18/07/2013 - 2:45
Competindo em um mercado que lida com a digitalização da forma de brincar e a concorrência direta com os produtos chineses, a Mattel foca o Brasil como destino estratégico. Em três anos, a operação nacional passou da sexta para a segunda posição global.
Entre brinquedos e licenciamentos, a Mattel distribui cerca de 3,2 milhões de itens em mais de 100 mil pontos de venda no País. Com nove fábricas espalhadas pelo mundo, a empresa descarta a construção de uma unidade por aqui, pois pretende continuar com seu formato de parcerias com fabricantes como Grendene, C&A, Malwee, Renner, Brinquedos Bandeirantes, Tectoy e outras empresas.
“Queremos ser o maior fabricante de brinquedos do Brasil”, afirma Ibarra
O mexicano Ricardo Ibarra comanda a operação nacional desde 2010. Engenheiro de formação, trabalhou 11 anos na Unilever e está há 13 na Mattel. Em entrevista à DINHEIRO, ele fala sobre a importância do mercado brasileiro e o desafio de desenvolver brinquedos para consumidores cada vez mais antenados. Confira:
DINHEIRO – O que representa o mercado brasileiro de brinquedos para a Mattel?
Ricardo Ibarra – O segmento cresceu mais de dois dígitos nos últimos anos. Isso está relacionado a uma forte expansão do varejo e é muito positivo para o País em função da quantidade de trabalho que está sendo gerada.
Desde que chegou ao Brasil, você elevou a Mattel da sexta para a segunda posição no mundo. A que se deve esse resultado?
A primeira coisa que eu destaco é a grande oportunidade que o Brasil ainda representa não só para brinquedos, mas para diversos outros setores. Ainda que o crescimento econômico venha acompanhado de subidas e descidas, mesmo assim ele continua bom. Não posso deixar de lembrar a nova classe consumidora, que representa cerca de 40 milhões de pessoas nos últimos anos.
Considerando a oportunidade que existe no Brasil, por que até agora vocês não instalaram uma fábrica no País?
O modelo da Mattel é diferente no mundo todo. O que procuramos fazer no Brasil é buscar o especialista em fabricar algo e fazer parcerias com ele. A gente trabalha com mais de 60 parceiros no País. Se eu preciso fazer calçados, vou buscar a melhor relação de preço e qualidade.
Muitos setores reclamam da alta incidência de impostos. Isso acontece com vocês?
Nenhum mercado tem as mesmas características. Cada um tem o seu e é necessário que nos adaptemos. Temos que jogar as regras do Brasil. Aqui, o imposto de importação é de 35% para as partes e 2% para peças inteiras. Muito diferente de outros mercados em que operamos. Em alguns mercados a taxa de importação não chega a 20%.
Já que a incidência de impostos para importação é tão alta, por que não ter uma fábrica aqui?
Temos nove fábricas no mundo todo, mas produzimos brinquedos em mais de 36 fábricas de parceiros. Como já disse, nossa estratégia é utilizar os especialistas em determinados segmentos e ter parcerias com eles. Eu não poderia ter a quantidade de produtos que tenho se eu mesmo gerenciasse a produção. Tenho milhares de itens, de uma boneca a uma bicicleta, de uma bola a um carrinho. É impossível administrar tantas linhas. Por isso, nosso modelo atual é adequado ao Brasil.
Qual é a meta em longo prazo da empresa para o País?
O principal objetivo nosso no Brasil é fabricar a maior quantidade possível de produtos. Das 200 milhões de unidades que vendemos, metade já é fabricada aqui. A outra metade é importada de outros lugares. A grande vantagem é que temos uma venda significativa. Somos líder no mercado brasileiro e parte do nosso objetivo é expandir em linhas que já atuamos, mas fabricadas no Brasil.
Recentemente, foi anunciada uma transferência de itens que vocês produziam na China para o Brasil. Ficou mais caro produzir por lá?
Fabricamos, sim, na China, mas nosso projeto de incrementar a produção no Brasil e trazer itens de outros países não tem nada a ver com essa mudança de custo que está vivendo aquele país. Ele teve início anos atrás, quando começamos a produzir localmente e estabelecemos parcerias. Tudo isso é parte de um planejamento. Queremos ser o maior fabricante de brinquedos do Brasil.
Com um modelo de negócios que terceiriza integralmente a produção vocês não correm um alto risco, principalmente em um momento em que se combatem condições de trabalho análogas à escravidão no País?
Fazemos pesquisas com o apoio de consultorias que nos ajudam a escolher os melhores parceiros. São parâmetros de qualidade da Mattel que devem ser seguidos como não empregar menores de idade, cumprir com a legislação local e garantir qualidade nas condições de trabalho. As auditorias são anuais e rigorosas.
Neste ano, o varejo de brinquedos passou por várias fusões e aquisições. De que maneira a concentração no mercado impacta nas negociações com vocês?
A concentração não é o ponto mais relevante do mercado brasileiro. O mais importante é que o varejo faça investimentos e que possamos levar nossos produtos ao maior número de consumidores. A classe C segue crescendo e é cada vez maior o desafio para atender esse mercado.
Ricardo Ibarra comanda a operação da Mattel no Brasil desde 2010
Vocês lançaram e produziram novos produtos em função da classe C? Também tiveram de mudar a comunicação para falar com esse público?
Passamos a produzir coisas mais específicas para atender aos diferentes consumidores no Brasil. Não é só questão de marca ou comunicação, mas também de distribuição. Uma coisa importante é que as crianças conheçam os produtos Mattel. Como a classe C não é regionalizada, está em todo o Brasil, é necessária uma comunicação massiva e específica.
Quais são as estratégias digitais da Mattel para lidar com uma criança cada vez mais antenada?
A criança de hoje é muito diferente da criança de dez anos atrás. O site da Barbie no Brasil é o mais visitado hoje pelas meninas. Elas estão no computador, no tablet. É um produto com o qual elas brincam, mas que vai além de um brinquedo físico somente. É um foco de atenção digital muito importante. Se você observar a indústria e as feiras realizadas no segmento, vai perceber brinquedos que possuem interação com tablets e equipamentos eletrônicos.
Como vocês desenvolvem ferramentas digitais para complementar os produtos?
Temos uma estrutura geral para todos os países, mas customizamos e desenvolvemos as versões brasileiras aqui. Mantemos uma página em português com promoções locais e com necessidades especiais do País. Logo teremos uma novidade relacionada a isso. E, claro, vamos ampliar parcerias com empresas de tecnologia.
Como vocês dialogam com os pais? Existem campanhas institucionais voltadas a isso?
Estamos com uma campanha forte neste sentido para que o consumidor conheça mais a Mattel. A mãe e o pai precisam saber que a Mattel dá a eles um selo de confiança. Procuramos mostrar para eles que nosso objetivo é que o brinquedo que produzimos ajude no desenvolvimento sadio da criança.
Fala-se muito sobre restrição de publicidade infantil. De que maneira você enxerga a questão de anunciar para crianças?
O primeiro ponto é que temos de mostrar o que o produto faz de verdade. É essencial informar e não prometer uma coisa que não será cumprida. Mas também entra uma parte de educação que foge de nosso alcance. Não podemos, com a propaganda, fazer o papel de educadores. Isso é uma responsabilidade dos pais e deve vir de casa. Essas crianças precisam receber ensinamentos relacionados à importância de um consumo consciente.
Quais são os planos da Mattel para a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016?
Teremos alguma coisa, mas não será significativo. Nossa prioridade no Brasil continua sendo Barbie e Hot Weels. Fizemos estudos, conversamos com os organizadores da Copa e da Olimpíada, mas não temos o expertise e a capacidade que eles exigiram. Eles pediram, por exemplo, algo na linha de pelúcias, mas não produzimos pelúcia.
A operação brasileira da Mattel exporta para outros países?
Temos muita coisa sendo exportada para vários mercados. Calçados é uma delas. Também exportamos produtos para festas na América Latina e em outros mercados. É que não entram como exportação da Mattel, pois são exportações das empresas que são nossas parcerias. Mas, para mim, é relevante do mesmo jeito que a marca esteja presente em outros países.
> Curta a DINHEIRO no Facebook