O empresário e engenheiro baiano Carlos Seabra Suarez, que completou 70 anos em fevereiro, é um homem discreto. Discreto e rico. Um dos fundadores da empreiteira OAS nos anos 1970, Suarez sempre incursionou pelas áreas de infraestrutura e construção. Discreto, Suarez tem amigos. Muitos amigos. Entre eles Rodolfo Landim, presidente do Flamengo, e o consultor especializado em petróleo Adriano Pires.

Landim e Pires haviam sido indicados, respectivamente, para a presidência do Conselho e para a presidência da Petrobras, maior empresa brasileira e estatal responsável pela prospecção, exploração, refino e, até pouco tempo atrás, boa parte da distribuição de combustíveis no Brasil.

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Entre outros motivos, a amizade com Suarez levou a Diretoria de Governança e Conformidade (DGC) da estatal a questionar tanto Landim quanto Pires para os cargos. Essa diretoria foi criada na esteira das investigações do chamado “petrolão” (o escândalo de 2008) e da Lava Jato (o escândalo de 2016), para melhorar os procedimentos dentro da estatal. E o relatório entregue na semana passada pela DGC ao Ministério das Minas e Energia (MME), a quem a Petrobras se subordina, mostra que seria difícil aprovar ambos os nomes sem provocar choro e ranger de advogados entre os acionistas minoritários da petroleira.

Começando por Landim. Após uma longa trajetória no setor petrolífero, sua única atividade formal atualmente é a presidência do Clube de Regatas Flamengo. No fim de semana, prevendo a retranca adversária, Landim divulgou nota oficial desistindo da indicação. Justificou sua desistência devido aos recentes problemas envolvendo o time carioca. Porém, há comentários nos arredores do Maracanã de que a razão pode estar fora das quatro linhas.

Carioca e engenheiro pela UFRJ, Landim entrou na Petrobras por concurso em 1980 e permaneceu na estatal até 2006. Nesses 26 anos ele teve uma carreira brilhante. Foi superintendente de produção na região Nordeste, superintendente-geral na região Norte e presidiu a BR Distribuidora entre 2003 e 2006. Nesse ano, ele associou-se ao empresário Eike Batista e foi presidente da petroleira OGX e da OSX, além de comandar a mineradora MMX. Apesar de isso ser história relativamente antiga e de Landim ter processado Batista, a diretoria de conformidade da Petrobras achou mais seguro levantar restrições ao nome do executivo.

Agora tratemos de Adriano Pires. Diferentemente de Landim, ele trabalhou principalmente como professor da UFRJ e como consultor. Não passou pela Petrobras. Sua maior aproximação com o setor público foi um cargo na Agência Nacional de Petróleo durante apenas um ano, em 2001. Mesmo com essa biografia isenta, Pires foi vetado devido aos clientes de sua consultoria, a Companhia Brasileira de Infraestrutura (CBIE).

A empresa é contratada da Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás), ligada a Suarez. A página da CBIE na internet também lista como clientes a Comgás e a Cosan, de Rubens Ometto, as petrolíferas americanas Chevron e Exxon Mobil, a britânica Shell e até mesmo a Dommo Energia, nova denominação da OGX (aquela), além de prestar serviços para a Odebrecht (aquela outra) e a Braskem.

Entre os clientes de Pires está Suarez, que é amigo de longa data de Landim e empresário influente no setor e na política. Ninguém confirma oficialmente, mas até as rochas que se interpõe entre o leito do oceano e as jazidas do pré-sal sabem que Suarez defendeu os nomes de Pires e de Landim em Brasília, em dois dos lados da Praça dos Três Poderes.

O discreto Suarez sempre esteve – discretamente, é claro – perto do poder. Nos anos 1970, ele foi um dos fundadores da empreiteira OAS. O “S” da sigla é a inicial de seu sobrenome. Os demais fundadores foram Durval Olivieri, que respondia pelo “O”, e César de Araújo Mata Pires, conhecido como “dr. Araújo”, que entrou com o “A”.

Suarez e Olivieri se afastaram da OAS há vários anos. Mata Pires, o fundador remanescente, morreu em 2017 aos 63 anos, vitimado por um enfarte. Era casado com Tereza Magalhães, filha do falecido senador e governador da Bahia Antônio Carlos Magalhães. Daí mais de uma víbora dizer – sem nenhum fundo de verdade, claro – que OAS era a abreviatura de “Obras Arranjadas pelo Sogro”.

Venenos e peçonhas à parte, as desistências de Landim e Pires provocam problemas tanto para o ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, quanto para o presidente Jair Bolsonaro. Incomodado com a falta de flexibilidade do general Joaquim Silva e Luna, que resistiu bravamente a fazer política econômica com o preço dos combustíveis, Bolsonaro pretendia que a indicação do consultor tornasse as coisas mais azeitadas na Petrobras.

A frustração das indicações pode obrigar a estatal a manter Silva e Luna por mais algum tempo. E quanto mais perto das eleições, mais politicamente incandescente se torna a troca de comando.

O mercado sentiu o golpe. No início da tarde desta segunda-feira (4), as ações preferenciais da Petrobras estavam em queda de 1,4%, ao passo que o Ibovespa recuava 0,4%, muito em função da baixa das cotações da estatal.