21/09/2021 - 7:20
O conglomerado chinês Evergrande tem 200 mil empregados e gera 3,8 milhões de empregos indiretos. É um império. E, como todos os impérios, tende a gastar demais e a viver de capital emprestado para sustentar uma estrutura cada vez maior. Com interesses que vão da água engarrafada a parques temáticos, o grupo deve cerca de US$ 305 bilhões a credores que estão cada vez mais convencidos da incapacidade da segunda maior incorporadora chinesa de honrar seus compromissos.
Listadas na bolsa de Hong Kong, as ações da Evergrande recuaram 10% na segunda-feira (20), após caírem mais de 19% durante o pregão. Desde o início do ano, a baixa acumulada dos papéis ronda 90%. E, na segunda-feira, a incerteza sobre o que pode ocorrer com um calote, moratória ou reestruturação forçada da dívida derrubou os mercados.
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Alguns analistas comparam a possível quebra do grupo chinês à falência do banco de investimentos americano Lehman Brothers, em setembro de 2008. Excessivamente alavancado e incapaz de honrar seus compromissos, ele sofreu uma intervenção desastrada das autoridades americanas. Isso provocou uma avalanche de prejuízos no sistema financeiro internacional, no que ficou conhecido como a crise do subprime.
No entanto, as situações são diferentes. O Lehman Brothers era da primeira divisão das finanças internacionais e tinha como contrapartes todos os bancos minimamente relevantes do mundo. A Evergrande é uma incorporadora chinesa, cujas atividades estão restritas a seu país. Mesmo assim, as consequências podem ser drásticas.
Graças aos maciços investimentos da China em infraestrutura, o setor de construção civil e pesada representa cerca de 25% do Produto Interno Bruto (PIB). A quebra do Evergrande desnudaria o principal risco apontado pelos analistas para a economia chinesa: o excesso de dívidas privadas e não consolidadas em um sistema financeiro paralelo, fora da jurisdição do Banco do Povo (o Banco Central chinês).
Isso provocou ondas de choque nos mercados e o Brasil não ficou isento. O Ibovespa caiu 2,3% e fechou a 108,8 mil pontos, menor nível do ano. O dólar subiu 0,8% para R$ 5,34 reais. Nos Estados Unidos, o índice S&P de 500 ações caiu 1,7%. Na Ásia, outra incorporadora, a Sinic Holding Company, de Hong Kong, interrompeu os negócios com suas ações após uma queda de 87% apenas no pregão da segunda-feira. Está valendo menos que os US$ 240 milhões de uma dívida que terá de ser honrada nos próximos dias.
No caso do Brasil, uma crise no setor de construção da Ásia tem impacto direto na bolsa. A ação mais negociada na B3 é a Vale, que produz minério de ferro e cujo principal mercado de exportação é a China. As cotações do minério brasileiro recuaram de US$ 200 por tonelada para cerca de US$ 110 por tonelada. Boa parte do ferro exportado pela Vale alimenta o apetite chinês por novas construções. Se as exportações perderem vigor, haverá impacto sobre as ações da Vale, o Ibovespa, a taxa de câmbio, a inflação e os juros. É fácil entender como a ameaça de quebra da gigante Evergrande pode ser catastrófica.