As bolsas na Ásia recuaram nesta terça-feira (2). Em Xangai, o índice SSE caiu 2,26%. Em Tóquio, o índice Nikkei 225 fechou em baixa de 1,42%. Na Europa, a queda foi de 0,60% no índice Stoxx-600, que reúne as principais ações da zina do euro. A razão é simples: a visita da deputada democrata americana Nancy Pelosi, Speaker of The House, à ilha de Taiwan.

Aos 82 anos, a deputada democrata é uma das lideranças de seu partido. E o cargo que ocupa é um dos mais importantes do Estados Unidos. No Brasil, o Speaker of the House seria uma mistura de presidente do Congresso com líder do partido do governo. Resumidamente, é a principal voz do Legislativo americano.

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Tudo o que o Speaker faz ou diz tem peso. Daí sua visita a Taiwan ser potencialmente problemática. Pelosi sempre defendeu uma abordagem dura dos Estados Unidos em suas relações com a China, devido não só à concorrência econômica como também às violações dos direitos humanos, que são recorrentes no país asiático. Ao visitar Taiwan, embora essa não seja uma visita oficial do governo americano, Pelosi está cutucando deliberadamente o dragão com vara curta.

Taiwan sempre foi um problema em Pequim. Foi um dos Tigres Asiáticos, que despontaram nos anos 1990 como economias de crescimento rápido, ao lado de Hong Kong, Cingapura e a Coreia do Sul. Geograficamente próxima da China, rica, dinâmica, ocidentalizada e democrática, Taiwan oferece uma comparação desagradável com sua vizinha gigantesca.

Diplomaticamente, a situação de Taiwan é complicada. Ninguém quer ser visto ao lado do pior inimigo do valentão da escola. Assim, o país não tem um assento na Organização das Nações Unidas (ONU) e só tem relações diplomáticas plenas com países menos importantes, como Haiti, Honduras, e algumas ilhas do Pacífico, além do Vaticano.

Isso não impede Taiwan de fazer negócios com o mundo todo. Porém, o procedimento padrão para tratar com quase todos os países (Brasil inclusive) é deixar as coisas a cargo de Escritórios Econômicos e Culturais. Eles funcionam como embaixadas, e vida que segue.

Porém, a visita de Pelosi colocou todo o mundo em alerta. Será a primeira visita de um Speaker of the House à ilha em 25 anos. Para piorar, a atitude diplomática americana tem sido ambígua: apesar de não apoiarem abertamente o governo de Taiwan, os Estados Unidos também não consideram o país uma “província rebelde”, que é a posição oficial de Pequim. Isso torna menos convincentes as declarações dos diplomatas de Washington, que dizem que a visita não representa uma posição do governo americano.

Ou seja, a perspectiva de que Pelosi e outros cinco deputados democratas passem a noite de terça (02) para quarta-feira (03) em Taipé, capital de Taiwan, e se encontrem na manhã da quarta com lideranças políticas enfureceu as lideranças chinesas, que podem lançar retaliações econômicas aos Estados Unidos.

A perspectiva disso em um cenário de desaceleração da economia e piora dos resultados das empresas derrubou as ações na Ásia. A explicação é simples. China e Estados Unidos são, ao mesmo tempo, concorrentes e complementares. As duas economias estão profundamente interligadas. Uma piora das relações diplomáticas, com potenciais retaliações econômicas de parte a parte, pode afetar muito os resultados das empresas.