26/04/2022 - 8:30
A menção a azeite de dendê remete imediatamente às baianas em trajes típicos vendendo seus quitutes à beira-mar. No entanto, a importância dessa gordura vegetal vai muito além do sabor do acarajé. Internacionalmente conhecido como óleo de palma (“palm oil”), o dendê é a principal gordura vegetal do mundo em termos industriais. É usado na elaboração de pães, doces e biscoitos, além de servir para cosméticos, sabonetes e xampus.
Gigantes como a Unilever compram centenas de milhares de toneladas todos os anos. O principal exportador é a Indonésia. Que anunciou, na sexta-feira (22), a suspensão das exportações do dendê por tempo indeterminado.
Indonésia confirma que óleo de palma bruto está fora de proibição de exportação
É fácil entender o motivo. A Indonésia tem 273 milhões de habitantes. É um país formado por alguns milhares de ilhas e mais populoso do que o Brasil. A maioria da população é muçulmana e de baixa renda. O dendê é tão importante na alimentação por lá como o arroz e o feijão são por aqui. Quando os preços dispararam no mercado internacional, a inflação na base da pirâmide subiu, e o governo de Jacarta suspendeu as exportações para preservar a renda das pessoas.
Pode parecer apenas uma curiosidade, mas essa é uma daquelas notícias com implicações globais. Gorduras vegetais são uma parte importante da alimentação de massa. E esse é um mercado gigantesco, mas ajustado. Ou seja, não há grandes excedentes. E a flexibilidade para aumentar a produção no curto prazo é restrita.
Os preços do óleo vegetal já subiram mais de 50% nos últimos seis meses, devido à escassez de mão de obra na Malásia a secas no Brasil, na Argentina e no Canadá, que são os maiores produtores e exportadores de óleo de soja e de óleo de canola. E em 2022 o mercado seguiu pressionado, pois o conflito na Ucrânia comprometeu a produção de óleo de girassol. Tudo isso pressionou os preços, sendo que o dendê da Indonésia foi o movimento mais recente.
Qual a importância disso? Bastante. A inflação nos alimentos, especialmente em itens de difícil substituição, é especialmente difícil de combater. É possível trocar arroz por macarrão, mas substituir azeite por vinagre fica difícil. Assim, a alta nas gorduras vegetais, itens de pouco glamour, tende a pressionar os preços.
Isso não passou desapercebido para o Fundo Monetário Internacional (FMI). Na mais recente reunião, realizada no fim da semana passada, o Fundo revisou para pior suas expectativas econômicas. O crescimento global deverá desacelerar de uma estimativa de 6,1% em 2021 para 3,6% em 2022 e em 2023. Ou seja, uma redução de 0,8 ponto percentual para 2022 e de 0,2 ponto percentual para 2023.
O FMI também avalia que os aumentos nos preços das commodities elevaram as projeções de inflação para 2022. Agora, a expectativa é de 5,7% nas economias avançadas e de 8,7% nos países emergentes e economias em desenvolvimento. Isso representa uma alta de 1,8 ponto percentual em relação à estimativa do início do ano para os países desenvolvidos, e uma alta de 2,8 pontos percentuais para os emergentes. E é bastante provável que as próximas revisões sejam para pior.