Um dos princípios mais comprovados na política é que, nas democracias, governo que mantém a economia funcionando bem não perde eleição. Isso explica vários fatos.

O primeiro é a vitória do Syriza, uma coalizão de extrema esquerda nas eleições gregas, no domingo passado. O segundo é porque Aléxis Tsipras, presidente do Syriza, tornou-se primeiro ministro ao costurar um acordo com a extrema-direita.

E, finalmente, o terceiro é porque, ao longo dos últimos dias de campanha, Tsipras aparecia freqüentemente ao lado de um político espanhol, com os longos cabelos presos em um rabo de cavalo e nome de cantor de baladas românticas. Pablo Iglesias, líder do partido de extrema-esquerda espanhol Podemos, inspirou-se em Tsipras visando as eleições parlamentares na Espanha, marcadas para o fim deste ano.

É fácil entender o que esses três fatos têm em comum. A coalizão que venceu as eleições na Grécia levantou como bandeira o fim da austeridade imposta ao país pelas autoridades da Comissão Europeia. Mergulhada em uma recessão profunda desde a crise de 2008, a Grécia vivencia uma tragédia social, com taxas de desemprego chegando a 50%.

Não por acaso, a vasta maioria dos eleitores gregos, ainda que declarem ser favoráveis a permanecer na zona do Euro, quer um afrouxamento da política fiscal.

O problema é que as autoridades europeias, capitaneadas pela Alemanha e representadas pela chanceler alemã Angela Merkel, não querem nem ouvir falar do assunto. Com isso, a Europa está economicamente dividida.

De um lado, estão os países com as economias mais ricas e bem estruturadas, como Alemanha, França e Holanda, favoráveis a um aperto mais longo. E, de outro, países como Grécia, Espanha, Portugal e Irlanda, além de, provavelmente, a Itália, favoráveis a um afrouxamento das regras e para quem uma desvalorização do euro seria uma bênção.

Esses problemas econômicos devem manter a Europa em xeque por mais alguns meses, no melhor dos cenários. No pior, poderá haver uma ruptura do euro, com a saída dos países menos competitivos da união monetária. Qualquer que seja o cenário, o Brasil será prejudicado.

A crise na Europa reduz um importante mercado para commodities, especialmente petróleo, e também estimula as indústrias europeias a reduzir seus preços e exportar para o Brasil. Não por acaso, nos últimos dois anos, a balança comercial brasileira vem sendo crescentemente deficitária com a Zona do Euro, especialmente no segmento industrial.