19/02/2022 - 16:00
Um estudo recente publicado na revista Agriculture, Ecosystems & Environment mostrou como o desmatamento na Amazônia pode afetar a diversidade da fauna local. De acordo com a pesquisa o desflorestamento surtiu efeitos negativos em abelhas nativas sem ferrão. A diminuição na diversidade da espécie afeta de forma direta a polinização de açaizeiros, uma vez que esses insetos são os principais polinizadores da palmeira.
O trabalho realizado por cientistas brasileiros e estrangeiros mostrou que em áreas com pouca cobertura vegetal, esses animais estão desaparecendo. Como consequência, houve uma diminuição de aproximadamente 80% no número de abelhas nas áreas mais desmatadas. O biólogo e pesquisador Alistair Campbell afirmou que “nas áreas com mais floresta, encontramos até 14 espécies de abelhas sem ferrão que visitaram as flores do açaí. Já nas áreas sem cobertura florestal, encontramos apenas três espécies”.
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As áreas avaliadas estão espalhadas entre os municípios paraenses de Belém, Acará, Abaetuba e Bacarena, onde foram encontradas 33 espécies de 16 gêneros de abelhas sem ferrão. Segundo os resultados obtidos, algumas abelhas são mais sensíveis à perda de vegetação e empobrecimento de áreas florestais. Com isso, quanto menor for o tamanho da abelhas, maior será o risco de desaparecimento em áreas desmatadas.
Um estudo anterior feito pela Embrapa e publicado na revista Neotropical Entomology, apontou que 90% da polinização do açaí é realizada por abelhas nativas da região amazônica. Para a bióloga e pesquisadora da Embrapa Márcia Maués, “essas abelhas dependem de áreas de vegetação natural, então a produção de açaí é dependente das nossas florestas que fornecem os polinizadores e resguardam o serviço de polinização”.
Os resultados obtidos com esse estudo devem soar como mais um alerta dos efeitos e consequências do desmatamento não só sobre a flora, mas também a fauna e toda a cadeia ecossistêmica. De acordo com a legislação ambiental, as propriedades rurais precisam manter 80% de áreas naturais, ou seja, as conhecidas Reservas Legais e Áreas de Proteção Permanente (APP). Segundo a pesquisadora Márcia Maués, “nas áreas manejadas de açaí, por exemplo, é importante manter o equilíbrio com outras plantas, pois são elas que vão servir de local de abrigo e alimentação para as abelhas”.
O produtor rural Waltair Beliqui possuí 10 hectares de açaizeiros no município de Santa Bárbara, região metropolitana de Belém (PA). O local é um exemplo de produção com manutenção da vegetação, garantindo a importante presença de agentes polinizadores e de acordo com ele, as abelhas sem ferrão visitam diariamente as flores da palmeira. Mas para estimular a produção, Waltair resolveu introduzir colmeias de diferentes espécies de abelha sem ferrão e a introdução das caixas trouxe resultado. De acordo com ele, o aumento de produtividade dos frutos ficou entre 30% e 40%. “Estou tentando mostrar a importância dessa prática aos vizinhos para que a gente mantenha as abelhas. É bom para o açaí, é bom para a gente, é bom para elas. É bom para todo mundo”, disse.