07/12/2022 - 8:00
O Brasil na safra 2021/22 alcançou o posto de segundo maior exportador de algodão do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Depois de ter se tornado um dos maiores importadores nos anos 90, o País volta agora ao hall dos maiores produtores e vendedores da pluma no mercado mundial. Os cotonicultores venderam ao mercado externo 1,68 milhão de toneladas no acumulado do ano comercial 2021/22, totalizando uma receita de US$ 3,208 bilhões, conforme dados do último levantamento feito pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) e divulgado nesta semana.
A China foi o principal destino das exportações brasileiras (455 mil toneladas) e representou 27% das vendas. Na sequência do ranking de maiores importadores do algodão brasileiro estão Vietnã (275 mil toneladas), Turquia (227) e Bangladesh (206). Indonésia ocupa a sexta posição, com 155 mil toneladas importadas. De acordo com o Relatório de Safra da Abrapa, de novembro, a área plantada de algodão deverá subir 1,3% na próxima safra, em relação à safra 21/22, totalizando 1,658 milhão de hectares. A produção é projetada em 2,95 milhões de toneladas, uma variação de 18%, ante a safra 2021/22. Até o final de novembro, além de São Paulo, Goiás, Mato Groso do Sul, Minas Gerais e Bahia haviam iniciado o plantio da fibra. As áreas de primeira safra começam a semear, em novembro, e as de segunda safra, em janeiro de 2023. Assim, o País consegue atender com folga as cerca de 750 mil toneladas médias do consumo interno e ainda colocar o restante à disposição do mercado internacional.
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Os dados do final do biênio 2021/22 refletem as mudanças no setor que levaram a grandes conquistas, segundo o presidente da Abrapa, Júlio Cézar Busato. Entre elas, a execução do projeto-piloto para a certificação oficial do algodão brasileiro, em parceria com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o que vai agregar ainda mais valor à fibra nacional. “Ampliamos o programa SouABR, que permite a rastreabilidade, da semente até o guarda-roupa e implantamos o projeto-piloto do ABR-Log, que está em processo de testagem do protocolo social, ambiental e de boas práticas, a serem seguidas pelos terminais retroportuários, garantindo a certificação socioambiental”, disse.
O ABR-Log tem o objetivo de melhorar a qualidade das operações para que o algodão chegue ao destino sem avarias, danos físicos ou sujo. O projeto é desenvolvido em parceria com a Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea).
Para Busato, esses resultados foram possíveis devido à ação conjunta de diferentes partes da cadeia produtiva, que contribuíram para manter a execução dos programas importantes geridos pela Abrapa, como o movimento Sou de Algodão e a iniciativa Cotton Brazil. Em seis anos de existência, o Sou de Algodão reuniu mais de 1.100 marcas parceiras que ajudaram a incentivar o uso da fibra junto ao consumidor brasileiro.
Já o Cotton Brazil promove o algodão brasileiro no mercado externo, o que ajudou a ampliar os negócios, sobretudo na Ásia, onde a Abrapa mantém escritório comercial.
Assim, Busato entrega agora a presidência ao agrônomo do Mato Grosso do Sul, Alexandre Pedro Schenkel, para o biênio 2023\2024, com a missão de manter toda essa evolução. “Precisamos, cada mais, vez falar com o público para apresentar essa matéria-prima nacional e que pode proporcionar além do conforto a responsabilidade socioambiental”, diz Schenkel.
Histórico
A produção de algodão no Brasil sempre foi grande até a década de 70. Mas era manual, rudimentar e com baixa produtividade, obtida através da agricultura familiar. O País chegava a plantar 4,2 milhões de hectares. Mas a precariedade do cultivo, especialmente na região Nordeste, era tanta que não resistiu ao surgimento de um pequeno inseto de 13 milímetros. Assim, o bicudo tirou o Brasil do mapa mundial do algodão, levando o país passar de maior produtor a segundo maior importador da pluma.
O trabalho dos produtores, inconformados com essa condição, com a ajuda da Embrapa ajudou a virar o jogo. Com ajuda de pesquisas e investimentos pesados em tecnologias e equipamentos, o Brasil hoje produz muito mais com uma área muito menor. “Colhemos o dobro de pluma que os norte-americanos no mesmo espaço. Enquanto eles tiram 790 quilos, nós tiramos 1.800 quilos por hectare. Só perdemos hoje para os australianos, que irrigam a plantação. Mas chegaremos lá”, afirmou Busato.