O bitcoin e as demais criptomoedas importantes, como ethereum e dogecoin, estão batendo recordes. Após atingir um pico de cerca de US$ 58 mil em abril, a mais popular das criptomoedas viu suas cotações recuarem significativamente, caindo abaixo de US$ 30 mil em maio e em junho. No entanto, os preços se recuperaram em julho e iniciaram agosto na mesma trajetória positiva.

No início desta semana, as cotações do bitcoin superaram US$ 46 mil pela primeira vez desde maio. O mercado mais amplo de criptomoedas também procurava se recuperar das perdas maciças dos últimos meses.

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Na semana passada, o valor de mercado combinado das dez criptomoedas mais populares – incluindo ethereum e dogecoin – avançou US$ 300 bilhões. Atualmente, a capitalização total de mercado desses ativos está estimada em US$ 1,6 trilhão, quase o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil.

Como justificar essa alta? Em primeiro lugar, o mercado ganhou profundidade. O número total de contratos de derivativos em aberto, como opções e futuros, calculados pelo indicador Open Interest Bitcoin Futures vem aumentando nos últimos 30 dias. Isso revela que o mercado está se reaquecendo e que os volumes de negociação estão aumentando. Esse indicador inclui todos os contratos de compra e de venda que não foram liquidados.

Além do crescimento confirmado por esse número, outro indicador que comprova o reaquecimento do mercado é o Number of Active Entities. Ele se refere ao número de endereços ativos na rede como remetente ou destinatário, e inclui apenas transações bem-sucedidas. Em 31 de julho, ele atingiu os mesmos valores de janeiro de 2021. Mais endereços ativos podem indicar duas coisas, ambas positivas. Que há novos participantes no mercado, e que os participantes existentes estão fazendo mais negócios e assumindo mais posições. Ou seja, é possível perceber um crescimento tanto horizontal (mais participantes ativos no mercado) quanto vertical (os participantes que já estavam no mercado passam a fazer mais negócios do que faziam antes).

Outro indicador importante, a hash rate, mostra a retomada do mercado. Simplificadamente, a hash rate é uma estimativa de quanto da capacidade dos computadores ao redor do mundo está sendo empregada na mineração de bitcoins. Quando a hash rate sobe, quer dizer que há mais interesse dos mineradores e, portanto, mais interesse dos investidores.

A hash rate vinha caindo fortemente após abril, quando o governo chinês anunciou restrições ao mercado e proibiu os mineradores de atuar na China. No entanto, a retomada do indicador significa que os mineradores chineses impedidos de atuar já começaram a transferir suas atividades para outros locais.

Os números globais mostram que as criptomoedas ganharam tração nos últimos tempos. Os dados mais recentes mostram que há pouco mais de 11 mil moedas diferentes cadastradas no portal de negócios CoinMarketCap, um dos mais importantes da indústria. Há um ano, esse número estava ao redor de 6 mil, o que mostra um crescimento de 85%.

Mais importante que isso, esse mercado está deixando de ser um aquário para peixinhos dourados e se transformando em um tanque para tubarões. Segundo dados da plataforma de negociação de criptomoedas americana ChainAnalysis, em julho foram realizadas pouco mais de 40 milhões de transações com valor individual superior a US$ 1 milhão. Em julho de 2020 haviam sido 15 milhões de transações, uma alta de 167%. Com um detalhe: em abril, quando o valor do bitcoin bateu recorde, o número dessas transações se aproximou de 90 milhões.

Há mais motivos. Na quinta-feira passada, dia 5 de agosto, entrou no ar uma nova tecnologia do ethereum, denominada “atualização Londres”. Sem entrar em muitos detalhes técnicos, a mudança terá como consequências permitir mais estabilidade e velocidade do ethereum. O blockchain que sustenta o ether, segunda criptomoeda mais popular, vinha sobrecarregado pela explosão nos lançamentos de Non-Fungible Tokens (NTF), que são ativos digitais colecionáveis. Os NFTs são, em sua maioria, baseados no ethereum, e sua expansão forçou os limites da capacidade da rede.

As alterações de quinta-feira (que não são ligadas à cidade de Londres) visam corrigir muitos desses problemas, mudando a forma como as taxas de transação funcionam para que elas sejam mais previsíveis. O ethereum sempre foi imprevisível, a rede tem problemas de escalabilidade e as taxas de transação às vezes se tornam exorbitantes. As mudanças podem atenuar esses problemas. Comparando-se o blockchain com uma rodovia: é como se a alteração acrescentasse algumas faixas para desafogar o trânsito nos horários de pico e uniformizasse o valor do pedágio cobrado ao longo do trajeto. Com isso, espera-se mais interesse de participantes institucionais do mercado.