A atual situação econômica, ainda marcada pelas sequelas da pandemia, contribuiu muito para que as lojas de produtos usados, os famosos brechós, ganhassem mais visibilidade nos últimos dois anos, não só entre os consumidores como também entre os microempreendedores.

Um levantamento do Sebrae mostra que desde o começo de 2021, 6,7 mil lojas de produtos usados foram abertas no país. A busca por roupas de segunda mão no campo de pesquisa do Google teve um aumento de 572% entre o primeiro semestre de 2019 e o mesmo período de 2022.

Quase 90% dos novos brechós são abertos por empreendedor individual 

Os dados apontam para uma tendência que pode se tornar uma fonte de renda, assim como é para Cristiane Seixas, que tem 39 anos e trabalha com brechós desde 2005.

Ela é proprietária de duas lojas em São Paulo, o Casinha Brechó, que foca em produtos contemporâneos, e o Brechó Boutique Vintage, que além de roupas e acessórios antigos, é também um antiquário.

Apesar de não abrir sobre o faturamento, Seixas afirma que o Casinha Brechó vende cerca de 2 mil peças por mês. “Temos 17 anos de mercado e muitas clientes assíduas, algumas praticamente desde o início, e também vemos a chegada do novo público, aquele que veio pós-pandemia, que está olhando para o brechó pela primeira vez”.

Gabriella Wolff, cofundadora do brechó DaZ Roupaz, em São Paulo, também conta que a loja costuma comprar aproximadamente 20 mil peças por mês, com venda de cerca de 90% das peças em até 72 horas.

Casinha Brechó
O Casinha Brechó vende cerca de 2 mil peças por mês (Crédito:Arquivo pessoal/Cristiane Seixas)

Como abrir um brechó?

Seixas descreve um passo a passo para quem deseja iniciar no ramo. “Para começar, é preciso definir o nicho que pretende atuar. São diversos nichos que podem ser explorados: infantil ou adulto, moda atual ou vintage, moda casual ou luxo, moda plus size e por aí vai”, começa ela, dizendo que a mistura demais dos segmentos não é recomendada.

O próximo passo é definir a forma de aquisição do estoque: consignados ou estoque próprio, conhecido também como “garimpos”.

Ela explica que no modelo consignado o trabalho é mais simples, o risco de perder o investimento em uma peça mal escolhida é zero. “Não vendeu, devolve para o dono”. 

Porém, o lucro é menor. “Normalmente 50% para cada, ou 60% para a loja e 40% para o fornecedor. Nesse modelo também é possível que o lojista renove o estoque com determinado prazo, o que é ótimo para lojas pequenas”.

Já no modelo de estoque comprado, Seixas afirma que o lucro é bem maior, pode passar de 4 vezes o valor pago na peça, porém a liquidez é baixa e o risco de não vender o produto é todo do lojista.

Em seguida, é preciso decidir se o espaço será físico ou virtual, ou misto. No espaço virtual, apesar de não haver gasto com aluguel, os investimentos em fotos, publicações, parcerias e anúncios deve ser maior. 

Quais as práticas de higiene?

Foi-se o tempo em que brechós eram associados a lugares com produtos empoeirados, gastos e sujos. É necessário investir na higienização das roupas e da loja física, se esse for o caso.

“Em geral, práticas básicas são higienização da peça assim que chegam ao brechó. Alguns negócios optam por higienizar a peça em um certo período de exposição e prova”, complementa Wolff, que indica que esse processo também pode ser incluído no valor final do produto.

Os produtos precisam de nota fiscal?

A legislação trata os brechós da mesma forma que lida com lojas de revenda. “Pagamos o mesmo imposto de quem revende roupas novas. Uma vez que compramos de uma pessoa física, nós devemos emitir as notas fiscais de entrada dos produtos e sua mercadoria fica em ordem para ser vendida”, acrescenta Seixas.

No entanto, as duas proprietárias sugerem um contador ou advogado tributarista para ajudar a entender a legislação aplicável na hora de abrir o negócio.

Quais os custos fixos?

De modo geral, os custos fixos vão depender do modelo de negócio escolhido. Para quem optar por um ponto físico, Seixas lembra que os gastos podem ser: aluguel, IPTU, condomínio, água, energia, telefonia e Internet.

Para lojas online, Wolff sugere que se considere despesas com tecnologia e domínio de usuário. “Também existem alguns custos fixos com materiais para as peças (etiquetas e sacolas, por exemplo), logística e expedição”, pontua ela. Marketing também é outra área a ser investida.

Seixas lembra de outros: contador, equipe de colaboradores e mensalidades de serviços, como alarme, tarifas bancárias, máquina de cartão, comodidades para clientes, material de higiene e manutenção da loja.

Como fazer a precificação das peças?

Sobre esse último tópico, a co-fundadora do DaZ Roupas explica que depende muito do modelo adotado pelo proprietário ou proprietária do brechó. “No nosso caso, sempre investimos muito em tecnologia e base de dados, para comprarmos sempre peças que sabemos que tem uma boa saída, por um preço justo”.