Nada melhor para uma grande frustração do que uma grande expectativa. E parece ser essa lógica que está balizando as relações do Brasil com os Estados Unidos, ao menos quando a agenda é a ambiental. A melhor e mais recente prova disso aconteceu na última segunda-feira 28 de fevereiro quando a ministra do Meio Ambiente e Mudanças do Clima do Brasil, Marina Silva, e o enviado especial para o Clima dos Estados Unidos, John Kerry, se pronunciaram aos jornalistas após uma hora de reunião para tratar do Fundo da Amazônia e assuntos correlatos. O que se ouviu dos dois foi muito blá-blá-blá e pouca ou nenhuma ação.

No resumo da ópera, o Brasil saiu do encontro com o mesmo que entrou: uma promessa carregada de palavras de efeito de que os Estados Unidos estão empenhados em ajudar o seu mais importante vizinho pobre do hemisfério Sul a cuidar de uma floresta de 5 milhões de km2, mas sem nenhum plano de ação assinado e muito menos alguma contribuição financeira para o fundo. Vale lembrar que há menos de um mês, o presidente Lula havia saído de um encontro com o chefe de Kerry, o presidente Joe Biden, com a promessa de um cheque de US$ 50 milhões. Nem mesmo esse foi apresentado dessa vez.

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Isso me faz lembrar de uma pesquisa recém-divulgada pelo Pacto Global da ONU no Brasil que mostra que a despeito de 78,4% das 190 empresas brasileiras ouvidas afirmarem que tratam a agenda ESG como estratégica para os negócios, somente 59,5% afirmam que alocam recursos financeiros para a área. Ou seja, tem uma parcela que corresponde aos 18,9 pontos porcentuais de diferença que falam que fazem, mas sem dizer como pagam para isso. Oras, e desde quando algo que é realmente estratégico para as companhias não recebe orçamento para ser viabilizado?

Discurso de compromissos ESG sem plano de ação e sem verba é greenwashing. E é exatamente isso que os Estados Unidos estão fazendo quando falam sobre a Amazônia. Por fora, um belo discurso. Por dentro, um vácuo bolorento. Se para diplomacia essa postura é ruim, mas administrável como fez a ministra Marina da Silva ao tentar pôr panos quentes para explicar a ausência de um acordo assinado com os Estados Unidos, para o planeta é irremediável. A Amazônia está chegando ao ponto de inflexão, o marco para que o processo de savanização se acelere, e sem recursos o Brasil não conseguirá reverter o prejuízo em curso.