29/03/2022 - 11:17
Após algumas semanas de fritura relativamente discreta (para os padrões presidenciais), Jair Bolsonaro trocou, novamente, o presidente da Petrobras. Sai o general da reserva Joaquim Silva e Luna, entra o economista Adriano Pires.
A reação relativamente branda do mercado mostra que os investidores já estavam esperando a troca. Rumores da substituição circularam ao longo do dia. Quando a troca foi confirmada, as ações caíram 4,1% para a mínima de R$ 30,98. Porém, elas se recuperaram em seguida. Fechara a R$ 31,60, o que reduziu a queda para 2,17%.
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A baixa dos papéis da estatal foi suficiente para encerrar uma sequência de nove altas consecutivas do Ibovespa. O principal indicador do mercado acionário fechou com uma leve queda de 0,29%, a 118,7 mil pontos.
O que a troca de comando na estatal significa: mais do mesmo ou uma mudança de direção? Joaquim Silva e Luna chegou à Petrobras substituindo Roberto Castello Branco, que vinha fazendo uma gestão que agradou aos acionistas, mas irritou Bolsonaro.
Resumidamente, Castello Branco concentrou os esforços da estatal nas atividades de prospecção e extração de petróleo, saindo de negócios menos “tecnológicos”, como a venda de combustíveis e o refino. Ao fazer isso, a estatal conseguiu saldar boa parte de suas dívidas e voltar a pagar dividendos aos acionistas. Porém, a política de reajustar os preços dos combustíveis desagradou os caminhoneiros – uma das principais bases de apoio de Bolsonaro – e motivou a primeira troca de comando.
Silva e Luna chegou como uma incógnita. Além de ser militar, não era conhecido no setor. Porém, o general da reserva tinha feito um bom trabalho quando presidiu a empresa que controla a hidrelétrica de Itaipu, e manteve a estratégia de Castello Branco. Graças a isso e à alta dos preços do petróleo, a estatal registou um lucro recorde de R$ 106,67 bilhões em 2021. Só não foi o melhor resultado de todos os tempos para uma companhia aberta brasileira devido aos R$ 121,2 bilhões do resultado da Vale.
E Adriano Pires? O presidente indicado é um conhecedor profundo do setor de energia. É graduado em Economia, com mestrado em Planejamento Energético e doutorado em Economia Industrial pela Universidade de Paris XIII. Fundou a consultoria Centro Brasileiro de InfraEstrutura (CBIE), coordenando projetos e estudos para a indústria de gás natural, a política nacional de combustíveis, o mercado de derivados de petróleo e gás natural.
Mesmo com toda essa capacidade, porém, Pires sempre trabalhou como consultor e nunca dirigiu uma grande corporação. E sempre é bom lembrar que, ainda hoje e apesar de tudo, a Petrobras é a maior, mais internacional e mais estratégica das empresas brasileiras. Liderar uma empresa tão politicamente sensível a pouco mais de seis meses do primeiro turno das eleições presidenciais requer, além da competência técnica, capacidade empresarial e traquejo político.
Nos últimos anos, Pires tem sido um crítico de políticas de controle de preços. Todas as semanas, a CBIE publica sua estimativa de defasagem dos preços do petróleo. E na noite da segunda-feira (28), em suas redes sociais, ele publicou o seguinte: “Acho que o risco de intervenção na Petrobras antes das eleições é muito baixo por duas razões. A primeira é que a regulamentação e o compliance da empresa após a Lava Jato dificultam muito que tanto a diretoria quanto o Conselho de Administração tomem ações que possam prejudicar os acionistas. Segundo, se o presidente Bolsonaro interviesse na empresa, seria acusado de fazer a mesma política que Lula.”
Pode ser que a chegada de Pires coincida com um movimento de baixa dos preços internacionais do petróleo, que já começou. Na segunda-feira, as cotações chegaram a recuar mais de 7% devido às medidas de restrição anunciadas na cidade de Xangai, para conter uma nova alta do número de infecções pelo coronavírus. O barril de petróleo do tipo Brent recuou para US$ 112, menor cotação em três semanas. Um eventual arrefecimento dos conflitos na Ucrânia também poderá ajudar a baixar as cotações. Essa coincidência poderá ser usada como capital político por Bolsonaro.
Em todo caso, o exemplo é, novamente, ruim. Tanto Castello Branco quando Silva e Luna vinham executando corretamente seu trabalho. Eles vinham saneando as finanças da empresa, reduzindo a dispersão de suas atividades de modo a melhorar seu resultado e a gerar mais valor para o acionista. Trocar esses executivos apenas para fazer um aceno à base eleitoral mostra que os acionistas das estatais, sob qualquer governo, seguem com uma espada intervencionista sobre a cabeça.