15/06/2016 - 16:44
Para onde vai o dólar e o que esperar dos mortais que devem na moeda americana, os que desejam viajar ao exterior ou mesmo as empresas que exportam e importam? Os economistas odeiam responder a esta pergunta, mas há sinais importantes de mudanças na política cambial do governo Temer, agora sob a batuta da dupla Henrique Meirelles (ministro da Fazenda) e Ilan Goldfajn (presidente do Banco Central).
Um importante sinal na visão dos economistas e analistas do mercado de capitais é o discurso e a própria maneira de pensar de Ilan Goldfajn, muito mais afeito a uma livre flutuação da moeda do que intervenções de compra ou venda para fixar um valor ao dólar como foi feito no passado.
“Se eu soubesse como vai se comportar o dólar até o final do ano estaria comprando ou vendendo, não sou oráculo. O que dá para dizer é que o discurso do Ilan neste capítulo está na direção correta”, afirma o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central (BC).
Desde 2011, por uma série de razões principalmente externas, o dólar tem se fortalecido em relação ao real. Ano a ano, o comportamento foi o seguinte: 2011, alta acumulada de 12,6%; em 2012, +8,9%; em 2013, +14,6%; 2014, +13,4%.
O ano passado, contudo, o dólar deu um salto e acumulou um ganho nominal de 47% em relação ao real. Neste ano, 2016, a história é outra, uma queda de quase 11% até aqui. E alguma volatilidade nas últimas semanas, tudo temperado com um discurso revigorado do BC nas falas de Ilan Goldfajn.
Tripé econômico
Na última sexta-feira, 13, Ilan Goldfajn afirmou que o BC poderá reduzir sua posição cambial sem ferir o regime de câmbio flutuante e em ritmo compatível com o mercado. Segundo o economista, isso poderá ser feito com “parcimônia”. Ele destacou que o respeito ao câmbio flutuante é importante para o equilíbrio interno e externo.
Em seu discurso de transmissão de cargo, Ilan voltou a defender o “bom e velho” tripé econômico, que, segundo ele, precisa substituir a chamada nova matriz econômica, que permite certo afrouxamento fiscal. “Do lado do Banco Central, acompanharemos pelo lado do controle de inflação, que ajudará na retomada de crescimento”, disse.
Dois lados da balança
A discussão sobre câmbio, lembra Alexandre Schwartsman, agrada alguns mas irrita outros. No caso de pessoas físicas, comprar produtos importados ou viajar ao exterior pode ser um problema com tamanha imprevisibilidade. Por outro lado, os produtos brasileiros exportados ganham maior competitividade lá fora, o que explica as reclamações de alguns empresários com a queda do dólar neste ano.
Para o economista Luiz Octávio de Barros, do Bradesco, Ilan Goldfajn terá que decidir o que fará a partir de agosto, quando vencem os contratos de swap cambial, um instrumento usado na era Tombini (ex-presidente do BC) para evitar que o dólar subisse mais que o desejado. “Ele terá a opção de renovar esses contratos aos poucos ou zerá-los de uma vez”, disse Barros em recente entrevista ao portal da DINHEIRO.
Swaps
As operações de swaps, um instrumento sofisticado de intervenção financeira, são aquelas em que o BC oferece um contrato de venda de dólares, com data de encerramento definida, mas não entrega a moeda. No vencimento desses contratos, o investidor se compromete a pagar uma taxa de juros sobre o valor desses contratos e recebe do BC o equivalente a quanto variou o dólar naquele período. Em 2013 em particular, o governo da presidente afastada Dilma Rousseff usou muito dos swaps para estancar a alta do dólar, com grande impacto (mais de R$ 110 bilhões) de prejuízo para as contas públicas.
Para o Schawartsman, a relação dólar versus real vai depender de alguns fatores que fogem às mãos de Ilan Goldfjan. “O risco país, ainda alto, o próprio fortalecimento do dólar em relação a outras moedas lá fora e como vão se comportar os preços das commodities internacionais, particularmente aquelas que o Brasil exporta, são fatores de influência sobre o câmbio”, afirma. Além disso, explica, a diferença entre a taxa de juro básica no Brasil (Selic) e o juro nos Estados Unidos também terá papel decisivo no sobe-desce do dólar daqui para frente.