, em que se incluem os televisores, deverá responder pela maior parte do faturamento do comércio em razão do evento (34% do total das vendas), mas os juros altos e o alto nível de endividamento com inadimplência crescente tendem a limitar o consumo desses itens mais dependentes do crédito e do parcelamento”, aponta a economista Izis Ferreira, responsável pela pesquisa.

Nos canais de compra, 71,3% dos torcedores buscarão os itens da Copa nas lojas físicas, queda de 12,5 pontos, referente aos 83,8% apurados no Mundial de 2018. A intensificação das vendas pelos canais digitais e a facilidade de comparação de preços, porém, impulsionaram um crescimento na proporção de consumidores que pretendem comprar pela internet: 28,7%, ante apenas 16% na Copa passada.

O levantamento também mostra redução do volume de pessoas que planeja acompanhar as partidas em bares e restaurantes: 13,3% este ano, contra 19% na Copa de 2018. Com os preços dos alimentos e bebidas fora de casa aproximadamente 16% mais elevados do que em 2018, a maioria dos consultados indicaram preferência por acompanhar as partidas de casa (67,9%), enquanto 18,9% não assistirão aos jogos.

Comércio global

A Copa do Mundo é capaz de impactar o comércio global além da economia do país onde ela ocorre. Estudos mostram que o crescimento do país após ganhar a Copa do Mundo é significativo. “O Brasil cresceu 0,25% em média depois de ganhar a Copa. Isso se dá também por conta da maior visibilidade do país e das exportações”, explica o economista Vinícius Machado.

A Logcomex, empresa que desenvolve soluções de tecnologia que oferecem visibilidade e data analytics ao comércio global, classificou o ranking dos dez principais países selecionados da Copa do Mundo e responsáveis pelas importações brasileiras.

Os Estados Unidos lideram a lista com U$22,83 bilhões (R$122,3 bilhões) de produtos importados, seguido pela Argentina (U$8,32 bilhões), Alemanha (U$7,29 bilhões) e Coreia do Sul (U$4,29 bilhões).

“O ranking comprova que o maior impacto da Copa do Mundo no comércio global inegavelmente é o varejo, devido às importações de produtos, como camisetas de seleção e demais mercadorias relacionadas. Especialmente nesta edição, a proximidade da Copa com a Black Friday e o Natal vão aquecer o comércio”, destaca Helmuth Hofstatter, CEO da Logcomex.

Segundo Hofstatter, a expectativa é de que o maior controle inflacionário ao longo do ano permita que a demanda reprimida volte a consumir. “Desta forma, as pessoas que não têm gastado por conta da inflação poderiam gastar mais no momento da Copa”, finaliza.