“Existe um risco claro de acidente nuclear”, declarou à BBC Rafael Mariano Grossi, embaixador argentino e diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea), agência ligada à Organização das Nações Unidas (ONU).

Grossi explica que, além de a Rússia ser uma potência em armamentos nucleares, a Ucrânia conta com 15 reatores nucleares, inclusive o de Chernobyl, responsável por um desastre ecológico em 1986 que matou, indiretamente pela contaminação radioativa, entre 9 mil e 16 mil pessoas, segundo a ONU. O cientista político ofereceu-se pessoalmente para negociar um acordo que evite incidentes que culminem com a liberação de radiação na Europa.

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A companhia nuclear ucraniana Energoatom disse nesta quarta-feira (9), segundo a Reuters, que a falta de energia elétrica na usina nuclear de Chernobyl, já sob comando russo, compromete o resfriamento dos reatores. A estatal alerta que há risco de disseminação de radiação à Europa e até à Rússia – o desastre de Chernobyl espalhou radiação a um raio de 100 mil km de Kiev.

“É uma situação única na história em que uma nação que opera 15 reatores nucleares está no meio de uma guerra de grande escala”, pontuou Shaun Burnie, especialista em energia nuclear do Greenpeace na Ásia Oriental, em entrevista à DW.

Na última sexta-feira (4), os russos tomaram a usina nuclear de Zaporizhzhia, no sul da Ucrânia. Um prédio do complexo pegou fogo durante o combate e gerou imediata reação da Europa, embora nenhuma radiação tenha sido vazada.

Além da dissuasão do presidente da Rússia, Vladimir Putin, de que o mundo veria “consequências nunca vistas na história” caso países da Otan interfiram na guerra da Ucrânia, a maior preocupação europeia concerne ao vazamento de radiação das usinas nucleares ucranianas. No entanto, nenhum ator político parece disposto a duvidar das ameaças do Kremlin.

“Penso que é um dos momentos mais assustadores em relação às armas nucleares”, afirmou a diretora-executiva da Campanha Internacional pela Abolição de Armas Nucleares (ICAN), ONG vencedora do Nobel da Paz, Béatrice Fihn, em entrevista à AFP. “É muito perigoso. Mal-entendidos podem se amplificar muito rápido, com uso de arsenal nuclear por acidente”.

Quais seriam as consequências de uma guerra nuclear?

Os cientistas apontam um cenário apocalíptico: uma nuvem de poeira e ferrugem tomaria conta de todo o planeta e levaria pelo menos um ano para se desfazer. A luz solar seria bloqueada e faria o planeta atingir uma temperatura de -40ºC.

Este cenário é chamado de “Inverno Nuclear” e comprometeria basicamente a agricultura de todo o mundo. Ainda haveria radiação espalhando-se pela atmosfera, o que poderia matar bilhões de seres humanos.

Segundo a Federal American Scientist, a Rússia possui 5.977 ogivas nucleares contra 5.428 dos EUA. Vale lembrar que a capacidade destrutiva das atuais armas nucleares é muito maior do que as que destruíram Hiroshima e Nagasaki na segunda Guerra Mundial. Apesar de o número ser incerto, estima-se que 140 mil morreram na primeira cidade e 74 mil na segunda.