Os presidentes dos Estados Unidos, Barack Obama, e de Cuba, Raul Castro, anunciaram nesta quarta-feira 7 a retomada das relações diplomáticas entre os dois países, suspensas desde 1961. A boa notícia, no entanto, mereceu uma ressalva de Castro: seria melhor, se o embargo econômico americano fosse suspenso. Desde que entrou em vigor, em 1962, o bloqueio já custou a Cuba US$ 116,8 bilhões, em valores atualizados.

A informação consta do último relatório anual sobre o bloqueio econômico, elaborado pelo governo cubano para a Organização das Nações Unidas (ONU). Parece pouco, mas é uma cifra significativa para um país cujo PIB foi de US$ 68 bilhões em 2011, segundo os últimos dados disponíveis do Banco Mundial. A Assembleia Geral da ONU já condenou o embargo 22 vezes, com o argumento de que ele desrespeita as leis internacionais e o princípio de livre determinação dos povos. “É difícil estimar o valor das perdas, já que Cuba é uma parte interessada no assunto”, afirma o cientista político Adriano Gianturco, do Ibmec/MG. “Mas, do ponto de vista teórico e experimental, é lógico que o bloqueio teve algum efeito sobre a economia cubana.”

Somente entre abril de 2013 e junho de 2014, o governo cubano calcula que o embargo americano causou perdas de cerca de US$ 7 bilhões. Somente o turismo, uma de suas principais atividades econômicas, estima um prejuízo de US$ 2 bilhões, devido às dificuldades impostas para a operação de agências de viagem, serviços ligados ao setor e os obstáculos à entrada de turistas e cruzeiros.

O setor de transporte em geral, muito ligado ao turismo na ilha, também é particularmente afetado. Segundo o relatório do governo cubano, as perdas, no período destacado, foram de US$ 540,1 milhões. Já a aviação civil, em especial, registrou prejuízo de US$ 275,8 milhões.

Balança comercial

O comércio exterior é o mais afetado pelas medidas impostas pelos Estados Unidos. A conta chega a US$ 3,9 bilhões no último período analisado. De acordo com o governo cubano, nesta área, o maior problema é a falta de acesso ao mercado americano, o que impede que os exportadores cubanos aumentem sua receita e seu mercado potencial. Apenas com charutos, cigarros e rum, tradicionais produtos do país, Havana estima que US$ 205,8 milhões poderiam ser acrescentados à balança comercial no ano passado, se não houvesse uma discriminação comercial nos Estados Unidos.

A rigor, o embargo americano proíbe apenas empresas da terra do Tio Sam de comercializarem com Cuba. Países como Espanha, França, Brasil e Venezuela, por exemplo, mantêm boas relações comerciais com a ilha. O primeiro ponto que estrangula a economia cubana é que, com a proibição, bancos americanos ou que operam linhas de crédito em dólar não podem atuar por lá, mesmo que seja por intermédio de filiais em outros países. Isso impede, por exemplo, que Cuba acumule reservas em dólar – em um mundo cujo lastro da maior parte das economias é a moeda americana. Além disso, isso dificulta o acesso a linhas de crédito de organismos, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional.

Outro problema é que, com o tempo, o bloqueio tornou-se mais rígido, e o governo americano passou a punir empresas de outros países com que mantêm relações comerciais de transacionar com Cuba. Um exemplo recente seria a multa aplicada ao banco francês BNP Paribas, de US$ 8,97 bilhões, por supostamente violar o bloqueio a Cuba.