Na tarde da segunda-feira (21), o discurso de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, surpreendeu os mercados globais. Suas palavras elevaram os juros e derrubaram a bolsa nos Estados Unidos e fizeram o dólar se apreciar em relação a várias outras moedas.

Powell comentou a decisão, tomada na semana passada, de elevar os juros nos Estados Unidos em 0,25 ponto percentual. Foi a primeira alta desde 2019. Na prática, os “Fed funds”, que equivalem à nossa taxa Selic, agora estão em 0,25% ao ano.

Fed está aberto a aumentos mais rápidos dos juros se inflação elevada persistir, diz Powell

A expectativa dos analistas era de que o Fed realizasse mais seis elevações desse tamanho nas outras seis reuniões do Federal Open Market Committee (Fomc), equivalente americano do Copom, que devem ocorrer neste ano. Se isso se confirmasse, os juros referenciais dos Estados Unidos encerrariam 2022 a 1,75% ao ano, fazendo com que a política monetária americana voltasse ao “normal” após ficar em zero devido à pandemia.

Porém, Powell foi duro em relação à inflação que, segundo ele, prejudica uma recuperação econômica forte. “O mercado de trabalho está muito aquecido e a inflação está muito alta”, disse ele. Powell reforçou que os juros vão continuar a subir até que a inflação esteja sob controle.

E, na maior surpresa para o mercado, ele disse que os aumentos das taxas podem ser ainda maiores dos que os 0,25 ponto percentual por reunião se necessário. “Tomaremos as medidas necessárias para garantir um retorno à estabilidade de preços”, disse ele. “Se for apropriado agir de forma mais agressiva, elevando os juros em mais de 25 pontos base em uma ou mais reuniões, nós o faremos. E precisarmos adotar uma postura mais restritiva, faremos isso também”, afirmou. Um ponto base é igual a 0,01%.

As declarações de Powell fizeram os especialistas passarem a esperar um aumento de 50 pontos-base, ou 0,5 ponto percentual, na próxima reunião do Fomc, agendada para os dias 3 e 4 de maio.

A explicação para esse endurecimento de tom é simples: a inflação americana está alta demais. Nos 12 meses até fevereiro, dado mais recente disponível, o Consumer Price Index (CPI), ou índice de preços ao consumidor, indica uma alta de 7,9% nos preços.

Um índice mais estrito, o núcleo do Personal Consumption Expenditure (PCE), que exclui os preços mais voláteis dos alimentos e da energia, está em 5,2% nos 12 meses até janeiro. A meta de inflação do Fed é 2%.

Em seu discurso, Powell atribuiu a alta da inflação a dois motivos. O primeiro foi a disparidade entre a oferta e a demanda por serviços. A economia americana ainda não voltou à forma anterior à pandemia, e há menos prestadores de serviços. Isso eleva os salários, e esse aumento de custos é repassado aos preços. O presidente do Fed admitiu que muitos economistas e o próprio BC americano “subestimaram amplamente” quanto tempo essas pressões iriam durar.

Powell também falou da invasão russa da Ucrânia, que aumenta os preços do petróleo e os custos globais, pressionando a inflação. Todos esses fatores fizeram os especialistas refazer suas contas, processo que deverá seguir influenciando os mercados nos próximos dias.