23/02/2022 - 11:28
Se o cenário de quedas em torno do dólar continuar no mesmo ritmo, a moeda norte-americana pode fechar o dia abaixo dos R$ 5 já nesta quarta-feira (23). As negociações do dia abriram em recuo, com o mercado doméstico se mostrando bastante atrativo para os investidores de olho em juros mais altos e no aumento do preço das commodities – às 11h a cotação do papel chegou a R$ 4,99.
Desde a virada do ano, a taxa de câmbio já caiu 9,36% em relação ao real, saindo de R$ 5,66 para R$ 5,01 nesta terça-feira (22). O valor é o menor desde 30 de junho, quando fechou o dia valendo R$ 4,97.
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As commodities, responsáveis pela expansão da economia brasileira durante boa parte dos governos Lula e Dilma, voltam a figurar como as responsáveis pelo arrefecimento da moeda norte-americana. Do início de janeiro até aqui, as matérias-primas já subiram 13,5%, segundo dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
A explicação para isso é simples: se as commodities ficam mais caras em dólar, mais forte fica o Real, uma vez que os países exportadores recebem mais divisas por essas vendas. Para Rodrigo Lima, analista de investimentos e editor de conteúdo da Stake, a inflação norte-americana, que fechou 2021 em alta de 7%, ajuda a pressionar o preço das commodities.
“Tradicionalmente, as commodities são um hedge [proteção] para a inflação e elas tendem a performar melhor nesses momentos”, apontou.
Vale lembrar que o retorno da taxa básica de juros, a Selic, para o patamar dos dois dígitos (atualmente em 10,75%) torna os investimentos no Brasil mais atrativos, isso sem contar que, olhando para os mercados emergentes, o mercado nacional passa por um momento de certa estabilidade. O analista da Stake lembra que a Rússia enfrenta uma situação complicada – na disputa por poder contra Estados Unidos e Otan na crise da Ucrânia – e a China passa por problemas regulatórios.
“O Brasil parece estar na fase final do seu aumento de juros, com a Selic a mais de 10%. Se Estados Unidos e outras economias vão começar a aumentar juros, a gente já parece que está chegando ao final do ciclo. Uma vez que você já chegou ao final do ciclo, o mercado já descontou o suficiente essa subida de juros nos preços dos ativos e o pessoal acaba investindo mais no Brasil por conta disso”, avalia Lima.
Até quando o dólar vai seguir abaixo dos R$ 5?
Na análise dos economistas que compõem o Relatório de Mercado Focus, organizado semanalmente pelo Banco Central, o dólar não ficará abaixo dos R$ 5 até o fim do ano. O último levantamento, divulgado na segunda-feira (21), aponta que a moeda norte-americana deve fechar 2022 valendo R$ 5,50 e deve ficar em R$ 5,36 na projeção para 2023.
Pesam neste entendimento dois pontos: a política monetária do Federal Reserve (Fed), que deve anunciar um aumento nos juros dos Estados Unidos já no mês que vem, e as eleições brasileiras.
O analista da Stake avalia que tudo vai depender do quão hawkish (intenção de subir) o Fed será nessa alta de juros prometida para controlar a inflação norte-americana. “Quando você sobe os juros, a sua moeda tende a se valorizar. A taxa de juros nada mais é do que o custo do dinheiro”, comentou Lima.
COO da Travelex Bank, João Manuel Campanelli Freitas observa que o dólar seguirá neste ritmo até que os conflitos no leste europeu sejam resolvidos.
“No Brasil, a forte demanda de entrada de recursos na aquisição de ativos e compra de papéis com taxas de juros real elevada, após o último ajuste realizado pelo COPOM, faz com que tenhamos um dia em que a barreira dos R$ 5,00 será quebrada, atingindo um novo ponto que pode chegar a R$ 4,94, nível pré-pandemia. Esse cenário de recuo do Dólar deve permanecer até que tenhamos estabelecidos os rumos do conflito no leste europeu, em que os Estados Unidos têm tido uma participação importante”, analisou Freitas.