O mercado financeiro iniciou esta terça-feira (30) com forte volatilidade. As ações europeias estão em baixa, com quedas de 1,5% em Londres e em Frankfurt, as principais bolsas da Europa. Esse também é o percentual de desvalorização dos contratos futuros do índice americano S&P 500 negociados no mercado europeu. O que está derrubando as cotações nesta manhã foram declarações do principal executivo do laboratório Moderna, Stéphane Bancel, de que a vacina desenvolvida pelo laboratório para a variante Delta mostrou uma “forte queda na eficácia” contra a variante Ômicron. Traduzindo, a nova cepa pode provocar ondas de contaminação equivalentes às causadas pela cepa Alfa, que deu origem à pandemia no início de 2020.

Vamos analisar as possíveis repercussões dessa notícia. Quando a pandemia surgiu, há quase dois anos, o principal problema era que não havia remédios para ela. Assim, a única solução para evitar uma mortandade global foram as medidas de restrição. Com as pessoas impedidas de sair de casa para trabalhar, a economia desabou, inúmeras empresas e empregos simplesmente evaporaram e o efeito disso ainda é sentido. Por exemplo com a alta do petróleo e a desarticulação de algumas correntes de comércio internacional.

Variante ômicron é nova ameaça à recuperação mundial

O surgimento de várias vacinas – Janssen, Pfizer, AstraZeneca, Coronavac – permitiu cancelar as restrições e fazer as economias caminharem para algo parecido com a normalidade. Não foi rápido o suficiente para salvar todas as vidas, todos os empregos e todas as empresas. Mesmo assim, é uma situação incomparavelmente melhor do que a anterior à vacina. Agora, a nova variante surgida na África do Sul ameaça fazer a situação regredir aos primeiros tempos da pandemia, com lock down e desabastecimento. Com vários agravantes, dentre eles a exaustão psicológica e econômica das pessoas.

A principal incerteza é com relação à letalidade da variante Ômicron. Os cientistas estão convencidos de que ela é bem mais contagiosa do que as anteriores. Então, há uma “esperança” de que, em função disso, ela seja menos letal, o que vai dispensar as autoridades de baixar novas medidas de restrição. No entanto, enquanto há apenas incertezas, os profissionais do mercado fazem o que sabem fazer: calcular a queda da certeza como um aumento do risco, que afeta profundamente as cotações de ações, títulos do governo e moedas. Essa é a visão de curto prazo.

Em uma avaliação de prazo mais longo, o fato de a Ômicron ter surgido na África do Sul está longe de ser uma coincidência. Vírus sofrem mutações. É uma simples questão de estatística. Pense em uma família onde nasce um milhão de filhos todos os dias. E cada um deles passa, no dia seguinte, a ter um milhão de filhos. Não demora muito para que o número de indivíduos se torne incontável. Dentre essa multidão surgem alguns mutantes, que podem ser mais contagiosos, mais letais, mais resistentes a vacinas. O pesadelo dos especialistas é que surja uma variante do coronavírus que seja ao mesmo tempo contagiosa, letal e resistente a vacinas.

A única maneira de reduzir as probabilidades dessa situação é vacinar muito. Vacinar todos, em todos os países, reduzindo a capacidade de o vírus encontrar hospedeiros, se reproduzir descontroladamente e mudar de maneira a ser mais letal. Por isso, enquanto houver países pobres praticamente sem acesso à vacina, o risco continua alto – e para todos, pois os vírus não conhecem dinheiro e posição social.