A Rússia vem enfrentando dificuldades inesperadas em sua invasão à Ucrânia. Militarmente, a resistência ucraniana vem surpreendendo. Os comandantes militares russos, frustrados por não terem capturado nenhuma cidade grande, estão recorrendo a táticas mais destrutivas e bombardeando alvos civis.

Economicamente, a Rússia também vem sentindo os efeitos colaterais. A lista de empresas estrangeiras que anunciou deixar o país vem crescendo. Os analistas começam a avaliar qual será o impacto para a economia russa.

+ Sanções contra a Rússia geram baixas nos mercados globais. Rublo desaba

O primeiro movimento veio do setor financeiro, com o desligamento de bancos russos do sistema de compensações internacionais Swift. Isso fez com que uma grande parte do sistema financeiro se tornasse acessível aos bancos ocidentais.

O britânico HSBC começou a reduzir suas operações com contrapartes locais, incluindo o VTB, segunda maior instituição financeira do país. As restrições provocaram uma corrida à divisão europeia do Sberbank, o maior banco privado russo. O Banco Central Europeu (BCE) advertiu que essa filial do Sberbank pode quebrar devido a uma corrida bancária.

No mercado de capitais, a Nasdaq e a Intercontinental Exchange (ICE), controladora da Bolsa de Nova York, suspenderam a negociação com ações de empresas russas listadas em seus pregões.

O êxodo mais evidente na economia real é no setor de petróleo. A BP, antiga British Petroleum, maior investidor internacional na Rússia, anunciou no domingo (27) que vai se desfazer de sua participação de 19,75% na estatal petrolífera Rosneft, um investimento estimado em US$ 25 bilhões. Isso deverá reduzir à metade as reservas de óleo e gás da empresa petrolífera inglesa.

Outra empresa a anunciar uma decisão semelhante foi a anglo-holandesa Shell. Na segunda-feira (28) a empresa disse que vai vender sua participação de 50% em uma das principais fábricas russas de Gás Natural Liquefeito (GNL). A estatal petrolífera norueguesa Equinor também está estudando fazer o mesmo. E outras empresas como a francesa Total e a americana ExxonMobil, vem sendo pressionadas por grupos de acionistas minoritários a tomar decisões parecidas.

O impacto sobre o preço do petróleo permanece, com o barril do tipo Brent, referência para o mercado europeu e para a Petrobras, sendo negociado acima de US$ 100 na manhã desta terça-feira (1). O petróleo do tipo West Texas Intermediate, referência para o mercado americano, está em US$ 98.

Qual o impacto disso para o Brasil? A Rússia é um grande fornecedor de gás e petróleo para a Europa. Sem o fornecimento, além da alta dos preços, haverá uma escassez global do produto. Como as cotações permaneceram relativamente baixas durante toda a década passada, os investimentos na prospecção e localização do petróleo diminuíram.

Essa é uma atividade de ciclo muito longo. Entre a suspeita da existência de uma jazida de óleo e o abastecimento do primeiro automóvel podem se passar de sete a dez anos. Por isso, uma retirada das empresa ocidentais da Rússia, com uma consequente redução dos investimentos, poderá tornar o mercado escasso por bastante tempo, elevando as cotações do petróleo para a Petrobras.

As restrições poderão ser tão disruptivas para o setor de petróleo como foi a pandemia do coronavírus para o setor de semicondutores, mantendo os preços elevados e pressionando a inflação ao redor do mundo, Brasil inclusive.